Opção
Não chego necessariamente a me violentar quando digo que sou teu ou quando digo “se”. Olho em torno e reconheço a perspectiva da vida, do meu espírito perguntador e reconheço que sou de alguém sempre e que o “se” precede e precederá sempre qualquer ação, pensamento ou atitude minha. Isso não é mau, é assim. Existe, bem sei, essa relação de tempo e espaço que demarca indelevelmente toda a minha atuação. O que eu fiz foi ceder depois de estudar tudo o que existia em Alexandria. Agora, certo de que realmente não sei nada, cedo (devo ceder) na santa paz e ainda vou mais longe: te entrego todas as minhas madrugadas.
Verdade que meus olhos estão vermelhos e estranhos, verdade que meu cérebro não reage bem aos estímulos mais primários e que minha estética perdeu-se para sempre como pagamento a um trato que fiz, semelhante a Fausto. Fecho essa pasta transbordante de folhas minuciosamente anotadas e deixo-a ali, ao alcance das mãos para rever tudo talvez amanhã, talvez no mês que vem. Quando ela deixar, enfim.
Não vou lutar porque seria lutar comigo mesmo ou com essa parte de mim dominante, essa parte que a metafísica impôs como castigo pela minha eterna blasfêmia contra todas as forças que desprezei durante toda a minha eternidade.O que farei a seguir? Nada. Há um momento na vida que a maior ação é justamente a não ação, é saber que o momento é de entrega. Sem medo (entrega ou posse?). Ainda que não se creia totalmente. A entrega é feita. Plena.
(Retirado do Pós Sobretudo de Lona)
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