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30/03/2007

Texto atropelado por fatos


fiquei muito impressionado com uma coisas que andei lendo e me fizeram escrever uma tentativa de ensaio no Guardapo sobre a nossa reinvenção diária e essa possibilidade de procurarmos entender nossos papéis. começa que eu falei no plural e, ainda que eu considere o assunto realmente plural, trato exclusivamente de mim naquilo que escrevo. também não é isso. trato de todos, mas a verdade é que só posso estar falando de mim já que ninguém mais no mundo tem que compartilhar do que penso. mas não dá outra: olho pela janela e começo a taxiar em casa para mais um dia pela frente (sem deixar de pensar em amanhã e depois de amanhã) e fico vendo qual será o meu papel. uma leitora camarada me escreveu um mail falando que concorda com a história das nossas máscaras e indo um pouco mais fundo ao me alertar que, mesmo em pensamento, somos uma interpretação de alguma coisa. ela tem razão, sem dúvida. não tinha explicitado antes, mas penso assim também.
tem uma terminologia muito usada (na literatura principalmente) que fala das 'marionetes de deus'. normal. se deus existe, não há hipótese de não sermos suas marionetes. agora, se eu estiver correto na minha crença de que deus realmente não existe, de quem seríamos marionete? ou, seríamos marionetes? é uma forma de não assumir a responsabilidade integral por todos os meus atos? também não creio.

seria coisificar e, pior, simplificar muito, afirmar que posso desejar aliviar-me um pouco do peso da consciência de ser pleno, dono de todas atitudes, pensamentos e, óbvio, consqüências. ao contrário. pelas mãos de deus ou pelas minhas próprias sou eu quem faz tudo. responsável absoluto até mesmo por uma certa parcela de coisas atribuídas à um conceito duvidoso de destino. creditar acontecimentos a um impalpável destino seria negar a morte se entendemos que morte e destino têm lá suas raízes num facilitador de idéias onde tudo está previsto. sim ou não? dá para pensar porque se digo que o destino irremediável de todos é a morte, estou dizendo que a idéia de destino é irrelevante. se a certeza da finitude é concebida, porque misturar no mesmo escaninho a idéia de que outras coisas podem ocorrer por influência de um destino? só a comodidade de raciocinar pode conviver com essa idéia frágil.

então, ainda para avançar na explicação à minha leitora, eu imagino que a própria constatação de que me invento e reinvento, escrevo meus papéis, uso e descarto minhas máscaras e adereços ao longo do tempo, não interfere no conceito de que toda essa experiência é um resultado de mim mesmo, da minha ação. (já falei por aqui, acho, que a metáfora de que 'por trás de todo relógio, há um relojoeiro') perde qualquer conteúdo ao olharmos hoje países como a china detentoras de máquinas e programas que produzem milhares de relogios digitais por minuto ( e dizer que por trás da máquina há um criador dessa mesma é brincar de jogos de espelhos - também uma brincadeira engraçada para as horas de recreio de alunos de colégio primário)... e como a minha cabeça dá voltas, lá estou eu me afastando completamente da história...

a coisa é assim... perceber que não me vejo com a obrigação de conviver em sociedade como ela põe e como se entende. ter a chance de escrever minha história e, se considerar fútil, amassar o papel e começar de novo. não começar também, se parecer melhor. já ensaiei a história de que o mundo não é esse e sim outro, que corre em paralelo, usando a expressão 'avatar' que, não compreendida ou aceita, troco por ator. tanto faz. só não quero para mim é o papel de ator que cumpre o script desenhado por outro framaturgo. isso, definitivamente, não. tudo o que eu vivo é ficção (barata) e escrita por mim mesmo. mais: escrevo, mas sou pernonagem dessa mesma ficção e assim, me reescrevo. não perceber isso é não entender nada. não entendendo, nada é nada.

em determinados momentos (que revejo de vez em quando), acho que estou utilizando esses escritos (que podem parecer reais) para ensaiar à minha grande ficção (sempre barata!). deixei um pouco de lado a possibilidade do palimpsesto e parti para outra, uma coisa caudalosa (que não diz muito), uma coisa que pode parecer estar vivendo 'aqui'. por isso, é interessante tentar perceber o que digo por fazer ficção e por me reinventar. a idéia de estar descrevendo algo não é oposta à de estar vivendo que, por sua vez, também não é oposta à de que é ficção.
imagino que esse pensamento esteja muito mais no campo do sentimento do que da racionalização. assim, imagino que eu precise, para continuar a existir, ser antes de tudo 'sentido' e não, 'compreendido'.

Nota: embora ainda não esteja concluído, conversei sobre situações análogas ao que eu estava desenvolvendo em texto. na conversa, reproduzi palavras do texto. Os acontecimentos próximos darão embasamento à conclusão desse pensamento. Agora preciso dar uma parada.

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Nada encontrado. Seria ousadia demais definir o indefinível, dizer quem sou ou se sou. Deve ser uma miscelânia de idéias entrecortadas, salpicadas de perguntas sem respostas e indecisões doloridas. O que mais poderia ser?

Em suma...

"Em suma, namorei o diabo sem ter coragem para ir até o fim"
Sartre

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