pensando...
eu tava ali quietinho no estúdio menor, próprio para as gravações mais simples, de pequena monta. o supervisor veio me perguntar se, já que eu eu estava operando a mesa de corte, podia liberar o diretor de tv. tem sempre isso: alguém tentando ir embora mais cedo, pra enfrentar o seu ônibus em direção ao subúrbio onde o espera a mulher e as crianças.
eu disse que sim, claro, podia liberar sim, que eu mesmo faria a parte dele. há muitos anos tenho o hábito de operar a mesa de corte de câmeras porque, se a idéia está na minha cabeça, para quê, repassá-la a outra pessoa? nesse meio tempo, o que eu queria, já se deu..rs aliás, depois que a iluminação está pronta e afinada, o vídeo corrigido, o áudio modulado e toda aquela história desses estúdios pilotados por quase três dezenas de pessoas, eu dizia, depois que a coisa está feita, eu libero o maior número de profissionais possível, para trabalhar com uma meia dúzia. prefiro assim. me bastam.
mas eu dizia que estava ali num canto do estúdio gelado, enquanto preparavam aquela parafernália técnica toda, mas não tava muito ali não. tava longe. tava pensando na vida. tava pensando nos dias que passaram e nos que virão. sobre o o quê? nada. tava levemente preocupado porque o o encadernador que trabalhava para a casa cruz fazendo um tipo de caderno que uso muito, está velhinho, quase não produz mais e os cadernos rareiam... o que mais? que eu andei escrevendo em três cadernos ao mesmo tempo, mas um se completou e um outro está quase... vou tentar me policiar para escrever num caderno de cada vez.... o que mais? numa determina crônica que eu li do vinícius para um amigo, tão bonitinha. porque... assim... o vinícius não era bárbaro! genial! maravilhoso!... não, com certeza esse não era ele: ele era bonitinho, carinhosinho, poetinha... queria ser ele quando eu crescesse....
mas no que, afinal de contas, eu tava pensando? numa cartinha que comecei a escrever hoje na minha sala, mas parei no meio, dobrei e guardei no bolso de trás da calça, na minha amiga que me deixou um recado carinhoso na minha secretária eletrônica ontem e eu esqueci de retornar, na linda crônica do veríssimo hoje no Globo, no livro ' a teus pés' da ana c., no fernando lobo, no mário lago, na georgiana de moraes, no paulo gracindo... enfim: pensando. meu ofício é pensar. o resto eu faço assim, pra cumprir determinadas obrigações próprias da vida, mas o que eu gosto mesmo é de pensar, de lembrar... de ficar tomando coca cola e fumando, descalço na sala, olhando fixamente o chão e com a cabeça longe... o grande segredo da história é que realmente ninguém, mas ninguém mesmo nunca soube nem sabe desse segredinho que estou contando agora. não sou um amador, nem um sonhador: sou, antes de tudo, um pensador. com p minúsculo, é claro...
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