ateu
eu sempre achei engraçado quem vai a podólogo. não pela ação e sim pelo nome. mas veja só: hoje fui cortar as unhas dos pés e consegui, ao invés da unha, arrancar um pedaço de carne do dedão. nem eu acreditei que tinha sido capaz de fazer aquilo. o treco começou a sangrar que não parava mais. eu apertei, apertei, tentei estancar de toda maneira, mas quando achava que a coisa tava resolvida, via o rastro de sanguinolento pela casa. devo ter perdido uns 15 litros de sangue. isso se não peguei ainda uma bruta infecção que vá me obrigar a amputar a perna. (verdade que, sem ela, não terei mais as unhas para cortar)
liguei pra casa de um amigo judeu (não praticante), mas ele não estava, tinha ido para a casa da avó comemorar a páscoa que, pelo que entendi, esse ano coincide com a dos cristãos. eu acho isso um absurdo! essas datas festivas, comemorativas de religiões diferentes não poderiam jamais cair num mesmo dia... porque o ateu se fode! deixa eu explicar:
o ateu vive exatamente das sobras da religiosidade de cada um. quando um grupo está festejando isso ou aquilo, o ateu se vale do outro grupo, da religião distinta para ter companhia. mais. o ateu é tão carente desse desencontro de religiões que ele concorda em criticar a religião que está em festa ou, pelo menos, participar daquele falso silêncio contrito dos que estão intimamente ironizando o outro grupo. o ateu, é um franco atirador, um espião duplo que atende a dois ou mais grupos rivais. o ateu peca e reza fervorosamente pra que sobre um espaço pra ele. o ateu é bem visto apenas pelos momentaneamente inseguros. estes, quando a vida volta a sorrir, se prostram em agradecimento a deus.
deus é um hitler pros ateus.
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"Deus não existe (...) A salvação de todos consiste agora em provar essa ideia a toda a gente, percebes? Quem é que há-de prová-la? Eu! Não entendo como é que até agora um ateu podia saber que Deus não existe e não se suicidava logo. Reconhecer que Deus não existe e não reconhecer ao mesmo tempo que o próprio se tornou deus é um absurdo, pois de outra maneira suicidar-se-ia inevitavelmente. Se tu o reconheces, és um rei e não te matarás, mas viverás na maior glória. Mas só o primeiro a perceber isso é que deve inevitavelmente matar-se, senão o que é que principiaria e provaria?
Sou eu que me vou suicidar para iniciar e para provar. Ainda só sou deus sem querer e sofro porque tenho o DEVER de proclamar a minha própria vontade. Todos são infelizes porque todos têm medo de afirmar a sua vontade. Se o homem até hoje tem sido tão infeliz e tão pobre, é precisamente porque tem tido medo de afirmar o ponto capital da sua vontade, recorrendo a ela às escondidas como um jovem estudante.
Eu sou profundamente infeliz porque tenho medo profundamente. O medo é a maldição do homem... Mas hei-de proclamar a minha vontade, tenho o dever de crer que não creio. E serei salvo. Só isto salvará todos os homens e há-de transformá-los fisicamente, na geração seguinte; porque, no seu estado físico actual (reflecti nisso muito tempo), o homem não pode, de modo algum, passar sem o seu velho Deus.
Durante três anos procurei o atributo da minha divindade e achei-o: o atributo da minha divindade é a minha vontade, é o livre arbítrio. É com isso que posso manifestar sobre o ponto capital a minha insubmissão e a minha terrível liberdade nova. Porque é terrível! Mato-me para afirmar a minha insubmissão e a minha terrível liberdade nova."
Fiodor Dostoievski, in "Os Possessos" (discurso do personagem Kirilov)
Sou eu que me vou suicidar para iniciar e para provar. Ainda só sou deus sem querer e sofro porque tenho o DEVER de proclamar a minha própria vontade. Todos são infelizes porque todos têm medo de afirmar a sua vontade. Se o homem até hoje tem sido tão infeliz e tão pobre, é precisamente porque tem tido medo de afirmar o ponto capital da sua vontade, recorrendo a ela às escondidas como um jovem estudante.
Eu sou profundamente infeliz porque tenho medo profundamente. O medo é a maldição do homem... Mas hei-de proclamar a minha vontade, tenho o dever de crer que não creio. E serei salvo. Só isto salvará todos os homens e há-de transformá-los fisicamente, na geração seguinte; porque, no seu estado físico actual (reflecti nisso muito tempo), o homem não pode, de modo algum, passar sem o seu velho Deus.
Durante três anos procurei o atributo da minha divindade e achei-o: o atributo da minha divindade é a minha vontade, é o livre arbítrio. É com isso que posso manifestar sobre o ponto capital a minha insubmissão e a minha terrível liberdade nova. Porque é terrível! Mato-me para afirmar a minha insubmissão e a minha terrível liberdade nova."
Fiodor Dostoievski, in "Os Possessos" (discurso do personagem Kirilov)

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