b. num instindo natural de auto-preservação afastou-se abruptamente de mim. ou eu dela. pelo que ela me disse mesmo tinha uma história de sincronismo e um desejo mais do que justo de um mínimo de aproximação e reciprocidade que eu inviabilizei. foi uma história capenga e, embora eu esteja aliviado por ela, por ela ter optado por seguir seu caminho, fiquei com uma certa e ilógica frustração. não é um sentimento perturbador não, é uma coisa leve.
estou usando o Ex-Sobretudo como o fórum adequado para tratar em resumo da nova sociedade em rede. ontem recebi muitos e.mails alargando a solução, pessoas que, através de avatares, dividiram o seu eu. depois, mais à noite, uma velha amiga querida questionou essa história usando uma argumentação convincente para a sua teoria (não vou entrar nos detalhes particulares). ainda à noite eu finalizei o último livro de philip roth (que trata das relações humanas à partir de seu personagem, um homem maduro, entrando no envelhecer)
lendo, lembrei um pouco do meu passado e me olhei, hoje, no espelho. porque eu tenho uma coisa forte de racionalizar a vida, de tentar compreender o que acontece com as pessoas e, lógico, comigo mesmo. não sei se isso é bom. recorri hoje cedo a determinados cadernos manuscritos onde narrei, de forma tortuosa, o que me aconteceu nos últimos anos. embora eu tenha abandonado fred de uma forma radical, continuo preso à um certo psicologismo.
escrevi três laudas de papel aqui na escrivaninha com minha caneta de pena e tinta verde. fiz o seguinte: descrevi a ação à partir de um ponto de vista próprio, como sendo uma análise correta de fatos. não vejo absolutamente fundamentos reais nessa análise, acho que é um possibilidade e não uma verdade. talvez seja a possibilidade de mais fácil análise, aquela a que se chegaria primeiro numa busca interior mais profunda com ou sem a ajuda de um psicanalista. não reconheço embasamento psicológico nisso tudo, mas, ainda assim escrevi.
na verdade é um repetir para mim mesmo, enquanto vejo o dia nascer, da velha história de que sempre tive esse avatar: primeiro, na adolescência, nos diários manuscritos e na fascinação pela literatura (porta de entrada a um mundo paralelo levado às últimas conseqüências por borges e casares) e depois pelas publicações na internet que eram tímidas porque o meio era iniciante, explodindo depois.
então aí, digamos, está uma predisposição. quando eu fui morar no campo, já existia há anos o Sobretudo de Lona, mas, impulsionado por uma série de fatores externos, deizei aquela publicação de lado e fui viver uma experiência fora da cidade. quando me instalei, quando acabou o corre-corre da mudança, o primeiro sentimento que me veio foi o de uma profunda, enorme e insuportável solidão. percebi que tinha cometido uma loucura, que sou um urbanóide e que aquela proposta fracassaria de qualquer maneira. mas eu já estava lá, a decisão já tinha sido tomada.
depois de alguns movimentos conscientes e outros nem tanto à época, eu criei uma outra realidade que era de não estar sozinho, usando para tal o mecanismo óbvio do casamento. se não me falha a memória daqueles dias iniciais, eu não tinha nenhuma motivação amorosa: eu dividiria minha casa com qualquer mulher. Mas que mulher abandonaria o seu mundo para, como waldem, enfiar-se no mato? uma consciência rastreadora me apontou para uma única pessoa.
uma mulher que eu conhecera há algum tempo pela internet. sua formação psicológica era fraca, vinha de um longo período viciada em cocaína e, naquele momento, sem as drogas, agarrara-se a um certo misticismo interessante porque não tinha uma opção muito forte, daquelas arraigadas pela religião. não. era um misticismo embrionário, experimental. trocar uma carreira de cocaína por acender um incenso (somado à formação de infância numa igreja batista em cidade do interior).
esses e outros motivos credenciaram essa mulher a morar comigo. atividade intelectual baixa e sexual alta. era assim simplesmente e eu me adaptei àquela vida, tornando o que antes seria impensável, numa realidade aparentemente sólida, fator de um certo equilíbrio necessário para levar a vida naquele momento. ao fim de alguns meses, a relação estava mais ou menos estabilizada e entendi aquela história como uma verdade vivida. mas é óbvio que não era.
aconteceram duas coisas ao mesmo tempo, como duas bombas explodindo num barraco de zinco. a eleição de lula/farc/chavez, mudando radicalmente a gestão no meu trabalho e uma certa crise que a mulher teve, decidindo, por si só, retornar à sua vidinha anterior. foi exatamente assim: as duas coisas ao mesmo tempo. e aquilo era inevitável, intransponível, impossível de remediar.
o resto já foi mais do que contado: desfiz a casa, aluguei um apartamento no rio, perdi a companhia da mulher e perdi meu trabalho. foi um baque forte porque, de repente, no lugar de uma vida (possível ou não) com uma certa estabilidade, eu me vi encerrado num apartamento, sozinho e execrado profissionalmente. fiquei assim por cinco meses. eu não tinha rigorosamente nada para fazer nem onde ir. é possível, veja, apenas possível, que nesse período eu tenha tido uma espécie de surto (manso) criando então um novo mundo para mim. e esse mundo era só meu.
por sua vez, um amigo teve um grande baque emocional ao se seprar da sua muklher e, num primeiro momento foi morar comigo por falta de opção e a necessidade de ter um amigo para escutá-lo. fiz a minha parte de confidente, mas logo percebemos (principalmente ele), que a grande vítima na história era eu que estava ali, dopado de medicamentos e sem perspectiva de trabalho (do qual fui alijado). esse amigo fez gestões no meu emprego e me reconduziu ao trabalho, ainda que com um salário insignificante.
esse episódio foi extremamente positivo porque a terapia ocupacional é fundamental, até dentro de hospícios! aos poucos fui me reintegrando ao trabalho. e assim fui indo. trabalhando e indo para casa. sempre para casa. para casa. para casa.
eu não necessitava mais de tanta medicação (até para poder exercer a atividade minimamente intectual que o trabalho demandava) e assim eu fiquei técnicamente, integrado ao mundo.
de extremamente irascível no trabalho desde sempre, tornei-me uma pessoa dócil e de fácil relacionamento com os colegas. todos ficaram contentes e deu-se o caso por encerrado.
anos mais tarde, começaram a perceber que eu fazia tudo normalmente, mas não participava de nenhuma atividade, nenhum encontro de colegas ou o que quer que fosse. no início as pessoas insistiam, mas como é natural, aos poucos foram deixando de insistir e tratando com naturalidade a minha excentricidade.
estou ficando cansado de escrever essa história. deixa eu pular umas partes porque, se não, a coisa não termina. retornei a uma intensa atividade na internet e, outras reviravoltas, casa de campo vendida, comprei um apartamento na lapa ao lado do trabalho e aqui estou eu.
então, se quisermos acreditar que essa teoria é a mais próxima da verdadeira (o que não tenho absoluta certeza), concluímos que rompi comigo mesmo de uma forma socialmente aceita e passei a dar voz a mim mesmo na internet, entrando pouco a pouco e depois definitivamente, na sociedade em rede.
e, como já me repeti inúmeras vezes por aqui, as pessoas entram na internet por carência (sempre!), buscam encontrar pessoas, conhecê-las para trazê-las para junto de si, ocupar o vazio que a fez um dia entrar num espaço de relacionamentos virtual. e, se quero manter o status virtual, frustro quem acreditou estar fazendo as coisas dentro na maneira socialmente correta e aceita.
poderia dizer mais algumas coisas, mas cansei de escrever....
14/03/2007
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- G
- Nada encontrado. Seria ousadia demais definir o indefinível, dizer quem sou ou se sou. Deve ser uma miscelânia de idéias entrecortadas, salpicadas de perguntas sem respostas e indecisões doloridas. O que mais poderia ser?
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