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06/12/2008

Crocodilos

A impossibilidade de impor minha vontade mina minha confiança. Em mim. Não uma vontade prepotente ou uma vontade que dita, mas um desejo suave, leve... de que as coisas sejam mais leves... de que as pessoas não sejam essa eterna metralhadora inútil que ataca tudo e todos e, de verdade, não faz nada, não tem crédito... ou tem crédito para meia dúzia de bobões.... não sei como determinadas pessoas deitam a cabeça no travesseiro e dormem (dormem?) diante de tanta besteira, diante da própria incompetência, valendo-se apenas de oportunismos políticos.
Criticar alguma coisa pode ser válido, mas quando se critica o mundo.... há algo errado, muito errado. É verdade que o pavão não vê sua cauda (por isso confio mais em crocodilos, esses sim poderosos e apolíticos). O homem é uma calamidade, um aborto da natureza, uma inconseqüência divina. Quero sempre (mais e mais) sair de perto de tudo isso e renascer em outro lugar, numa outra dimensão, numa vida e história limpas, honestas...

21/09/2008

falar a ti

preciso muito de falar. preciso que me escutes com atenção e faças cafuné na minha cabeça já quase totalmente perdida. preciso de um pouco mais da tua atenção, da tua ajuda, da força que trazes em ti, essa coisa gigante, essa coisa que me acalma, me faz dormir um mínimo necessário. preciso dormir de alguma maneira ou começarei a raciocinar de maneira ainda mais rarefeita, ainda mais pueril. o mundo não me aceita mais desde que tudo aconteceu, desde que esse processo se iniciou há muito tempo atrás e devo ter errado nos tratamentos ou atitudes que deveria ter tomado. em algum momento tudo se perdeu, não existe dúvida e tenho uma idéia muito aproximada de quando deve ter sido, mas não tenho certeza (nem jamais terei). resta caminhar e pedir que esse caminhar seja lento, seja pouco aguardado, que não se guardem expectativas de mim. nada. que se perceba tão somente que estou aqui, que estou seguindo - ainda que amparado em meus desequilíbrios, ainda que claudicante, ridiculamente claudicante.

17/09/2008

Soslaio

o tempo melhora. pára de chover. isso é bom, detesto chuva (embora goste de frio). acho as pessoas um tanto frias, mas pode ser impressão minha, pode não ser nada disso. existe muita diferença entre o que nos parece, o que achamos e o que realmente é. são as surpresinhas da vida, algo assim como apostar no cavado errado rsrsrs. nada é impossível quando estamos no centro da mesa jogando e os olhares invariavelmente viram-se para nós - além dos de soslaio.

rever sempre

vou escapulindo pelos contornos... ou melhor, pelos entornos daquilo que deveria ser. como na longa conversa com uma amiga agnóstica e que me explica pacientemente o que é ser agnóstico. essas impressões todas me soam distantes como a morte de alguém que não conheci. o distanciamento de possibilidades que são outras, não são as minhas porque minha vida é somente minha, porque é algo muito pessoal, muito particular. essa vida que você vive, desfruta e saboreia não é a mesma minha como não é a do outro. já escrevi que a vida não é um riacho único onde entramos e saímos: não! a vida são pequenas lagoas que se comunicam entre si ou não, lagoas que nascem e secam sem acontecer o mesmo com todas e daí essa idéia equivocada de que "a vida está aí igualmente para todos". não, não é uma explicação difícil ou metafísica. é justamente o contrário. o que faço - ou tento - é justamente coisificar o conceito para lidar melhor com ele, para entrar e sair sem dor, para ver a saída dos outros entendendo que simplesmente uma lagoa rasa (como todas) secou. e quando você insiste na discussão do tempo eu reafirmo: não é como inventamos. um exemplo mais correto seria dizer que umas lagoas são mais profundas - e demoram mais a secar - e outras mais rasas ou breves diante de um sol inclemente. porque o sol, ainda que esteja se apagando, é infinito em seu calor do nosso ponto de vista. não sei se você me percebe bem ou se te incomodo com um pensamento um tanto enviezado... talvez um pouco menos comum e, somente por isso, aparente ser mais estranho. te reafirmo que não é.

16/09/2008

a longa jornada para o fim

chove. chove de verdade, não há metáfora sobre o que chove em mim há algum tempo. chove a chuva (em mim) onde não existem guarda-chuvas e chove a chuva lá fora onde sim, estes existem. me molho de uma maneira ou de outra. o tempo passa, a hora das decisões se aproxima e novamente sinto-me incapaz de decidir uma coisa grande, uma coisa que vai além de mim, que é o mesmo que decidir sobre a vida ou a morte do outro. e que outro! espero o silêncio e o escuro como quem espera o filho que vai nascer. aguardo quieto, sem maiores demonstrações emocionais aquilo que me é somente emoção. procuro me esconder em todas as drogas que alucinem, mas é um engano, não existe nenhuma droga que afaste a realidade, que faça esquecer o que fui, o que sou e, principalmente, o que deverei ser. olho em torno buscando o caminho mais seguro, onde o granizo não alcance e não vejo nada. campinas apenas. só me resta aceitar tudo de bom gosto, de bem com o que deve ser, sabendo que a hora de ser indestrutível é minha, só muito depois estarei liberto. aliás, não creio nem quero estar liberto. não acredito nas benesses do passar do tempo, não acredito nesse esquecimento fácil que falam por aí. estou à frente e acima dos possíveis acalantos dos que pretendem enganar - ainda que com boa vontade. (continua)

15/09/2008

nossa utopia

chove. nuvens pesadas num céu completamente cinza, um cinza muito feio. deprimente. termino de reler "a insustentável leveza" porque repito essa leitura sempre. outros livros me aguardam, virgens. não tenho vontade nem cabeça para ler nada. busco solução, busco uma opção, uma forma de escapulir de tudo como se fosse possível, como se tivesse o direito. hoje é meu futuro. amanhã será unicamente queda. essa queda aguarda-se da mesma maneira com um dia pensamos em subir. não temos sempre a consciência que os movimentos são iguais: para cima ou para baixo, para um lado ou para o outro. tudo igual. minha nave louca se embrenha entre nuvens e o vento forte me faz chorar. choramos lágrimas que não temos, corremos atrás de possibilidades que não existem, que são brincadeira de criança, sonhos infantis. queremos, no fundo, continuar infantis por todo o tempo. precisamos nos afastar de toda a dureza da vida adulta, de todas a conseqüência. essas conseqüência não vêm à partir de algo que fizemos, ao contrário, somos tragados exatamente pelo que não fizemos. a não ação tem o mesmo peso do excesso de ação, preciso dizer isso, gritar isso o tempo todo porque quase não me escuto mais, porque o desejo é um lenda (e portanto, utopia) que não entendemos bem. num mundo de perdas, resta somente, perder-nos para nós mesmos.

14/09/2008

retorno

inacreditável ficar um ano sem uma linha escrita aqui simplesmente por esquecimento de uma senha. são senhas demais para uma cabeça carcomida como a minha lembrar. são números, letras, combinações de letras e números, expectativas do que pode ser isso, uma situação sufocante, fóbica, labiríntica. informação demais quando, na verdade, desejo apenas comentar coisinhas bobas, não quero fazer campanhas contra ninguém, não quero provocar nada nem ninguém, quero, antes, contar as coisas que estão acontecendo. ou me acontecendo.
Coisas que rolam simplesmente como o passar eterno de um riacho ainda não descoberto pelo homem. é nesse ponto que estou (ou quero estar) no crepúsculo, onde riachos secretos correm para um mar não tão salgado, não tão concorrido. porque nem o mar nem nada da vida deve ser tão concorrido, não há nada que não seja eterno dentro da nossa vida. e isso basta.

esqueci

Estava sem escrever há muito tempo por aqui porque, como sempre, esqueci a senha e o loguin. esqueço sempre tudo, não estou começando agora, sou puta velha no ramo do esquecimento. Não esqueço a cabeça porque ela é pespegada em cima do pescoço.

31/10/2007

Buscas objetivas em pessoas plenas e concretas

O que acontece, me parece, é que existem versões de vida. Essas versões vêm impressas no DNA da alma e não podemos fugir impunemente nem mudar as coisas tais como elas são. Se eu pudesse mudaria tudo, a própria concepção de vida e suas intrincadas maneiras de experienciar necessidades e convenções do que é normal para o que não é. Não, não criaria um mundo à minha imagem e semelhança, mas um mundo onde as coisas fossem mais facilmente percebidas, onde não houvesse necessidade de tantas artimanhas existenciais para o convívio. Nem sei se pensaria no convívio como algo completamente necessário ao desenvolvimento das "humanidades". Realmente gosto de pensar nas coisas em profundidade, mas leitores não gostam, preferem histórias curtas onse se fale da sabedoria dos pássaros, por exemplo. Eu estou pouco me importanto com pássaros, não percebo utilidade para a existência de pássaros na terra, não vejo necessidade dessa natureza da forma que ela se coloca, não vejo vantagem em se salvar o planeta. Acho muito mais importante tentarmos nos salvar existencialmente do que, por exemplo, abraçar árvores. Deixo essa nobre tarefa aos doidões de Visconde de Mauá.
Preciso apenas encontrar um raciocínio e palavras que viabilizem a minha explicação de mim para o mundo porque acredito que a gente deve ser claro, deve mostrar sempre tudo para que as pessoas entendam e nossa conexão possa ser mais útil, mais proveitosa. Mas leitores não querem isso. Querem que eu publique poesias para não terem que comprar os livros e escolher os poemas. Sou diferente: não vejo o mundo sem análise ou sem racionalidade. Sem uma visão mais ou menos filosófica do que fazermos e o porquê. Não, é injustiça dizer que eu quero filosofar ou desejo complicar coisas simples. É exatamente o contrário! Dar conhecimento, qüestionar e qüestionar-se é muito mais um ato de aproximação, de exposição de forma a termos laços ainda mais estreitos. Se os blogues não são o fórum ideal, ok, procuremos outros então. Mas escrever banalidades para agradar uns poucos que apostam no simplismo em todas as coisas me parece algo muito tolinho, muito sem razão de ser, sem razão de existir (porque não diz verdades). Vou ver o que faço, por fim.

11/10/2007

Minha Náusea ou O fim da psicologia

Incomoda-me uma certa rigidez que há em todas as coisas (Clarice fala disso). Essa rigidez pode ser um bem ou um mal, depende de como a encaramos. Pra mim é um mal, mas não sei se o contrário seria um bem. As coisas me chegam de maneira nebulosa, leitosa, mostrando-me um mundo distinto e distante, de certa maneira impalpável e me vem à cabeça a idéia do verme branco que um personagem vê na ponta de uma manga de paletó, no lugar da mão (A Náusea - Sartre). Desde essa leitura na juventude vejo todas as mãos como vermes disfarçados e gigantes e hoje em dia outras partes e outras coisas como objetos me provocam náusea igualmente, chegando a um ponto que encosto-me a uma parede aterrorizado, vendo tantas coisas causadoras de náusea vindo em minha direção. Talvez por isso afasto-me dessas coisas (quase tudo), talvez por isso precise fazer anotações já que pessoas, na maioria das vezes, não são boas ouvintes. Acautelo-me. Relações sociais trazem com elas pessoas e objetos e não sei quais as reais intenções de tudo isso. Luto contra um exército invisível que expõe a minha parecências com um louco varrido embora não hajam provas disso, embora não seja impossível eu estar correto nessas minhas impressões e o mundo sim, ignorante dessas possibilidades. Como provar que luto corretamente e que meu medo não é sem fundamento e muito ao contrário? Não existem garantias nesse mundo leitoso a que eu me referia no início, esse mundo de certezas hipotéticas, de limites firmes e frágeis igualmente. A maneira de tomar as rédeas de tanta ambigüidade é apenas a precaução e caldo de galinha. Bom não esquecer que os psicólogos desse lado do hemisfério, não morenos, babalaôs com suas beberagens importadas de tribos africanas. Nada contra, mas Viena não é aqui, bom lembrar. Portanto, minha visita a esses “técnicos em mentes” é pouco freqüente e cercada de mistérios que vão do riso ao pavor, da crença ao deboche. Psicólogos caboclos e tupiniquins tornam o mundo e suas visões dele ainda mais escorregadias (e, de certa forma, assustadora). E afinal, pavor às baratas é coerente ou não? Uma conclusão a isso pode referendar minha sanidade espiritual ou não. Deveria mesmo lidar tranqüilamente com peçonhas?
Isso é para dizer de modo inquestionável que os males que nos afligem a alma devem ser percebidos à luz da filosofia e não da psicologia. A psicologia valeu-se da sociologia e da filosofia pretendendo criar alguma coisa nova, um método elucidativo e curativo das dores do espírito. Mas não deu certo, falhou, errou completamente. Não interessa nominar a náusea e a estranheza com gentes e coisas de neurose ou psicose. Aditanta tão somente encontrar as origens nessas filosofias ( a náusea é uma parte atuante do existencialismo, por exemplo) e, través dessa percepção, compreender o que se passa no espírito atormentado. Você pode dizer sem medo de errar que uma pessoa está “existencialista” ou invés de “psicótica”. Curá-lo? E, por acaso, na psicologia, há hipótese de cura?

(retirado de A Invenção do Mundo)

O homem de frente e meu Camel

Existem escritores e os que não o são. Eu não sou. Mas, errado ou não, mal ou não, eu vou escrevendo, vou digitando sentimentos, impressões, desejos e conclusões. E em grande quantidade! Já ouvi de várias pessoas a impressão que escrever é bom, que a gente meio que descarrega coisas, exorciza ou lá o que seja. Alguns, certamente exagerados e sem saber realmente o que dizem, falam que escrever é sua terapia (no sentido de psicanálise). Nem tanto! Mas, sem dúvida, escrever beneficia algumas pessoas e me incluo entre elas. Clarice Lispector dizia que escrevia sem saber escrever e que, portanto, o título de escritora lhe caía mal. Imagine em mim! Por outro lado, quem escreve não é um escritor? Sim, imagino que esse título caiba a romancistas, a pessoas cujo único ofício (profissional) seja o de escrever. Títulos à parte, a verdade é que tem um monte de gente escrevendo, milhões. Assim, como podem achar igualmente de mim, acho que se escreve muita porcaria, que era melhor não ter escrito nada, mas isso é retórica e gosto pessoal. É que a mim, algumas coisas parecem tão inverssímeis que cismo em descrevê-las.
Por exemplo, agora, quatro da madrugada, imagino que eu seja a única pessoa acordada sem necessidade, sem compromisso e espanto-me ao olhar e ver, na janela do prédio em frente ao meu, um homem à janela, olhando o nada, observando o negror que nos acoberta. Ele nem está lendo nem escrevendo: está ali, parado, olhando a noite! Talvez tenha o hábito de não dormir ou dormir pouco e fica ali, quieto, respeitoso ao descanso dos outros, observando estrelas e esperando o dia nascer. Pode ser também que ele estaja olhando para cá, para mim, talvez com pena de um homem ter que passar a noite trabalhando no computador. Mas eu não estou trabalhando, nada me obriga a estar aqui! Eis nossa igualdade, estamos, ambos, despertos à toa, sem necessidade, pelo hábito de não dormir. Talvez devêssemos telefonar um para o outro e trocarmos idéias sobre insônia, sobre madrugadas, sobre infindáveis observações sobre o amanhcer. Mas a ligação caractezaria alguma insanidade nossa, não o fato de não dormir, mas o telefonema. Não seria mais lógico o contrário? Não sei. Não estou disposto a perguntas difíceis. Mantemo-nos assim: eu aqui e ele lá, possivelmente um pensando na estranheza de hábitos do outro. Ele não sai da janela e eu não saio do computador. Às vezes me questiono se, nesse exato momento não está passando um cometa, se não estou perdendo um espetáculo. Espere, não aguento, vou à janela!
Pronto, fui! Não acontece nada. Pena, lembro que quando eu morei na cidade serrana de Secretário, via inúmeras estrelas cadentes todas as noites. As noites eram uma festa! Nas cidades grandes não temos essa visão (por causa da iluminação da cidade) .As vias, normalmente engarrafas de automóveis estão inteiramente vazias. Ouço, muito ao longe um “plim plim” da Globo a me anunciar que há mais alguém sem dormir, vendo televisão ou, como eu invariavelmente, dormindo com a TV ligada. Tomo canecas de café, fumo cigarros Camel (dificímos de achar) e aguardo mais um alvorecer. Gosto do alvorecer possivelmente mais do que do anoitecer. Não tenho certeza…

10/10/2007

Ansiedade

A ansiedade profunda é enloucederora. Aleijante. Não permite ver um filme da TV ou ler um livro. Te paralisa ao mesmo tempo que te agita. É incongruente. Fatal. Ficamos sem saber o que fazer, andamos em círculos pela casa, tomamos potes de remédios que não resultam. Ficamos mal e não é algo explicável, compreensível. É só dor e desespero...

05/09/2007

Sem destino

A história sobre a não existência de futuro, partiu de uma argumentação minha durante um almoço. O princípio do raciocínio é bastante simples: se deus não existe também não existe o destino e se o destino não existe, não existe futuro. Acreditar em destino é uma aberração maior do que acreditar em Deus, é achar que, para cada um dos bilhões ou trilhões de espermatozóides que fazem sua corrida diária existe já toda uma arquitetura formada do que acontecerá com ele nos próximos cem anos. Multipliquemos uma idade média de 80 anos de vida pela quantidade de espermatozóides em ação à cada dia. Aliás, a conta é maior, porque se existisse destino ele seria aplicado aos espermatozóides também, profetizando qual o eleito a fecundar. Então o destino quis que fecundasse o espermatozóide y em meio à corrida dis 150 milhões que partiram naquela maratona. E quer o destino que seja macho ou fêmea e quer que tenha uma boa fecundação, uma boa gravidez, um nascimento razoável e “caia” numa determinada classe social. Aí começa efetivamente a vida, começa a Operação Destino II. O sujeito cresce e vive oitenta anos (quantos dias?) e tudo o que lhe acontece é por “ser destino dele”. Ou seja, no momento da ejaculação do pai já havia um plano elaboradíssimo de sortes e vicissitudes não só escolhendo o espermatozóide que irá fecundar como tudo o que acontecerá com ele. Sim, se for assim, isso é futuro.

Mas está claro que esse raciocínio não se sustenta, que a vida se dá primeiro pela lei do mais forte (espermatozóide vencedor) e segundo por uma série de coincidências e acasos que vão surgindo no decorrer do tempo. Estudamos, temos emprego, amigos, mulher e filhos por estarmos sempre fazendo determinada coisa em determinado lugar. Não é o destino que faz você se casar. É o fato (coincidente) de estar naquela hora e conhecer aquela pessoa naquele lugar e sentir-se atraído (mutuamente?) por ela. E se você está andando, leva uma bala perdida e fica tetraplégico, igualmente não foi o seu destino (que destino mais besta, né?) e sim a coincidência de alguém disparar uma arma e você estar justamente naquele instante naquele lugar de tragetória da bala.

Se entendemos bem que o destino é uma tosca invenção humana (o homem precisa de uma justificativa metafísica tanto para as coisas boas quanto para as coisas ruins que acontecem e assim diz que isso ou aquilo era “seu destino”, vontade de Deus). Um pensamento no mínimo que ultraja Deus, colocando-o a fazer planos para três bilhões de habitantes só no planeta Terra porque deve existir vida em outros planetas e Deus é um só, correto? Assim, concluímos: Destino, como é pregado, não existe. Existem acasos e coincidências bem como a Lei do mais Forte. Esses elementos regem a vida e, como o nome já diz, acasos e coincidências não poderiam em nenhuma hipótese ser previsíveis o que nos leva a entender que o futuro não é previsível.
Mas como pode o Futuro não ser previsível? Se eu estudo, vou me formar no futuro. Se sou noivo, vou casar e ter filhos no futuro. Se fumo, vou morrer de câncer. Se roubo, vou para a cadeia. As coisas acontecem assim? Não! Algumas coisas acontecem, outras não acontecem e outras ainda acontecem de maneira completamente susrpreendente. E por que? Porque o futuro, por não existir, não é. Para isso precisamos falar do tempo. Gaston Bachelard, em seu estudo sobre o Instante cita Roupnel com sua máxima perfeita: “O tempo é uma realidade encerrada no instante e suspensa entre dois nadas.” Ou seja, o tempo é um conjunto conseqüente de instantes, como a linha é o seguimento de pontos.

O presente se esvai, escorre entre nossos dedos. Tudo o que vivenciamos, cada instante, cada ato, cada átimo de pensamento escoa compulsivamente do nosso presente e torna-se passado. Ou seja, de certa forma, não existe um presente mais ou menos perene, ele é movimento constante de instantes que se vão para o passado. Esse mesmo passado nos é inalcançável, não podemos vivê-lo porque ele se foi, não existe mais. O que é o passado? Alguma coisa que aconteceu. Podemos lembrar e evocar o passado, jamais interagir com ele porque ele simplesmente, não existe.Temos apenas uma faculdade física (elétrica) do cérebro que é a memória e somente na memória existe passado. O futuro, é um passado às avessas. Ele não existe em nossa memória porque não ocorreu e não existe de fato porque não está lá. O que se dá, é uma impressão. Futuro é a expectativa humana. Vivemos o futuro? Não. Agimos, nos relacionamos, nascemos, morremos, trabalhamos no futuro? Não! Todas as coisas que desejamos realizar e/ou as que não desejamos que se realizem creditamos ao porvir, projetamos em algo que não existe (mas acreditamos que possa vir a existir) e chamamos de Futuro. E aí temos a coincidência absurda do óbvio: Destino e Futuro, por irreais, não existem, são matéria de expectativa e explicação. Futuro é matéria de expectativa e Destino (de explicação, justificativa) é matéria de Passado e/ou Presente (que, imediatamente, vira passado). Resta o presente, mas este, é tão rápido, tão repentino, tão abrupto, tão impalpável, que é melhor não contar muito com ele.

Podemos concluir que o tempo é uma manipulação humana extremamente bem elaborada e de profunda utilidade tanto como motor propulsor da ânsia da realização (e seu sucesso) como no amparo aos desvalidos e aos que sofreram revezes. Sem esse conceito, muito possivelmente a humanidade não teria chegado onde chegou.

Por isso o passado, o presente e o futuro, bem como a vida eterna são tão conveniente para a ordenação de todas as religiões

(retirado do Pós Sobretudo de Lona)

04/09/2007

Escravo

Ultimamente a leitura tem me dado um sono terrível, desses que impedem a gente avançar num livro o bastante. Aliás, ando com sono sempre, como se tivesse passado muito tempo sem dormir, se houvesse um enorme atraso a ser colocado em dia. A verdade é que nunca dormi bem e agora fico estranhando essas mudanças metabólicas (rs) em mim. Tenho uma série de coisas para fazer e vou deixando para "daqui a pouco". Transações bancárias, por exemplo, são coisas insuportáveis. Eu gostia de ter um escravo. Não um empregado. Um escravo. Louro. Ele seria obrigado a trajar-se de terno (azul marinho) e gravata mesmo no auge do verão. Trataria para mim de todas as coisas chatas da vida e mesmo assim, nutriria enorme gratidão por mim, por eu permitir que as coisas fossem como, de fato, eram.
(Por que todos somos escravos sem saber, todos fazemos as coisas que um escravo (bom) deve fazer e ainda ficamos 'nos achando'. Se a gente observar bem nossas tarefas diárias e a inutilidade delas, conclui que pertencemos a uma casta de escravos desatentos)

02/09/2007

Perseguindo coisas demais

Tem essa coisa da gente ficar se virando para cá e para lá, buscando aqui e ali conforto para o espírito. Esse "espírito" é nosso maior cobrador, quem exige de nós o tempo inteiro uma atenção desmezurada, dessas que não dispensamos a ninguém nem vice e versa. O que resulta é a inquietude e um certo sofrimento ou impressão de não realizar o que era para ser. Mas o que era para ser? Pois se, à cada momento, eu digo a mim mesmo que era para ser assim ou assado e momentos depois eu desdenho dessa opinião e busco uma outra, inversa... Porque essa coisa de viver plenamente é exatamente a opção pela busca, pelo distante, pelo que deve ser alcançado. Digo a mim mesmo o que deveria ser dito a um e a outro, o que digo em reuniões porque, na verdade, sou instrutor de mim, oriento meus passos para adiante e percebo em mim um atraso, uma distância entre o que é e o que deve ser. Não me concretizo porque esse "estado concreto" engessaria minha alma, daria fim a todos os meus desejos, à minha curiosidade pela vida, pela Terra e pelas pessoas. Não tenho nada em mim a não ser essa curiosidade inquietante que me repete sempre a necessidade do passo adiante, do contato com essa ou aquela pessoa, o entendimentos dessa ou daquela filosofia (embora elas me desapontem quando percebo uma outra). Vou assim, ao pulos com sofreguidão, entregando minha vida ao tempo na certeza de que ele, impassível, ri de mim (como deve rir de todos) conhecedor da alma humana em sua certeza absoluta que nada vai se concretizar.


Não sei quantas vidas precisaríamos para que pudéssemos finalmente relaxar e considerar que conquistamos tudo o que era para ser conquistável. Quantas vidas? Três, Dez? Trezentas? Imagino que nem a eternidade é suficiente para o homem já que ele não percebe que, dentro da sua finitude, é eterno na medida em que ocupa todos os espaços da sua vida. A teoria então é que a vida é a eternidade, que é indiferente viver quarenta ou duzentos anos porque nesse espaço de tempo fazemos sempre as mesmas coisas, tratamos igualmente de todos os assuntos, trabalhamos, estudamos, constituímos família, etc. Um homem, aos oitenta anos, se lhe fossem dados mais cem anos de existência faria a mesma coisa: estudaria mais, iria ler mais livros e constituir mais famílias, tudo sempre rigorosamente igual, tudo caminhando para uma mesma direção que é o fim. O desejo do imortal é a morte. O imortal trabalha assiduamente, tenazmente para concluir toda a sua missão e morrer. Se não morre, começa novamente as mesmas atividades, esperando que dessa vez, ao final, deixe de existir.



Os livros da minha estante que se escondem de mim estão fazendo exatamente isso: colocando-me ansioso em sua busca para ler o que já foi lido, para refazer o que foi feito, talvez mudando algumas anotações de pé de página que, do ponto de vista do universo, são irrelevantes. Como irrelevante é o conhecimento demasiado porque se acaba não tendo onde aplicá-lo e faz com que nos tornemos pessoas insuportáveis. Como uma pessoa que é simplesmente insuportável e boa parte desse gênio infeliz vem de um certo número de títulos universitários que conquistou. Quando ela vai tomar banho e se vê nua no banheiro, sente o mesmo (ou talvez bem mais) sofrimento de quem não tem tanto, mas é bacana e blá. Ou o milionário que sabe ser totalmente sozinho, que suas companhias existem apenas por interesse, o famoso que se beneficia exclusivamente pela fama, o doente que recebe algum afago exclusivamente por ser doente, a prostituta condenada a não gozar...Continuo depois.

22/08/2007

Marcando encontros nos céus

o que acontece é um profundo desvão, uma notícia falaciosa ou um desencontro de horários e timings. não sei qual das coisas pesa mais, todas me pesam igualmente, todas me são caras como se fossem gêmeas e tivessem parido a si mesmas. mais ou menos como o desconforto de não encontrar uma posição aceitável na cama, daquelas que te permitem dormir, permitem que você atravesse o túnel de tempo entre um dia e outro e te faça acordar tranqüilo apenas o bastante para enfrentar tudo o que vem pela frente, todas as páginas em branco que terão de ser preenchidas, todas as páginas da novela que deverão ser lidas (é verdade, releio essa novela obcessivamente - mas não é a primeira que me causa essa angústia existencial. (Como? Não é angústia existencial? Mas é claro que é, é claro que todas as coisas estão ligadas umas as outras e, exatamente por elas, a vida, muitas vezes, perde um sentido mais exato em troca de alguma coisa que não sabemos definir, coisas que nos embaralham não apenas a visão, mas o sentimento de estar conexo - que nos é tão caro!).
isso não explica tudo, mas explica algumas observações e trocas, trocas de espaços, tendências não exatamente novas, mas tendência a que alguma coisa fique diferente, algo como desejar criar uma obra de arte, mesmo que não seja, mesmo que seja nada, que seja comum, mas que a gente entenda como tentativa, como reciprocidade do outro, daqueles em quem estamos pensando enquanto fazemos.
tudo isso porque a volta me angustia, porque existe algo de bom naquilo que está escrito e porque, ao mesmo tempo, sei que não devo frequentar, não devo me cativar, assim como uma tia não se permitia escutar os discursos do lacerda porque não gostava dele, ele não prestava para ela, mas ela tinha medo de se deixar cativar pelo discurso que, reconhecia, era extremamente vigoroso e sedutor. existe um canto da sereia no ar. um canto vigoroso que seduz, mesmo a gente já sabendo que aquilo vai dar em nada, mesmo com a experiências fracassadas do passado.


Ou Não


o tempo nublado não diminui nem aumenta o desconforto e a impressão de uma certa solidão que não deveria existir. o tempo é apenas o que vejo, apenas o que está a meu alcance, o que se mostra e permite que eu deduza coisas, mas deduzir é muito pouco para mim, deduzir não é falar, não é escutar a voz nem ler o que você escreveu. sim, você que deveria estar escrevendo e respondendo a tudo porque nada é falado nem perguntado à toa, tudo tem um motivo, um momento, uma situação está inserida e não perceber isso seria mais ou menos não me perceber ou, me perceber como alguma coisa "a mais" entre as coisas, o que, definitivamente, não sou e todos sabem disso - principalmente você. porque se é por trocas de cartas não se deve sentir menos, já repeti um milhão de vezes em teu ouvido que todas as grandes coisas, todos os grandes lances e as grandes aventuras de amor ao longo da história foram marcadas principalmente por uma intensa troca de correspondências que permitiam à cada um conhecer e desejar mais o outro, cada um viver em seu canto como deus quis sem perder contato, sem deixar de sentir que o outro estava lá, além mar, mas existia em toda a sua plenitude (para um e para outro).
poderia me valer das cartas abertas, mas só se fosse uma situação imprevista, uma novidade, uma revelação ao você, uma maneira não imaginada ainda, não dita ainda. quando se diz, é assim e mais não sei o quê, não há mais necessidade de nominar, não há necessidade de nada porque só existe um e cada um sabe que o outro é o um ao contráruio, o outro é o um dele.

21/08/2007

Confissões num terreno baldio

diazinho atípico, desses que eu gosto de ficar em casa lendo e bebericando uísque, nem sempre dá. hoje não dá, amanhã deve dar. corro atrás dos dias em que não tenho que falar coisas inúteis para pessoas que não sabem o que estou dizendo. verdade que não deixo saberem o que digo porque falo de uma maneira transversa, de uma forma que só mesmo eu estou percebendo. defeito meu. mas é pra me proteger também, pra eu ser menos 'telhado de vidro' (sou de qualquer maneira). dizem que estou me defendendo, que não dou a cara. não é verdade. dou sim... e muito. inclusive ainda deixo tudo escrito pra não restar a menor dúvida sobre nada. duvida de mim quem quer e não compreende... apenas um ser tão obtuso que, certamente, não anda sobre duas pernas (meu gato anda sobre quatro patas e me percebe direitinho). gatos, aliás, são bons amigos. sei exatamente o que meu gato quer de mim e dou na medida do possível. ele faz a mesma coisa comigo. as pessoas complicam um pouco essa história, brincam de deus e aí vai tudo por água abaixo.
também já gostei de brincar de deus, mas quebrei a cara e tomei pavor! não quero mais saber dessas coisas, prefiro continuar como humano cheio de imperfeições, fraquezas e carências.


o mais está aí, tudo exposto, debaixo de chuva e de sol.... mais ou menos como couro curtido, desses couros ideologicamente nordestinos como se o pessoal do norte fosse diferente do pessoal do sul maravilha ha ha ha... venham aqui ver o que é o sul maravilha... não dou uma semana para voltarem correndo! já fui muito ao norte e nordeste e sei as carências de lá também. são carências do brasil, meu amigo, não se iluda com propaganda enganosa. eu, por exemplo, sou propaganda enganosa de mim mesmo - pura. procuro enganar as pessoas de boa fé a que acreditem em algumas coisas que digo serem meus pensamentos, minhas metas... tudo mentira. minto o tempo todo para todo mundo e, principalmente, para mim mesmo. monto um circo em que sou apresentador, leão e, principalmente, palhaço. sempre tive vocação pra palhaço, só me falta a bola vermelha no nariz. acho que escrevo tudo isso aqui porque é um lugar meio secreto e os institutos de pesquisa dizem que ninguém vem aqui, só vai no pós sobretudo de lona. deve ser isso.... bom que eu sou menos patrulhado e posso contar umas coisinhas diferentes... não que tenha alguma coisa interessante, que valha à pena ler, claro que não é isso... mas é menos compromisso com uma certa arrogância na intituição virtual (que se quer fazer e não consegue). chega

19/08/2007

Blogger X Wordpress

Eu não sabia que aqui tem um sistema de busca (canto superior esquerdo) tão atuante quando o do wordpress. Cada dia mais vou descobrindo aqui coisas e vantagens em relação ao Wordpress

Mulheres são menos cognitivas?

Verdade que eu sou invocado, mas tenho a impressão que a vida gosta de me provocar, as pessoas gostam de me provocar. Ou então pessoas são mesmo provocativas, é um estado natural de serem pessoas. Não sei, pode ser. Só sei que preciso de experiências novas, preciso atacar outros lados meus que estão meio abandonados (por mim mesmo). Me pergunto se eu deixo esses lados assim, sem serem provocados por algum tipo de defesa, mas aí entra naqueles psicologismos baratos que eu detesto. Sempre um imitador barato, eu. Estou escrevendo um capítulo a mais para um livro que estou lendo. Por que? Porque Borges fazia isso. E sou macaca de auditório. Zé mané. Sou neguinha. Usava guias azuis e brancas porque o Caetano usava, mesmo eu sendo ateu. Mas o Caetano também não tem essa religiosidade toda que parece não. Ele é muito blasfemo.

E quando começo a escrever em muitos lugares e a ler muitas coisas acontece o previsto: faço muito pouco de cada coisa. No momento interesso-me apenas por relações interpessoais mesmo que sejam à distância. Têm que ser. No momento, sim. Já andei me explicando para uma meia dúzia de pessoas e o resultado foi catastrófico: ninguém entendeu bulhufas. Agora não perco mais tempo tentando explicar nada. Sacou, sacou, não sacou, sacasse. Verdade que, à médio prazo, quem perde sou eu. Mas essa história de que as perdas são todas minhas também não me convence inteiramente. Acho que quem não me saca perde muito. Verdade, acho mesmo, não sou nem um pouco modesto. Me acho muito interessante (e se ninguém achar, o que posso fazer? Nada).

Não sei bem porquê mas as relações e os desentendimentos são muito maiores com mulheres do que com homens. Fico me perguntando se mulheres tem uma cognição menor que o homem. Será possível uma coisa dessas? Acho que não, deve ser coincidência. Seria lamentável se eu tivesse que separar assuntos para meninas de assuntos para meninos rs. Acredito mais que as mulheres fiquem meio de pé atrás com os homens, mais ou menos como se ambos não fossem confiáveis e blá. Uma tolice inenarrável porque não vivemos uns sem os outros. Mas que rola uma coisa meio assim, rola. Mulheres se previnem como se fossem mais frágeis, como se fossem vítimas em potencial e, com isso, tornam-se mais agressoras. Pena, mas é assim. Pelo menos com todas as mulheres que eu conheço. (Talvez eu devesse então tratar de conhecer mais mulheres….ou menos, dependendo do ponto de vista). Não farei nem uma coisa nem outra.

São coisas ancestrais que nós apenas reproduzimos hoje em dia, nada de novo, nada de criativo, nada pra gente dizer: OH! Tem uma mulher que escreve um blog que eu gosto muito, freqüento assiduamente, mas fiquei desbundado quando ela apoiou o depoimento do Lula dizendo que brasileiro, que a elita brasileira, gosta de bolsa doutorado contra o Bolsa Família. Ela apoiou! Quase escrevi pra ela, fiquei indignado! Mas pra quê escrever? Faço isso aqui, porque aqui é minha tribuna e muitos comentários são inúteis e levam mais falta de percepção do que desejamos expressar do que outra coisa.

Gostaria hoje de ir ao cinema, assistir qualquer coisa, mas não consigo. Domingos são dias-não. Está sol, mas corre um vento frio, desagradável. É como se São Paulo fosse aqui. Respondo os poucos e.mails (mesmo os que comentam bobagens), leio o jornal desinteressante que alerta para a violência urbana e como um miojo para não perder o hábito de homem sozinho e espartano. Sou espartano no comer e no vestir. Minha cabeça fervilha e corro pro meu caderninho aqui ao lado e inundo suas páginas manuscritas com tudo que considero impublicável aqui. Aliás, isso é uma coisa muito doida: aqui é um espaço meu, pago com meu dinheiro, mas tenho auto-censura por conta dos patrulheiros. Leitores de blogs são patrulheiros essencialmente, esperam a gente abrir a boca pra discordarem. Comigo também é assim. Discordo do que todo mundo diz.

Domingo é chato porque as pessoas ficam perdidas, não sabem o que fazer, não sabem o que dizer, não entendem o que é esse hiato na semana. Têm medo de afirmar que anseiam pela segunda feira e, muitas vezes, são obrigados a fazer um sexo por obrigação, daqueles bem sem sal.

(retirado do Pós Sobretudo de Lona)

Factóides de anoitecer

Existe um possibilidade improvável em tudo o que pensamos. Pensamos no utópico fantasiando com realidade. Sempre assim e negamos até para nós mesmos. Não queremos assumir que vivemos num mundo irreal, um mundo de desejos plenamente satisfeitos sempre, onde o "não" entra apenas como tempero psicológico. Temperamos todas as coisas à partir de factóides, nada realizado, nada de mais importante. Essa criação de factóides é a demonstração da necessidade que temos de viver envoltos numa capa de mistérios, de possibilidades sem fim. Nada é verdade. Nada diz muito, nada é crível o bastante para nos abalarmos. Na contramão, eu me abalo por tudo, sou filhote de outra linhagem, sou expectativa de algo maior do que eu mesmo, possibilidade de grande show. No final das contas não dá em nada. Releio o texto e me dou conta de que está incompreensível e bem poderia reescrevê-lo, mas não o faço porque todas as coisas estão relatadas, todas as perfeições e imperfeições estão ditas com todas as letras, todo o sonho em que vivemos embalados. Sou parte desse sonho. Uma parte apenas. O todo se insere na vida com todas as situações anacrônicas que possam resultar dessa mixórdia.

Penso, eventualmente, em transferir todas as coisas, em realocar situações e pessoas como quem faz uma grande mudança na disposição dos móveis em sua própria casa. Mas não sei se esses elementos meus e da vida equivalem a móveis de uma casa. Não sei mesmo. Pode muito bem não ser. Posso estar caindo nesse lugar comum apenas como exercício intelectual para alçar um vôo mais alto, o meu vôo pretendido. Se o faço? Sim. Freqüentemente embora não divulgue e recolha caquinhos de fracasso e louros de vitória. As duas coisas me agradam, as duas coisas são fontes de prazer, não um prazer comum, mas um prazer de sublimação, de troca entre realidades e irrealidades, coisas de espírito, de psiquê (possivelmente) avariada. Esperam de mim que eu diga todo o tempo as coisas certas e quebram a cara porque nunca digo, nunca sei onde estão essas tão faladas "coisas certas". É assim que os anos passam e as pessoas se vão.

Talvez existam ainda outras alternativas de vida, outras opções na maneira de levar as coisas. Com certeza existem e muita gente deve encontrar modos que lhes são muito mais favoráveis de enfrentar tudo. Aliás, o próprio termo "enfrentar" é uma colocação equivoacada, dá a impressão de que as coisas são uma luta eterna quando não é nada disso. Há muito mais gozo do que carregar pedras. Muito mais sorriso do que lágrimas e muito mais acertos do que erros. Basta olhar com atenção e permitir-se experimentar sempre e mais. Não faço isso com freqüência e admiro quem faz. Sou mais quieto, mais o observador que escrevinha tudo o que vê e sente do que um "fazedor". Meus feitos devem ser poucos diante da quantidade de opções. Talvez eu mude numa hora. Talvez não. Eu nunca sei com erteza de mim.

15/08/2007

Expectativa pré e pós-uterina

Estive catalogando vários momentos meus, várias situações em que me senti em perigo (o que não é difícil). Sentir-se em perigo é não ter certeza das coisas, ter que fazer opções, ter que trocar alguma coisa. E tenho que mudar coisas na vida o tempo todo: maneiras, conceitos, expectativas. Não me importo exatamente com o que vai ser, como vai ser, a atitude. A questão é a reação. Como virá a reação àquilo que eu me dispuzer a fazer? Que conseqüências? Viver é tão arriscado quando pular de para-quedas ou asa delta. Talvez mais já que a própria vida nos dá essa alternativa. Digo para mim mesmo pensar bem nas coisas, mas não acontece, não é verdade, não penso. Sou puro instinto e tudo o que vem de mim é instintivo, é perceber o que rola na hora, naquele segundo. Faço uma peregrinação por outros sítios vendo o que as pessoas estão pensando, não para seguir-lhes o caminho, mas para estar inteirado. Não adianta. Psicologismos menos ainda e a metafísica não existe em mim. Busco então o que existe.

Aí começa meu dilema porque às vezes tenho a impressão de que existe tudo e nada em mim, parece que conheci todas as coisas e vivi todas as experiências, ou o contrário, que sou virgem na vida, que ela me é totalmente nova e irreconhecível à cada manhã, como se renascessemos diariamente (essa tese tem andado mais forte ultimamente). Como fazer? É verdade também que não me agüento mais me questionar esse tal "como fazer". Então, simplesmente, faço. Se está dando certo? Não sei. Tenho uma implicância ancestral com o futuro, como se ele fosse um bispo de pedra negra, impávido, sem sequer me dirigir o olhar. O futuro deveria olhar pra gente, deveria dar dicas, ajudar, o futuro deveria ser um "presente" com super poderes. Um presente super-herói, um pai. Taí, o futuro poderia ser nosso verdadeiro deus, nossa esperança, nossa certeza de que estamos trilhando o caminho certo. Mas não é assim. O futuro é besta, esnobe, ao contrário do passado que nos é tão prestimoso mesmo quando as recordações não são das melhores.

Optar por fazer seu caminho é uma tarefa árdua demais, carregada de responsabilidades insuportáveis. Claro que terminamos não nos furtando, mas é como andar na corda bamba. Por isso talvez possamos dizer que estamos todo o tempo na corda bamba (de sombrinha) e, como cantaram John Neschiling e Geraldo Carneiro, "nos afogando num oceano de cachaça". O vício de viver domina completamente a cena. Não vivevemos só por prazer, mas por víci0 na vida, não abrirmos mão, não percebermos o que rola, o que estamos fazendo em nome desse vício. Somos petulância de espermatozóide vencedor, petulância do mais forte e rápido. Acho que vivemos numa euforia pré-uterina na expectativa de chegar lá. Nós chegamos! Mas o mundo também é expectativa pós-uterina, expectativa de degenerescência, de embarque para o comboio final. Não sei.

13/08/2007

Dúvidas existenciais

É vem verdade em que eu fico meio dividido entre escrever aqui ou lá no Pós Sobretudo e os motivos são variados, mas tem algumas coisas práticas que eu posso argumentar (comigo mesmo he he): Lá todo o processo, a plataforma é muito mais moderna e te garante uma série de recursos e informações que não rolam aqui. Já aqui tem um template mais agradável para escrever (sabe quando você prefere um papel para escrever ao invés de outro? Pois é.), inserir fotos e tudo o mais aqui é mais simples, mais "caseiro" ou por outra: não dá medo escrever aqui, experimentar, mudar isso e aquilo, salvar em arquivos e etc. Em contrapartida lá tem um sistema de avaliação de visitações (que não me interessam), estatísticas, marcação de quem comentou, e quando, busca e por aí vai. Então, como sou fragilizado nessa questão de decisões assim, opto em me dividir aqui e lá (sendo que lá é muito mais acessado do que aqui.)

Nossos acordos

Com quem fazemos acordos, afinal? Fazemos acordos? Sim, fazemos. Principalmente conosco, principalmente de uma forma não clara, objetiva, mas escorregadia, sem firmeza, sem mostrar o jogo. Todos os nossos acordos são assim porque a vida ideal, plena, vivenciada em cada um dos nossos dias não permite uma certa liberdade, não permite alternativas ao que é, ao que desejamos. O acordo é um passo atrás, uma jogada de sobrevivência, meio de escapulir ao embate entre nós e o mundo e nós e nós mesmos. Não existe acordo perfeito e por isso chamamos de acordo. Contrato onde ambas as partes cedem. Um pouco ou muito. Nos acordos que fazemos conosco, cedemos muito, muito mais do que desejamos e do que estamos preparados para ceder. Tem gente que acha o máximo essa história de ser cordatos e ter mil "contratos" em várias áreas, vários "compartimentos" da vida. Eu acho um lixo. Aliás, já acho um lixo ter a vida compartimentada (exigência social em prol do bem da humanidade). Ao compartimentar uma coisa, estamos quebrando a unidade, dividindo o todo, abrindo mão de uma plenitude que só alcançamos nesse mesmo todo. O que temos então são metas a serem cumpridas, mas cada uma delas vem com seus acordos a serem respeitados. Não somos inteiros e, de certa forma, a integridade de cada um também sai afetada porque a vida não levará isso em consideração e, principalmente, o tempo não será mais ameno, menos rigoroso. Não! Todos esses tratos, me parece, fazemos mais por medo, por falta de impulso em ir às últimas conseqüências do que pela tal linearidade social. Quando olhamos mais criticamente podemos perceber que vivemos uma grande mentira.

10/08/2007

Trnsgredir sempre! E mais!

Caminho num ritmo tão frenético às vezes que tenho medo de perder o controle. Todo mundo teme perder o controle. Não dizem, mas temem. Ou não temem, mas perdem. A questão de controle é um mito social, na verdade religioso, que pretende dominar os anseios do homem. Mas o homem não deve ser controlado porque, como uma represa, em determinado momento vai estourar. Pessoas estouram assim, do nada, quando menos se espera e todo mundo fica com cara de árvore como se a avalanche não fosse previsível. Mas ela é... e óbvia. As condições que se propõe a um homem são impossíveis, imprudentes inclusive. Homens necessitam explodir ao invés de implodir porque é dessa explosão que nasce a luz, o amor, a 'cotidianidade'. Reverter o processo em que nós afloramos equivale e matar a flor, inviabilizar a realidade, detonar o projeto de vida. Não deve ser uma necessidade minha e sim de toda a humanidade (embora parte dela esteja - por isso - encarcerada em hospícios). Não receio os hospícios, aceito-os como uma chocolateria ou uma tabacaria. Tenho bem firme em mente um projeto alucinatório que independe do lugar que habito. Trago em mim toda a revolta dos mares e meu movimento, como já disse, é o de placas tectônicas que se ajeitam e provocam maremotos. De que serviria o mar sem maremotos? De que serviria a terra sem terremotos?! No fundo estamos tratando da mesma coisa tanto em terra, mar ou gente: precisamos entrar em ebulição para justificar esse processo vertiginoso que é a nossa vida (se bem vivida). Se transgrido? Sim, com certeza e muito freqüentemente. Você não? Pois experimente! Uma transgressão dá mais prazer que um orgasmo e os dois juntos são a perfeição almejada pelos deuses do Olimpo. Então, vamos transgredir!

09/08/2007

As idades

Essa expectativa que essas meninas têm em resolver todas as coisas de uma vez só, de abraçar o mundo como se ele fosse correr, todo esse desespero faz com que elas deixem as coisas passarem, as falhas acontecerem. Não tenho a menor predisposição em ser líder de nada, mal coordeno minha própria vida e ainda querem me cooptar pra outras coisas... Tá louco! Sei um pouquinho de mim e mesmo assim acerto pouco (mas aí não tem jeito porque sou eu comigo mesmo, não dá pra pedir ajuda a ninguém nem pra reclamar comigo - (fica só um sentimento de culpa às vezes). Não me lembro bem, mas tenho certeza absoluta que, com essa idade, eu não dava mais bobeira (pelo menos não profissionalmente). Não entendo o que as pessoas pensam, o que imaginam da vida, como se planejam. Mas vejo todo mundo desesperado, correndo atrás de erraos pueris.

De volta às origens

Sim, você já viu esse banner antes. Ele é original da matriz de tudo, do primeiro "Sobretudo de Lona". Acho que não faz mal retornar um pouco às origens. Aliás, isso me é freqüente: retornar às origens. Sempre que olho pra trás descubro um pedaço de mim não resolvido, coisas que preciso resolver ou resgatar. Sim, eu olho muito para trás e acho bobo esse conceito de dizer que só devemos olhar para a frente. Não acho que seja assim. Mesmo. Afinal, o passado é colagem de coisas e situações minhas, coisas que eu provoquei ou não, mas que vivenciei. Acho até que renegar ou desprezar o passado e negar-se a si mesmo, ao que sou hoje. (Já falei aqui que não somos presente porque ele é fluído e escapa à cada bilionésimo de sgundo e o futuro, afinal, ainda não chegou).

06/08/2007

bem, zen, mal

Você diz a hora certa e eu vou dormir tranqüilo. A paz do meu sono independe de mim ou das doses de Dormonid. Meu sono depende de você. Exclusivamente. Não sou um ser independente no mundo. Estou plugado. Todo mundo está (às vezes finge que não sabe). Se cala. Ora, calar-se é tolinho, jeka. Um ser humano inteiro tem a coragem de entregar-se totalmente, de confiar extremamente e, com isso, dormir de verdade. Não há nada de mais em ser dupla. Não é vergonha. Eu sou teu, você é minha. Simples. Natural. Humano. Demasiadamente.

Quando você levantar de manhã cedinho com cuidado para não me despertar, não se assuste. Não vou acordar porque estou num sono profundo, induzido por amor, por uma certa tranqüilidade que só a paixão permite. Dormirei até quase a hora do almoço e teu trabalho terá se findado. Tomaremos banho e sairemos pela rua, ao sol, olhando coisas e pessoas. Tudo gira em torno de nós e os outros não sabem como dormimos e porquê.

Cante, dance, sorria. Aproveite os bons ventos das coincidências da vida que nos colocam frente a frente. Relaxe completamente. Basta me dar a mão. Vamos parar de nos reinventar e aproveitar o que há.

(retirado do Pós Sobretudo de Lona)

05/08/2007

Alguns autores

O dia amanhece extamente no momento em que chego ao ponto final do livro. Existem livros que nos fazem optar entre ler ou dormir. Faço minha escolha. Meus olhos pesam, parece que tem areia dentro deles. Levanto e tomo o bule de café como se fosse o último. Pode ser o último. Me vem à cabeça que homens matam e morrem por mulheres. Ela me pergunta se não sinto falta de dormir abraçado. Sim, devo sentir falta, mas quase não lembro mais como é. Ela instiga como quem precisa se reconhecer em mim. Não me agrada que as pessoas procurem se reconhecerem em mim, não me agrada nenhuma atitude em que eu sirva de parâmetro. Tornei-me uma pessoa completamente sem parâmetros, completamente marginal, distante dos modelos habituais. Sinto-me um estranho no mundo, como se estivesse fazendo uma visita, de passagem. Esse não é o meu mundo, sou alienígena nessas ruas povoadas, entre essas pessoas que tratam de insignificâncias que não me interessam em nada. Ao contrário da maioria, não busco fontes de prazer e, muito provavelmente não as desejo. Repito que tenho um enorme tédio do mundo. Não, não sou suicida! Não darei cabo da vida. Acho que Camus errou totalmente ao dizer no primeiro parágrafo de O Mito de Sísifo que "o grande dilema da filosofia é o suicídio". Não vejo assim, não percebo dilema no suicídio, percebo-o como uma atitude qualquer como tomar banho ou fazer uma refeição breve. Como ela fala em "dilema" se a morte, de qualquer forma, é certa? Abreviá-la não pode ser dilema. É como pagar uma fatura antes da data do vencimento, simplesmente. Se pudéssemos ser eternos e existisse o suicídio como opção à vida eterna, aí sim seria um dilema. Não é. Camus errou. As pessoas repetem essa frase dele (embora não conheçam o livro que a originou) por ignorância, por preguiça mental, por se negarem a pensar um pouco mais na história. Em outros momentos, Kafka também errou e as pessoas não se dão conta. Tanto Camus quanto Kafka são grandes pensadores modernos que deveriam ser lidos por todos e estudados. Mas o fato da importância cultural deles não os torna infalíveis e podemos sim, criticá-los.

Igualmente Sartre é criticável e mesmo Clarice Lispector que é bárbara, mas repetitiva revisitando sempre algumas angústias que a assolavam. Ela não conseguiu escrever algo diferente. Clarice, a meu ver, é genial, mas carrega a culpa de não conseguir diversificar de forma que todos os seus livros são iguais, como páginas de um diário contínuo. Compare Dostoiévski à Clarice ou Fernando Pessoa ou Borges à Clarice e a fragilidade literária dela salta aos olhos. Isso não quer dizer que ela não essa maravilhosa. É. São dela os meus livros de cabeceira, mas isso não pode me impedir de ter um distanciamento crítico. Não criticar um autor é menosprezá-lo. É mesma coisa que cultuar Rubem Fonseca, torná-lo um ícone da nossa literatura. Não é! Tem contos excelentes e outros tantos deploráveis.
Existe essa história da gente ler um cara muito bom e dizer que ele é gênio. Gênios não existem e, como humanos, escritores fazem coisas excelentes e coisas péssimas. Não perceber isso equivale exatamente a não perceber o autor, o artista, o ser humano. É como negar que Joyce, Guimarães Rosa e Euclides da Cunha são chatos. São chatos! Claro que são importantes e têm uma obra considerável que, sem dúvida, deve ser lida porque é muito importante. Mas que são chatos, são. Ver todos os filmes, assistir todas as peças e ler todos os livros sem um pingo de espírito crítico revela apenas ignorância e falta de agilidade mental e intelectual. Eu acho a poesia de Fernando Pessoa genial (e a prosa também), mas reconheço que ele tem poemas chatíssimos, cansativos, repetitivos e com falhas de métrica. Imaginar que um artista (humano) só cria coisas geniais, mostra a boçalidade de quem aprecia a arte.

04/08/2007

Riscos

Quando você se dá conta, muitas vezes encontra-se irremediavelmente só. É um sentimento desagradável, uma coisa ruim uma desconexão com a vida, com a realidade. Uma experiência dura e traumática. A mim, dá medo porque sei onde as pessoas podem chegar.
As pessoas na verdade não sabem nada de mim. Nada! Eu sei. Por isso sinto medo.
Sinto medo de muitas coisas, mas principalmente da vida, de determinadas atitudes das pessoas.
Quero sair de tudo isso, encontrar um caminho de paz ainda que solitário. Me acho bom demais pra ser usado, manipulado e deixado. Ou talvez não suficientemente bom. Não é isso o que importa. O que vale é observar atentamente o rumo das coisas e ME OBSERVAR em relação a esses (des) caminhos. São riscos e limites, matéria perigosa, TNT. Uma coisa eu percebo claramente: AS PESSOAS NÃO ESTÃO ENTENDENDENDO NADA! NADA!

Minhas contradições e o fim das psicologias

Todas as coisas têm significados maiores do que elas próprias. Vejo e sinto assim. Não me furto a entrar em guerra ou ser contraditório. Sou mesmo. Muito. Não sei exatamente o que vai em mim nem como nem porquê. Acredito que seja um momento de busca, de entender o que se passa, o motivo de ser assim e não de outra forma. Fracasso muito em respostas e conclusões. Fracasso também na perseguição de desejos. Phillip Roth fala disso em "O Professor de Desejos". Mas ele está lá e eu aqui. O jornal distrai medianamente, e é só a questão da quantidade de sangue necessária para que ele seja impresso. Às vezes abandono os jornais também e parto numa viagem solo (que são minha alucinações). Sou dado a alucinações. Se elas não chegam naturalmente, eu as provoco. Preciso estar alucinado para sobreviver bem, para que essa engrenagem acelere dentro de mim, me impulsione mais e mais para a frente e para os lados (para trás também!). Busco definições para mim ou meus modos e não encontro. As psicologias são frágeis, para iniciantes. Digo aos psicanalistas que eles falham continuadamente, que a psicologia é fraquinha como a odontologia. Quando vamos contra um psicanalista ele não olha as coisas de frente, não "se olha", ele atribui tudo, tudo a neuroses na gente. Normal. Indiferente. Sou também indiferente a muitas e muitas coisas (não poderia abraçar o mundo todo com as mãos). Sempre imagino que vem um tempo de redenção. Acerto às vezes. Mas quase sempre renego o que escrevo porque, no instante a seguir pensei em outra coisa (ou existe possibilidade de outra coisa). Isso talvez não seja bem entendido (embora eu ache as pessoas de má vontade e burras). Mas posso estar errado também.

03/08/2007

Visão realista pobremente percebida como niilista

O desencontro dá-se pela não percepção do conceito de espacialidade da vida. Esta não é um espaço comum à todos. Cada um tem seu espaço-vida bem demarcado e as relações humanas significam pular cercas de um espaço-vida para outros. Se os dois estão de acordo, rola uma chance relativa de realização (porque a felicidade é efêmera e a infelicidade, não). Quando vemos casais bem sucedidos e felizes estamos percebendo um espaço-tempo, uma deliciosa acomodação apoiada na rotina. Mas, se entermos que, mais dia menos dia, rotinas são quebradas ( e tudo indica que são, sempre) a felicidade acomodada "rosna". Essa idéia de espaço-vida é apenas o divino avisando: "Estou aqui", um resquício autoritário do projeto celeste da Babel.

Essa Babel bíblica talvez seja o exemplo mais claro e verdadeiro de uma história (ou parábola). O que, ancestralmente, via-se como falta de comunicação pelo uso de linguagens diferentes é hoje uma realidade igualmente tangível, real. Não é uma questão de idioma. O homem não se entende falando o mesmo idioma. O homem não se entende nem mesmo falando consigo mesmo! O signo do homem é o desentendimento e, portanto, a infelicidade. Porque a infelicidade é o estado comum ao homem. Assim como o tempo, que não é linear, constante e sim um somatório de pontos consecutivos, o humor da humanidade funciona igualmente. O básico é a infelicidade, embora tenhamos milhões de momentos de felicidade extrema (mas todos eles finitos)

Se é assim descrito, com essa crueza, esse olhar de crítica extrema, pode parecer tratar-se de uma visão niilista. Mas ora, niilismo é contrário de otimismo ou seja, dois conceitos apenas e sem avaliação estatística nem filosófica unânime. Perceber realidades, verdades e preços de liberdade é apenas um exercício de perceber a vida sem paixão, sem expectativas emocionais. Não fazer esse exercício é enfiar a cabeça na terra ou tapar os ouvidos e preferir viver numa auto-fantasia alegórica onde "tudo é bom". Não é.

02/08/2007

As eternas partidas ou impressões sobre

Não comento as coisas aqui à toa. Tudo deve ter um sentido na vida. Não um sentindo 'pré-disposto', mas um sentido que nós mesmos, coerentemente buscamos dar à tudo. Existe toda uma psicologia ou um "psicologismo" que justifica plenamente essa vontade de se espraiar, de se fazer presente em outros sítios porque muitas vezes um lugar só não basta. Se temos muito a dizer, acabamos não dizendo nada, porque falamos e falamos mais e escrevemos e escrevemos mais e o blog vai rolando e termina que as pessoas não têm tempo de ler o que estava ali porque já está lá embaixo e assim vai. Eu escrevo com o desespero dos desenganados, com a pressa de quem chegou perto de uma caneta pela última vez, a ansiedade de quem precisa dizer tudo porque a amada já está com um pé no estribo do trem e ele apita, apita e apita. É exata essa impressão: há um trem ameaçador, soltando fumaça por todo lado, um trem que ameaça partir, uma trem que não quero deixar partir.

25/07/2007

O nojo e asco que começa a dominar todo esse território que já foi de paz e amor

Eu tava escrevendo no Pós Sobretudo de Lona que essa coisa toda por aqui ficou contaminada, é uma infecção generalizada que me dá muito mais nojo do que qualquer outra coisa. Um sentimento de distanciamento, de percepção de algo podre, extremamente falso em toda a rede, os blogs tornando-se lugares exclusivamente do mal, uma coisa contagiante, asfixiante. Enfim, eu não tenho a menor paciência pra nada disso. Não sei mais o que fazer, como me afastar, como correr dessa história toda. Antes eram uma ou duas pessoas do mal, que incomodavam, agora você conta nos dedos as poucas que não são patrulheiras reacionárias e com um quê de filhas da puta no sentido de desejarem te foder muito mais do que compartilhar coisas. Uma mixórdia, um balaio de gatos velhos e podres e mal amados, uma doença séria ambulante. Não sei bem o que é ainda, não sei como a coisa se contaminou de uma forma tão terrível. Penso em como me manter aqui e, ao mesmo tempo estar fora da ignara, da canalha que reina absoluta, cagando e ditando regras on line (como se realmente pudessem!) Deplorável. Vomito em jato em cima desse teclado.

O que pode ser (de uma forma pouco libidinosa)

Ela vem no meio da noite e enconta-se em meu corpo como quem dorme, como um movimento involuntário, sem querer. Desperto e fico quieto para não acordá-la. Seu corpo está extremamente colado ao meu, demasiadamente encontado. Mantenho a posição por um bom tempo mesmo percebendo que sua respiração não é tranqüila. Não chega a ofegar. Estamos assim ao que me parece uma eternidade. Tenho uma percepção anormal e sinto seu corpo arrepiando-se. Ela se mexe levemente. Continuo quieto, já certo de que ela não dorme, como eu. Praticamos um jogo mudo de sedução. Seus pés buscam os meus como a abraçá-los e, simultaneamente ela se aconchega mais em meu corpo, roçando-se levemente nele . Suas pernas se abrem ligeiramente de forma que sua boceta, meio aberta, beije minha perna. Está quente e melada. Sinto-a como uma boca em mim, uma boca deliciosamente oferecida e carente. Como quem se mexe dormindo, minha mão alcança a boceta e fica ali, inerte, pousada sobre ela, sentindo aquele calor umidecido que, parece-me, vai se umedecendo mais. E mais. Ela se ajeita de forma a permitir que minha mão fique mais confortável ao toque, à sentir como ela está como a procurar excitar-me, desesperar-me. Mas não faço. Continuo com a mão pousada talvez com um dedo levemente penetrado, muito levemente. Apenas o bastante para sentir constrações meladas. Permaneço assim.

Bolhas, limbos e movimentos assincrônicos nossos, dos outros e da vida

Pode ser natural uma eventual confusão sobre o que se deseja dizer e o que realmente é dito. O que eu não tenho paciência é para a confusão constante: você estar escrevendo uma coisa e as pessoas estarem lendo outra. Assim não dá. Essa inconstância das pessoas me incomoda. Aliás, repito, pessoas me incomodam. Mas não é isso. Trato de coisa diversa. Trato de uma incosntância nas pessoas sobre seus sentimentos. Não conheço ninguém mais inconstante do que eu. Não mesmo! Nem de longe. Aliás é verdade também que me considero diferenciado em um monte de coisas, o que não quer dizer que seja uma vantagem (talvez o contrário). Também não importa. O que vale no fim das contas é o que se fez, o que se faz. Sempre penso nisso: o que estou realmente fazendo? Por quê? Estou fazendo de fato o que eu quero ou o que eu sinto? Em muitas vezes não, em muitas vezes não estou fazendo o que eu sinto, vou para situações diversas, permito-me ser arrastado por coisas da vida, situações que estão fora de mim, do meu alcance e me perseguem e alcançam. E aí eu volto: Será que me permiti ser alcançado? Será que errei (meus erros não me interessam muito) na medida em que não errei deliberadamente, em que fui sugado por todos os acontecimentos, sensações e frustações que se impuseram à mim e não tive clareza (ou força) suficientes para entender que era uma rasteira e sair fora? Eu penso de vez em quando em até onde devemos ir, mas percebo que não existe uma margem exata porque as coisas não são exatas, os planos se frustram e andamos para a frente e para trás. Claro que tem quem não faça isso (e nem sequer admita essas coisas), mas ainda não cheguei nesse ponto. Estou num ponto eqüidistante de todos, numa bolha exclusivamente minha, que não é um lugar absolutamente privilegiado. Pode ser o limbo. Muitas vezes, o mármore do inferno.

22/07/2007

Visionário do improvável com artérias danificadas

O que eu não conto é essa coisa de ser amador. Quer dizer, conto, claro, mas não conto inteiramente porque não sei explicar direito, faço uma confusão danada e acaba parecendo uma coisa que não é. E é muito. Ser amador é delicioso e ao mesmo tempo muito sofrido. Não sou por opção: sou porque sou, nasci assim. Mas não me renego por isso. Achei que tinha encerrado essa minha face, esse lado, agora nessa provecta idade. Descubro, surpreso, que não, que ela ainda se dá igualmente quando eu tinha trinta e dois anos mais ou menos. Fica então essa coisa estranha: como um homem velho deve reagir dignamente diante disso? Sinceramente, não sei muito, mas algo me diz (e alguns indícios palpáveis) que logo saberei. Me resta aguardar um pouco (e aguardar é função da vida, desde o nascimento e que deve ser encarada com naturalidade). Mas veja só as esquisitices de um velho: fico aqui, fazendo hora, esperando alguém que eu sei que não vai chegar. Veja bem, nobre cavalheiro: não fui enganado nem houve alguma dúvida instalada. Não! Eu sei claramente tudo. Mas ainda assim, senil, planto-me aqui com uma cerveja e observo o monitor inerte imaginando uma mágica, uma contração astral, uma impossibilidade possibilitada. Atribuo, em parte, a um endurecimento das artérias que irrigam o cérebro provocando essa espécie de delírio consentido. Mas como sempre pode ser uma coisa pior, desisto de fazer avaliações diagnósticas e me entretenho em rir de mim mesmo; mais saudável.

21/07/2007

Como preparar-se nos finais de tarde

Agora, quando o dia começa a se transformar em noite, quando os tons do céu mudam devagar, imperceptívelmente, sou aquele que lê algumas páginas de um livro, mas não as apreende, precisa voltar atrás. A cabeça está oca e fixa. O corpo, em guarda. O espírito, desalinhado, mas firme e tranqüilo. Esse meu conjunto acampa na expectativa da noite. Simplesmente.

Anotações dispersas ao longo das madrugadas em que o frio se obstina em mim como tatuagem.

Eventualmente carrego toda a tristeza do mundo. O tempo, senhor da razão, tem uma renitente assincronia comigo. Aposto no improvável e depois, de forma um tanto histriônica, pantomima, vivencio o que não era para ser, o que foi avisado. Eu tenho a sorte de conhecer pessoas que me dizem a verdade de maneira meiga, mas firme. Concordo com todas as propostas, sinceramente desejo correr todos os riscos. E isso é uma verdade absoluta. Ao mesmo tempo, esquizofrenicamente, um outro lado meu sussurra em meu ouvido que não, que não vai acontecer o acordado, que as coisas vão se inverter e não sentirei frio. Sem dúvida, incoerente, ilógico, ilegal e indecente. Não sou incoerente (repito a palavra?) nem desdigo minha proposta de risco. Ela é sincera, tangível, está claro. Minha inconstância é comigo apenas. De noite, madrugada adentro, o sono insiste em escapulir de forma insidiosa, quase libidinosa. Tomo inúmeras doses de uísque puro buscando não a insensatez (que essa trago em mim naturalmente, sem necessidade do álcool), mas buscando o acalanto ou, por fim, um pouco menos de frio. Viro de um lado para o outro. Reafirmo meu compromisso em aceitar o pacto da imprevisibilidade, da incerteza e da dúvida. Antes, do "improvável" anunciado. Sim! Apago o abajur e, no escuro, observo o teto à procura das estrelas (que vejo concretamente). Apenas é estranho esse frio que me chega aos ossos da alma e uma solidão que, imprópria, me agrada ao imaginar que ela esteja feliz, plena. Em meio às cobertas, libidinosamente, escancaro para mim mesmo que sou paradoxal, disrítmico, eventualmente frágil, mas certamente um incorrigível amador. Amador como uma tatuagem que me queima deliciosamente.

19/07/2007

As estradas interditadas e seus pedágios desafiadores

Não lembro onde, mas certa vez li a frase: "As ilusões, perdi todas". Fiquei impressionado porque, embora triste, é linda e muito verdadeira. Ensaiei repeti-la, por bela.
Em seguida, deliciosamente, frustrei-me ao não conseguir pronunciar porque não é verdade em mim. Bissexto, descobri que não possuo essa poesia. O que sinto e digo é: "As ilusões, tenho-as todas em mim", uma frase não-poética, como uísque. E então fico pensando o que prefiro de fato, poesia ou uísque? Dúvida injusta porque não sou poeta, permito-me poetar simplesmente por ousadia desmedida. Então fico assim, no fundo sou apenas responsável e demasiadamente ousado, o que, em si, não é mérito, ao contrário. Sou e digo coisas que não devem ser ditas. Falo o que deveria ser silêncio. Abuso. Afasto de mim o silêncio sensato e me aventuro na madrugada (de mim). Empreendo viagem quando sou avisado que a estrada está fechada, não transitável. Por que? Ousadia de pretender inverter o que se dá na estrada? Não! Absolutamente! É uma insistência que beira o insano da não-poética "As ilusões, tenho-as todas em mim".
Talvez eu simplesmente seja um amador conseqüente que insiste em largar tudo e ir correndo. Ainda não aprendi a necessidade da prudência. Desdenho-a, para ser sincero. Blasfêmia? Mas existe algo mais blasfemo do que eu? Experimentei e experimento pagar todos os pedágios que surgem tranqüilamente ciente de que pode não haver nenhum caminho em seguida a esse mesmo pedágio. Caminho para lugar nenhum? Talvez, mas não aprendi também o que é caminhar com firmeza prévia para algum lugar. Se os preços forem caros, exorbitantes, encontro crédito e me endivido sem temor. Afinal, contraí mesmo uma dívida grande ao nascer. E, se o passado não me trai, entendo que o futuro também não o fará. Opto, por fim, por todos os riscos - que conheço - em troca da terra firme, da certeza sem sal. Sigo o caminho irremediável da busca do todo. O resto não é importante.

17/07/2007

Minha cadeira é muito desconfortável!!!

Vou falar lá com o camarada da editora. Tem que levar as coisas em papel, o que é um saco insuportável. Aqui no Brasil tudo é atrasado, tudo chato, toda pra desanimar. Eu não tenho a menos paciência pra essas coisas, pra esse tipo de vida de terceiro mundo. Depois não entendem quando eu digo que olho o mundo com tédio, quando digo que tá tudo errado e que não sou eu quem pretende mudar. A mim, resta criticar, criticar não porque é muito educadinho, resta meter o pau, mandar todo mundo se coçar e fazer as coisas direito. Tem uma coisa que tá me irritando muito, que eu não dou conta que são coisas comezinhas da vida. Eu prefiro grandes coisas, grandes alegrias, sustos, tragédias, sou mais Nelson Rodrigues que Machado de Assis (um chato!), prefiro estar fazendo alguma coisa que realmente valha à pena mesmo que seja ler o jornal de anteontem. Ler o jornal de três dias atrás é muito mais útil e interessante do que fazer um trabalho monótono ou tentar explicar as coisas para as pessoas quando elas não querem entender. Por isso trabalho cada vez menos em conjunto, cada vez mais sozinho e tenho sempre a posibilidade de não me olhar no espelho. No momento, só uma coisa me interessa: fico de barba ou sem barba? O resto é absolutamente babalaô, irrelevante!

Pesadelos de uma noite sem dormir

Porra, foi uma noite muito filha da puta, não por não dormir, porque estou pouco ligando pra isso, mas com a cabeça fervilhando em todas as coisas que eu vou ter que acertar nos textos do programa no mês que vem. Claro que o texto em si não tem problema, tem um cara que faz, mas nas informações prévias, no que vai ser mandado para o site do programa. Eles, imbecis, detonaram o site que eu tinha feito há quatro anos atrás e agora vêm feito cachorrinhos atrás, querendo solulções... Não tem! Não fizessem merda antes, agora eu não quero reescrever aquela coisa toda, não quero me preocupar (mais) com a incompetência de todo mundo, dessa ignara que me persegue, que não me deixa brincar de outra coisa. Como eu disse lá, bom é escrever aqui porque vale qualquer coisa, a gente fica só vendo o que os outros acham (e não acham nada - no que fazem muito bem!)

06/07/2007

15/06/2007

Confuso?

Lá no Pós Sobretudo de Lona eu tentei explicar umas coisas, mas não consegui, acho que aumentei a confusão que vai em mim e nas pessoas que me confundem querendo que eu não seja confuso o que provova mais confusão na tentativa de explicar o que seria confuso. Essa confusão é minha antiga companheira e não só confunde os outros, como, muito gravemente, confunde a mim mesmo, a minha vida, as coisas que me acontecem.
Porque há esse mau modo de achar que todas as coisas têm um porquê. Eu, há muito tempo aprendi que não, que as coisas não tem porquê e jamais pergunto.
Mas o destino é matreiro e vai cruzando coisas e pessoas no meu caminho, as oportunidades vão se apresentando e sumindo como por encanto fazendo com que eu responda a perguntas que ainda não me foram feitas e e pergunte quando deveria estar respondendo. Não vejo nada de mais nisso, mas as pessoas se espantam. E tome de me perguntarem!
Algumas outras ainda se assustam e se fecham, se protegem de mim ilusoriamente porque, na verdade, estão se escondendo de si mesmas, daquilo que estão sentindo e não estão compreendendo porque atribuem esse sentimento a mim que, por minha vez, seria o confuso e causador da confusão.
Fico angustiado tentando explicar, não às pessoas, mas a mim mesmo o que está acontecendo e porquê quando na verdade acho que não tem explicação, acho que é o susto, o instante, e explosão do encontro que as psicologias estão longe de explicarem, terreno mais propício a uma certa metafísica que não vai de encontro às minhas conclusões teológicas.

13/06/2007

Opção

Não chego necessariamente a me violentar quando digo que sou teu ou quando digo “se”. Olho em torno e reconheço a perspectiva da vida, do meu espírito perguntador e reconheço que sou de alguém sempre e que o “se” precede e precederá sempre qualquer ação, pensamento ou atitude minha. Isso não é mau, é assim. Existe, bem sei, essa relação de tempo e espaço que demarca indelevelmente toda a minha atuação. O que eu fiz foi ceder depois de estudar tudo o que existia em Alexandria. Agora, certo de que realmente não sei nada, cedo (devo ceder) na santa paz e ainda vou mais longe: te entrego todas as minhas madrugadas.

Verdade que meus olhos estão vermelhos e estranhos, verdade que meu cérebro não reage bem aos estímulos mais primários e que minha estética perdeu-se para sempre como pagamento a um trato que fiz, semelhante a Fausto. Fecho essa pasta transbordante de folhas minuciosamente anotadas e deixo-a ali, ao alcance das mãos para rever tudo talvez amanhã, talvez no mês que vem. Quando ela deixar, enfim.

Não vou lutar porque seria lutar comigo mesmo ou com essa parte de mim dominante, essa parte que a metafísica impôs como castigo pela minha eterna blasfêmia contra todas as forças que desprezei durante toda a minha eternidade.O que farei a seguir? Nada. Há um momento na vida que a maior ação é justamente a não ação, é saber que o momento é de entrega. Sem medo (entrega ou posse?). Ainda que não se creia totalmente. A entrega é feita. Plena.

(Retirado do Pós Sobretudo de Lona)

Trilhas

No caminho para o trabalho, surpreendo-me ao não ver ruas nem carros nem pessoas, mas uma sucessão de instantes que vem de encontro a mim e olhando para trás percebo que deixo um rastro de "instantes usados" ou "vividos". Por uma questão dialética mantenho o olhar firme para os instantes vindouros tentando enxergar mais à frente na esperança de perceber se ainda terei muitos instantes ou não. Levanto a cabeça, tento olhar por cima, advinhar o que está muito mais à frente. As pessoas esbarram em mim e me xingam, dizem impropérios e perguntam se estou embriagado. Sim, estou embriagado porque, antes de tudo, as noites me embriagam, meu eu se perde buscando algum conforto que reluta em chegar, em se manifestar. O AFAGO MANIFESTO PODE SER A ILUSÃO DO AMOR. nÃO. A ILUSÃO DO AMOR NÃO PASSA DE UM AFAGO MANIFESTO. E se é assim desisto dessa ilusão de amor e me locupleto em afagos mis, retumbantes, desses onde dias e noites perdem a importância, tornam-se apenas vias de tempo onde eu me realize.

12/06/2007

Queda

Certo. Falseio mais uma vez e vou de encontro ao nada já que esqueceram (mais uma vez!) as redes protetoras. Caio em câmera lenta como rezam os bons filmes (e os maus também - essas cenas são sempre iguais). Venho caindo lentamente, no início buscando débil algum ponto onde me segurar, algo que me impeça a queda e por fim meu corpo se entrega como num sacrifício pagão. Percebo a lona colorida do teto - que esteve tão próximo a mim nos últimos segundos - e constato que essa lona se afasta, como se ela estivesse caindo para cima, afastando-se do meu corpo e indo espatifar-se na lua talvez.
Na queda, junto com parte da minha alma e do meu amor ferido, perdi também o nariz de borracha vermelha que sempre faz tanto sucesso junto às moçoilas que sentam na arquibancada ali, muito próximas ao picadeiro.
E já que ele é individual, agarro-me ao instante, no átimo de racionalismo e vida, de coração pulsando em desassossego jamais pela expectativa do final da queda, mas pela posssibilidade de não estar acontecendo assim, exatamente daquela maneira, a possibilidade de aluinação (embora não saiba se a queda seria a alucinação ou chamar a queda de alucinação é que seria esta sim, alucinação). Se fosse horário de espetáculo, pelo menos o público saberia a resposta.

11/06/2007

Do entendimento

A questão do tempo que eu sempre falo (e estou estudando à sério agora) é fundamental, primordial para mim. Eu tenho um descontrole absoluto sobre o tempo, sobre a maneira de utilizá-lo corretamente e termino criando reviravoltas em mim mesmo e no meu entorno e fico devendo obrigações (nunca totalmente cumpridas!) para todo lado. Já escrevi aqui que passei quatro dias em casa e não produzi absolutamente nada do que tinha que produzir e agora chega a cobrança. É muita coisa para escrever e muitos livros para ler e a correspondência e não sei mais o quê.

A internet é um complicador necessário porque parte do trabalho que faço é em função dela, mas ela mesma, por outro lado, me distrai, me afasta de outras coisas que são igualmente prioritárias. Acho isso desesperador, essa minha falta de controle. O que me falta é esquizofrenia. Imagino que seja fundamental ter uma atitude esquizofrênica diante da vida onde possamos ir fazendo e falando coisas diferentes para cada um dos lados que nos dirigimos, tudo ao mesmo tempo e partindo desse mesmo eu.Dizer à cada pessoa aquilo que ela deve escutar, fazer as críticas necessárias aos roteiros de gravações, as correções óbvias nos verbetes da wikipédia que não param de chegar, escrever o texto destinado a mim mesmo e um outro (outro? outros!) para os espaços com que me comprometo.

Porque viver é mais do que ir à boate ou ao cinema, é, antes de tudo, comprometer-se seriamente consigo mesmo e depois cumprir aquilo que se propôs. Não fazer isso, que é básico, é não fazer nada, estar morto em vida, circular como um zumbi por vários lugares mas estar vazio. Porque é o seguinte: somos mais ou menos como baterias e nos descarregamos facilmente. Se o espírito não é recarregado, se a alma não percorre novos caminhos o corpo não acende a lâmpada existencial. Sem essa lâmpada, torno-me o nada, o renegado de mim mesmo que não fui capaz de buscar em mim, nesse eu que se acredita soberano, a matéria de renovação pródiga. Falta poesia e sem poesia o homem morre. É engano achar que a poesia é matéria apenas de poetas. O homem comum, medianinho, deve carregar em si uma explosão poética que torne relâmpago o encontro fortuito que se esconde em cada esquina.

E se estou estudando agora e aprendendo que o tempo é composto, “é uma realidade encerrada no instante e suspensa entre dois nadas” (Roupnel) e que os instantes são únicos, não se emendam uns aos outros para fazer “um todo”, enfim, se entendo esse raciocínio primário, busco em mim a solução que vem a ser o desafio do paradoxo. Se não perceber esse momento, não alimentá-lo e, se possível, acrescentar coisas a ele, estou involuindo a um fundo de poço meu, fantasmagórico por excelência e frágil o bastante para não me permitir dirigir um programa educativo ao mesmo tempo em que dialogo comigo mesmo sobre a metáfora proposta por Calvino que li na madrugada anterior.

E quando a menina resolve ler ao mesmo tempo os livros de Sartre e Camus que emprestei o que ela está provocando é uma incapacidade de compreensão em si mesma que desemboca afirmando a mim estar adorando, prova de que não está apreendendo e precisa de orientação mais severa. Então, se não sou um homem que se dilacera, serei incapaz de explicar a diferença entre os dois, normatizar o estudo dela, filmar as cenas para a televisão e reavaliar o paradoxo (será mesmo um paradoxo?) de Calvino.

Finalmente, dessa forma não estou me desconstruindo, matéria fundamental para qualquer passo adiante, estou mantendo-me numa linha que segue em frente, mas por inércia, jamais com a ilusão poética (e verdadeira!) necessária para que eu seja muitos em um só, não por capricho, mas porque quando não se é “muitos” dificilmente se chega a ser um.

(retirado do Pós Sobretudo de Lona)

09/06/2007

Tu

Espantas-me quando dizes fico. Quando mostras as mãos e as estica em minha direção ao mesmo tempo dizendo que fica e esperando serem por mim seguras num pedido para que fiques. Não é nada, é um balé místico de mãos e olhos, olhos que dizem tudo e mãos que comprovam, que reafirmam, que insistem em mostrar que a velocidade do belo é equivalente à sensação de ser, tornando-as ambas uma só terminação que cala fundo na alma solitária do mundo. O mundo, ao contrário, não percebe a alma solitária que se alegra e dispõe a tudo para atender aquele par de mãos docemente estendidas. Porque linguagens do corpo e do olhar são feitas apenas de uma para outra pessoa, não podendo ninguém mais perceber nada. São então, perceba bem, as nossas linguagens que dizem o que somos e o que queremos e o quanto faremos para isso, são as linguagens do olhar que vão estimular o outro a sentir, a sentir-se, a ser mais ou ser menos e o toque das pontas dos dedos das mãos estendidas não são mais que troca, juras de afeto, alianças não ditas, não faladas. São constatações daquilo que, se não foi, é.

(retirado do Pós Sobretudo de Lona)

Tarde

Tinha vontade de ter saído hoje. Queria adquirir uma coisa. Se tivesse carro talvez até tivesse ido, mas sem carro é foda, andar de táxi é caro pra caramba e de ônibus eu não ando, me perdoem mas eu não ando, pefiro não sair. Tenho medo de tudo na rua, das aglomerações, dos assaltos, balas perdidas e toda essa coisa e ainda vou me enfiar em ônibus? De maneira nenhuma. E essa é uma situação que vai durar porque o mar não está pra peixe, não vejo muita oportunidade de ganhar algum dinheiro extra, então fazer o quê? É uma sociedade em que vivemos sufocados, uma cidade tremendamente violenta, uma violência do tamanho do mundo e pensam que a gente não vai ficando traumatizado (além das fobias endógenas)? Vai, claro que vai. Daí fica essa história eterna de ter que pedir tudo em casa, pagar mais caro por tudo, ver o dinheiro indo embora assim, de qualquer maneira.
Gostaria de ter alguém para estar comigo, me levar aos lugares e me mostrar que as coisas não são tão assustadoras ou então me consolar se eu continuar achando tudo um pânico. Não existem essas pessoas. Existe uma troca apenas e quando não tenho moeda de troca, quando não tenho nada a oferecer... Complicada essa história toda, história que não tem fim. E ainda por cima me bate um sono que não me deixa ler e os contatos somem momentaneamente...

Surreal

Eu sinceramente acho Italo Calvino mais fantástico do que Borges embora se assemelhem em muitas coisas. Talvez Borges seja um fantástico mais clássico enquanto Calvino mais popular, não sei se é a definição correta. De qualquer forma, ambos colocam o mundo de pernas para o ar e não respeitam determinadas leis físicas que fazem o mundo caminhar tal qual é e não da maneira que eles descrevem. Bom, eu prefiro esse mundo que eles descrevem, me parece ser muito mais interessante, muito mais cheio de aventuras e descobertas, enfim, onde tudo pode ser muito melhor. A descrição de uma lua que está a poucos metros da superfície da Terra e que o narrador dessa história chama-se Qfwfq deve dar idéia de quão surreal pode ser esse conto. É Calvino, embora Borges nos enlouqueça com seu clássico Aleph. Por isso, não me sinto capacitado para fazer um crítica mais interessante sobre eles, já que sou tiete de ambos.... E nesse modelo o conto é fundamental porque joga o leitor de um lado para o outro e simplesmente termina. Não há tempo sequer de especulação porque estamos tentando compreender o que se passa, onde estamos, quem são aqueles personagens e quando a coisa mais ou menos se arruma, acaba. E vem outros com situações completamente diferentes, personagens outras e um mundo mais surreal ainda onde muitas vezes nos perdemos tentando entender local, era, enfim, alguma coisa e começa tudo novamente como numa montanha russa.

Explicação

É necessária a explicação pela mudança do template. Aliás, quem me conhece um pouquinho já deve imaginar. Minha inconstância, minha necessidade de mudar e experimentar coisas novas, minha incapacidade de conviver com uma mesma coisa com a mesma cara. Por exemplo, posso viver trinta anos com uma mesma mulher, mas estarei descobrindo nela sempre novas facetas, novas maneiras, novas coisas que me façam estar vivo. Posso escrever num blog a vida inteira, mas se é possível mudar a aparência de vez em quando, por que não? por que não ir mudando e experimentando essas coisas todas que a vida proporciona ainda mais com esse alerta vermelho de que ela é breve? rs Pois então. Uma outra coisa. Num escrito abaixo eu falava de uma coisa, uma foto que não está mais no blog. Tirei porque uma pessoa me alertou de que era uma imagem muito crua e eu, depois de analisar bem, concluí que ela tem razão e retirei daqui. Porque se não fica dando uma idéia de uma coisa que não é verdadeira, como se eu fose uma coisa que realmente não sou e nisso não tem nenhum puritanismo não.

08/06/2007

Estética

uma pessoa me diz que essa imagem abaixo não é bela porque é muito "crua". Será mesmo? Belo é necessariamente o que se insinua, mas não mostra completamente? Pode ser, claro. Não tenho certeza. Acho que uma coisa exposta claramente, dependendo do lugar e situação e de como colocamos pode ser estética de qualquer maneira. Acho lindo, por exemplo, uma pessoa que se expõe intimamente para uma câmera sabendo que há outra pessoa, do lado de lá, admirando. Não? por que? Quais são, afinal, os critérios de estética? Pelo que tenho lido ao longo da vida são tantas e tantas teses sobre estética e tão contraditórias que é muito difícil chegar a um acordo. Os autores escrevem páginas sem fim, mas é sempre uma impressão pessoal, de cada um, o que acaba numa geléia geral porque não existe regra mais ou menos entre todos. Aliás isso é compreensível isso porque são mesmo pessoas diferentes que estão falando de uma coisa, mas falando pessoalmente, com sua própria visão. Então os conceitos estéticos não são lineares nem fechados. E se não são, posso achar a fotografia abaixo bela. Ou não?

Não perder

Aqui eu escrevo bem mais a vontade do que no Pós Sobretudo de Lona, acho que lá eu tenho uma espécie de responsabilidade de levar adiante uma persona, não sei direito. Talvez aqui o template seja mais afável para a escrita ou então não sei bem realmente qual é a história e nem importa tanto também.
Vejo muita gente bacana no Blogspot, muita gente escrevendo tudo o que vem à cabeça e termino enconrando muitas idéias bacanas, coisas que rolam mais ou menos parecidas comigo também. O certo seria eu linkar todas essas pessoas aqui e escrever para todas elas falando das coisas, o que termino não fazendo por um motivo ou por outro.
Parece mentira, mas a vida on line é corrida, a gente tem que entrar em um monte de lugares, deseja falar com um imenso número de pessoas, encontra muito mais gente que na vida real e acaba 'perdendo' um pouco algumas dessas pessoas.

É uma tolice achar que a vida na internet é diferente da vida como ela é. Não é verdade. As pessoas, cada vez mais, estão aqui, estão fazendo contatos e vivendo em relação aos contatos que fazem aqui e isso vai rolando de uma maneira incrível que muitas vezes nem nos damos conta. Mas é preciso estar atento pra não deixar passar nada porque nessa vão amizades em potencial, vão pessoas que têm muito a acrescentar. Na verdade, todo muito tem muito a acrescentar e não perceber isso numa sociedade em rede é xangai demais, idiota demais.

Chegar

Uma coisa que me incomoda muito é que sou invariavelmente impaciente e injusto com as pessoas que vou encontrando por aqui. Cometo inúmeras injustiças e termino sendo grosseiro com pessoas que não têm nada a ver comigo. Depois me resta apenas pedir desculpas e esperar que me compreendam (o que não é legal).
A vida é assim: um eterno falar coisas e desculpar-se eventualmente. Uma eterna tentativa de colocar as coisas nos seus lugares, um entardecer pra sempre onde não chega a virar noite. Tudo são expectativas de uma relação melhor com o mundo, ainda que mantenha um pensamento e uma filosofia niilista, que tenha que carregar o peso da verdade, que tenha que me anunciar com trombetas metafísicas e essa coisa toda.

07/06/2007

Talvez

Às vezes penso que eu pago um preço (ainda que justo do ponto e vista do outro), alto demais para coisas que eu não tenho responsabilidade direta, autonomia de mudança imediata. Porque deveria-se entender a vida assim: tem muitas e muitas coisas que a gente é totalmente responsável e, pisando na bola tem mais é que dançar mesmo pra deixar de ser mané. Mas existem umas outras tantas coisas que a gente não é responsável direto, que estão além do nosso possível. Para esses casos deveria haver uma relevância maior. De toda forma, entendo que não haja na medida em que atinge o outro. É um paradoxo, uma situação limite onde o outro segue em busca da realização das suas expectativas e ficamos nós num mundinho cerceado. Só que a responsabilidade por esse mundinho nosso (que não atende a demanda humana) deveria ser mais ou menos acarinhada como se faria a um bebê amputado. Acho que é isso.

(publicado originariamente no Pós Sobretudo de Lona)

Batatas

Tem horas que me dá uma indisposição muito grande em relação a coisas e pessoas e, por fim, à vida de uma maneira geral. Não é uma questão de suicídio que seria muito mais simples, rápida e cabal, mas essa insistência na explicação da ação, da ação desconexa, da perplexidade que sinto diante de um mundo estranho, estranho principalmente a mim e que pune sem dó nem piedade quem não faz o que deve fazer. Mas não era para ser assim, não era.

O mundo precisava ser mais simpático aos estranhos desde que eles não fizessem mal deliberadamente. Por isso esse existencialismo e niilismo voraz toma conta de tudo: ele é uma defesa natural a toda essa coisa podre e hipócrita que só aceita pessoas de condições x e y e não mais as outras, como se fosse realmente assim, como se pudéssemos de fato escolher tudo, até o tamanho do peru. Olhar a vida e as pessoas com simplismo é cômodo demais, inoportuno demais, cruel demais. Eu não sei, pode ser que as pessoas consigam e tal, mas a mim nada parece bom e eu não aguento muito.

Daí esses filósofos loucos e apocalípticos que pregam um mundo tão louco, tão sem esperanças, que se reconstrói e se destrói novamente um sem número de evezs, talvez mesmo o número cem, não sei porque não sei o que digo mais quando me convenço de que o desabafo é a única coisa que resta num mundo perdido por nós, um mundo a quem não temos mais direito de entrar, acesso, não somos mais dessa tribo quando poderíamos ter sido se as coisas fossem diferentes. Batatas! Se as coisas fossem diferentes, não seriam essas, seriam aquelas e eu não estaria escrevendo isso e sim aquilo ou, muito provavelmente, nada.

06/06/2007

Luta

A luta diária não é pela certeza porque ela não existe como tal, a luta é por um talvez cheio de vontade, de força de vontade mesmo capaz de nos tirar do imobilismo cômodo da aceitação banal e jogar de novo num lago que pode afogar ou redimir. Prefiro a idéia de redimir, redenção, prefiro ser o que não fui ontem, prefiro procurar mostrar alguma coisa de melhor em mim, ainda que não haja muita coisa, prefiro viver arriscadamente, mas saber que as possibilidades estão aí, que a vida não está sendo jogada fora e que cada quantidade de oxigênio inalado pode trazer alguma coisa nova para que eu transforme e reproduza no outro. O outro é a minha meta, o outro é a minha expectativa, o outro é a possibilidade da vida santa, do reconhecimento de ser humano. Todas são vertentes de uma mesma história que tem uma trajetória, que não deixa de ter uma motivação, uma expectativa maior, uma ansiedade gostosa de possibilitar algo que faça valer a pena viver. Todo o resto é desimportante, usual, corriqueiro.

Voltando

Engraçado que recebo muita correspondência de gente que vem aqui embora eu não tenha escrito regularmente já que ando ocupado com o Pós Sobretudo de Lona. Na verdade não é exatamente fata do que dizer até porque minha maior produção está indo pro word sem ser publicada na internet. É que eu tinha achado que rolava um esfriamento aqui e só me dei conta (além dos e.mails comentando) por causa de relatórios estatísticos que recebi do site meter mostrando o número de acessos diários por essas bandas.

Dessa forma, volto a escrever pra cá, um lugar porque nutro muito carinho e que foi o pontapé de uma volta depois de parar um antigo espaço, o Sobretudo de Lona por um bom tempo.
Mas também a gente tem que ver como divide o tempo porque além do trabalho tem que participar de listas de discussão e outras coisas e o tempo vai passando depressa, não dando tempo de trabalhar com calma nos espaços em que devem ser publicadas as coisas específicas. Vira um corre-corre, uma gincana, o que não é legal porque termina não saindo tudo bom, não é verdade?

Semente

O que me incomoda é essa história da gente estar sempre dizendo e re-dizendo as coisas até para nós mesmos quando parece que há uma onda de desentendimento, uma tsunami, que invade tudo e me deixa perplexo. Não quero viver esse apocalipse, não quero reconhcere a fraqueza de mim contra o Universo, principalmente esse universozinho aqui onde estou com pessoas em volta, onde estou lutando contra algumas coisas difíceis de serem detonadas. Não faz mal, acho que tem que continuar, tem que lutar porque se não lutar a gente morre, a gente deixa de ser gente mesmo quando acha que está saindo vencedor. Eu, definitivamente não quero isso pra mim e vou tentar sim, ainda que precise sentar em mesas de bar e ficar quantas horas forem necessárias contando, explicando e pensando sobre a existência (minha, nossa). Se estamos aqui é para fazer as coisas e uma fraqueza outra associada a um niilismo comum não podem desmanchar um universo inteiro de possibilidades só porque as coisas travam nos primeiros momentos.

Não, eu nasço hoje, caminho hoje em busca do novo, caminho pelas ruas, nos trabalhos, ofícios e principalmente dentro de mim, dentro desse lugar que, com certeza, precisa de arrumação, mas jamais de ser jogado fora. Vou continuar enquanto estiver vivo e saudável porque depois vem mesmo a danação e pra isso não tem escapatória. Quero me cuidar antes, agora. Quero cuidar do outro o quanto antes. Quero proporcionar alguma coisa de razoável ao outro e a mim mesmo enquanto essa história de aquecimento global não me esturrica e eu viro churrasco de gato velho.

E uma das coisas que me faz insistir são cartas que recebo de pessoas que não me conhecem, mas se identificam com uma ou outra coisa que vou escrevinhando por aí, pessoas que nem isso conseguem muitas vezes e se culpam por isso, o que é uma bobagem. Escrever é nada perto de ações. Escrever é alívio para momentos que ainda não foram colocados em prática, é uma espécie de preparação de uma carta de navegação. Escrever não se encerra em si mesmo, muito pelo contrário. É apenas reafirmar a si e ao outro que a história não acaba, que a gente corre pra lá e pra cá, mas essencialmente está atento, está com vontade de fazer alguma coisa, mesmo quando se perde no final.

Perder no final é a possibilidade sempre presente que a vida faz questão de mostrar, mas nunca motivo de desistência ou dúvida. Quer dizer, é claro que eu tenho todas as dúvidas do mundo e imagino mesmo que muita gente tenha, mas é exatamente nesse pântano de dúvidas que pretendo caminhar sobre as águas como Jesus, embora o desconsidere. Enfim, quero apenas repensar tudo e ser ponto de partida e não de chegada. Acredito que as pessoas tenham essa semente dentro delas, essa semente de mostarda (como li um dia) que permite o renascimento de alguma coisa muito maior apenar do tamanho ínfimo da semente.

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Atenção

Nada encontrado. Seria ousadia demais definir o indefinível, dizer quem sou ou se sou. Deve ser uma miscelânia de idéias entrecortadas, salpicadas de perguntas sem respostas e indecisões doloridas. O que mais poderia ser?

Em suma...

"Em suma, namorei o diabo sem ter coragem para ir até o fim"
Sartre

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