Geraldo Iglesias*

o carnaval é o tempo para pensar... rever algumas posições, conceitos, coisas que deixamos sempre para amanhã só aumentando o labirinto que me prende. enquanto as pessoas se sacodem pelas ruas eu busco a serenidade do isolamento para concluir mais um caderno de pensamentos. nele eu dizia que nada está completo, que estou engatinhando pelas vias transversas dos relacionamentos ora amados, ora demonizados. em mim mora um anjo e um demônio, com prevalência desse. meu demônio é meu principal carrasco, impondo sempre a mim antes de tudo a tarefa de traduzir o sentimento, a neurose, a paixão e a dor, tudo como uma coisa só.
e claro que "o demônio são os outros" também :)
* * * * *
as pessoas vão passando, vagando ora silenciosas, ora nem tanto, todos buscando um objetivo comum e estranham e fogem de mim quando mostro o buraco cavado no inconsciente à custa de vodka e discursos malsãos. essa vida cinzenta é apenas a outra face da moeda, a da vida esplendorosa, ambas ao nosso dispor e, isso sim, indissociáveis. e aí vem o medo.
por fim, tudo acaba nos espelhos, nesses reflexos de nós mesmos que nos assustam, nos expõem e nos martirizam.
* * * * *
o sono leve e inquieto, a percepção de que estou ali, sempre na fronteira, no limiar... a idéia da finitude se mistura com a da perpetuação através dos descendentes ou dos escritos ou pinturas ou músicas... vamos deixando rastros que não se apagam e a experiência vivida fica complexa e frágil, algo como etérea e sempre limítrofe. a filosofia é um recorte individual na estrada da vida, está subordinada ao tempo ou a imprevisibilidade do próprio ser.