Geraldo Iglesias*

acho que tenho que tratar a vida não como tal, mas como um processo ilógico que transpassa o meu eu com a expectativa de alterá-lo.
e isso se dá mesmo. o elemento vida transgride sua realidade (será?) e molda comportamentos, atitudes e reações de todo mundo. eu sou todo mundo. não desejo ser, desejo apenas deixar o legado da minha inquietude malhado a ferro e fogo nos que privaram de mim.

não se trata, como pode parecer numa leitura superficial, da tentação de molestar ao outro com o que pareço ou posso realmente ser. não. precisa de uma leitura mais profunda, movida à carinho, e um eterno se dar (vinícius também disse isso) para realizar seu desejo mais delirante que é o de me possuir. minha história conta que sou possuível.

penso mesmo que ando de coleira com uma guia que se mistura ao braço da mulher em questão. sempre fui um possuído e, certamente, morrerei asim. uma análise um pouquinho mais atenta descobrirá que me busco na outra, que de mim tenho pouco, que sou o resultado de uma influência aparentemente culta, mas que, por sem orientação pedagógica, estilhaçou na área do pensamento ordinário.

essa história, somada a traumas e estresses pós-traumáticos pode convergir para uma terceira via, aparentemente incompreensível assim, de relance. Mas não é. por isso a leitura desse meu espaço torna-se chata, cansativa e irritante. porque aqui é o único espaço onde falo de mim, onde mostro as circunvoluções a que sou submetido todo o tempo gerando essa aparência desgastante e irreal.

comecei hoje outro espaço na esperança de fazer lá meu laboratório ainda que histriônico, mas capaz de tomar conta dos 179 volumes da minha tese manuscrita. agora, algumas horas depois da inauguração já não acredito na viabilidade da empreitada por força de uma incapacidade para alimentar tantos lugares ao mesmo tempo. por enquanto, é isso.