como eu não durmo mais mesmo, aproveito para relembrar as coisas.
Minha primeira grande queda, fratura exposta foi aos 17 anos. aconteceu assim: na adolescência eu era arredio e não muito aceito pelos grupinhos de meninas e meninos... aquelas festinhas e tal. e, por incrível que pareça, um belo dia comecei a namorar beth, 16 anos, a menina mais cobiçada do grupo.
o namoro transformou-se em enorme paixão mútua, dessas avassaladoras, que parecem não ter fim. passávamos os dias e noites juntos numa explosão de sexo e afeto, uma mistura de sentimentos e corpos. naturalmente nos afastamos dos outros meninos e passamos a ter uma vida inteiramente independente, única.
eu trabalhava em teatro, mas até durante os espetáculos ela estava ali, grudada em mim. beth era realmente encantadora e linda. o mundo mudou, eu era outra pessoa, fui catapultado da adolescência para uma vivência raramente conquistada até nos adultos.
não tinha meio de transporte e a época era a das motocicletas, mesmo que fosse a simples honda cinquentinha. eu queria ter uma, sabia que ela queria também. precisava tomar uma atitude, mas meus ganhos estavam longe de poder comprar uma coisa assim... cego e desesperado, tomei a atitude mais vil, pior, a única que jamais esqueci e nunca, nunca me perdoei. roubei o dinheiro de uma pessoa da minha família. justamente da única pessoa que eu jamais poderiar causar tal dano. essa pessoa tinha acabado de pegar aquele dinheiro por empréstimo, para comer.
marginal, afastei-me da família inteira e proporcionei a beth o sonho dourado dos incontáveis passeios de moto, nossos longos cabelos ao vento nas noites da zona sul, no meio das manhãs de grumari. mesmo renegado eu estava pleno, absoluto, vivendo uma vida dourada junto com a pele quase menina dourada de beth.
um dia, após uma noite juntos, levei-a para casa e retornei para a minha, certo de que o máximo que acontecia era um dia nascer após o outro e eram dias maravilhosos.
no sinal em frente ao hospital pinel eu dei uma freada inconseqüênte e fui atropelado por um karman-guia amarelo que fugiu sem me socorrer. fiquei ali, estatelado no afasto no meio da madrugada.
por fim, alguém me socorreu e levou para o hospital rocha maia (eu estava na porta). as dores eram insuportáveis e, ao rasgarem minha calça, me deparei com a imagem dantesca de uma fratura exposta. os ossos da minha perna quebraram tão violentamente que rasgaram minhas carnes, mostrando aquelas pontas de ossos ensangüentados. imagino que tenha sido a maior dor sentida em toda a vida.
por falta de recursos naquele hospital, me transferiram para o miguel couto onde fui operado duas vezes, fiquei numa tração torturante por não sei quantos dias até me transferirem para um hospital do INPS. Um mês depois, cheio de parafusos que amparavam meus ossos, fui para casa, engessado até a virilha e com o prognóstico de que um ano depois, eu voltaria a andar.
fiquei enlouquecido. um ano na cama. o fim. beth ia sempre que possível ficar comigo. aqui, me permito saltar várias etapas da narrativa para não ser maçante demais. agora a mesma linda beth tinha 17 anos. eu, um aleijado. para resumir, quando, ainda engessado, comecei a caminhar apoiado numa bengala, a última imagem que me recordo é a de beth entrando num automóvel Opala, do seu recente namorado. Foram passar férias em minas gerais. eu.... fiquei mancando até hoje.
01/03/2007
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Atenção
- G
- Nada encontrado. Seria ousadia demais definir o indefinível, dizer quem sou ou se sou. Deve ser uma miscelânia de idéias entrecortadas, salpicadas de perguntas sem respostas e indecisões doloridas. O que mais poderia ser?
Em suma...
"Em suma, namorei o diabo sem ter coragem para ir até o fim"
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