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11/10/2007

O homem de frente e meu Camel

Existem escritores e os que não o são. Eu não sou. Mas, errado ou não, mal ou não, eu vou escrevendo, vou digitando sentimentos, impressões, desejos e conclusões. E em grande quantidade! Já ouvi de várias pessoas a impressão que escrever é bom, que a gente meio que descarrega coisas, exorciza ou lá o que seja. Alguns, certamente exagerados e sem saber realmente o que dizem, falam que escrever é sua terapia (no sentido de psicanálise). Nem tanto! Mas, sem dúvida, escrever beneficia algumas pessoas e me incluo entre elas. Clarice Lispector dizia que escrevia sem saber escrever e que, portanto, o título de escritora lhe caía mal. Imagine em mim! Por outro lado, quem escreve não é um escritor? Sim, imagino que esse título caiba a romancistas, a pessoas cujo único ofício (profissional) seja o de escrever. Títulos à parte, a verdade é que tem um monte de gente escrevendo, milhões. Assim, como podem achar igualmente de mim, acho que se escreve muita porcaria, que era melhor não ter escrito nada, mas isso é retórica e gosto pessoal. É que a mim, algumas coisas parecem tão inverssímeis que cismo em descrevê-las.
Por exemplo, agora, quatro da madrugada, imagino que eu seja a única pessoa acordada sem necessidade, sem compromisso e espanto-me ao olhar e ver, na janela do prédio em frente ao meu, um homem à janela, olhando o nada, observando o negror que nos acoberta. Ele nem está lendo nem escrevendo: está ali, parado, olhando a noite! Talvez tenha o hábito de não dormir ou dormir pouco e fica ali, quieto, respeitoso ao descanso dos outros, observando estrelas e esperando o dia nascer. Pode ser também que ele estaja olhando para cá, para mim, talvez com pena de um homem ter que passar a noite trabalhando no computador. Mas eu não estou trabalhando, nada me obriga a estar aqui! Eis nossa igualdade, estamos, ambos, despertos à toa, sem necessidade, pelo hábito de não dormir. Talvez devêssemos telefonar um para o outro e trocarmos idéias sobre insônia, sobre madrugadas, sobre infindáveis observações sobre o amanhcer. Mas a ligação caractezaria alguma insanidade nossa, não o fato de não dormir, mas o telefonema. Não seria mais lógico o contrário? Não sei. Não estou disposto a perguntas difíceis. Mantemo-nos assim: eu aqui e ele lá, possivelmente um pensando na estranheza de hábitos do outro. Ele não sai da janela e eu não saio do computador. Às vezes me questiono se, nesse exato momento não está passando um cometa, se não estou perdendo um espetáculo. Espere, não aguento, vou à janela!
Pronto, fui! Não acontece nada. Pena, lembro que quando eu morei na cidade serrana de Secretário, via inúmeras estrelas cadentes todas as noites. As noites eram uma festa! Nas cidades grandes não temos essa visão (por causa da iluminação da cidade) .As vias, normalmente engarrafas de automóveis estão inteiramente vazias. Ouço, muito ao longe um “plim plim” da Globo a me anunciar que há mais alguém sem dormir, vendo televisão ou, como eu invariavelmente, dormindo com a TV ligada. Tomo canecas de café, fumo cigarros Camel (dificímos de achar) e aguardo mais um alvorecer. Gosto do alvorecer possivelmente mais do que do anoitecer. Não tenho certeza…

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Nada encontrado. Seria ousadia demais definir o indefinível, dizer quem sou ou se sou. Deve ser uma miscelânia de idéias entrecortadas, salpicadas de perguntas sem respostas e indecisões doloridas. O que mais poderia ser?

Em suma...

"Em suma, namorei o diabo sem ter coragem para ir até o fim"
Sartre

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