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01/03/2007

acho que a gente tem essa coisa de auto-preservação tão enraizada (pelo óbvio motivo da sobrevivência) que o afastamento é realmente menos penoso do que a convivência frágil da virtualidade. o fastamento é o último recurso, última hipótese a quem se entrega e tem a natural expectativa de um mínimo de reciprocidade do outro. quando esse outro se mostra totalmente incapaz vem uma enxurrada de sentimentos que vão da tristeza ao ódio.

são movimentos tão sutis nessa entrega/reciprocidade que, numa proposta mínimamente saudável, é impossível conviver com essa espécie de holograma, esse inconcebível rosto que nega a vida. imagino que numa penitenciária o preso guarde o retrato do objeto do desejo justamente pela certeza de que, liberto, voltará ao convívio da relação (por mais degradante que ela possa vir a ser).

a prisão psicógica não tem calendário, não conta com a ajuda de um juiz que estipule um espaço de tempo para o afastamento de um sujeito da sociedade. mais: ainda assim o segregado tem direito a visitas íntimas, momento aguardado saudavelmente pelo casal momentaneamente disperso. infelizmente é absolutamente impossível desejar, imaginar até, que uma pessoa viva uma vida que não é, que não tem o movimento do outro.

uma pessoa que, por determinação própria ou por surto psicótico (que seja), não permite ao outro condições naturais, ainda que mínimas, de uma convivência humana tal como ela é, não pode em circunstância de qualquer espécie ou explicação, se mostrar ao outro, alimentar sentimentos quaisquer que não queira ou possa concretizar.

a internet, em que pese sua contemporaneidade, seu acesso aos saberes e aos contatos, pode ser a encubadora de pessoas que se mostram, mas são invisíveis, se insinuam, mas são inalcansáveis, que se escondem da forma mais vil, da forma que engana o mais arguto conhecido, que é mostrar-se totalmente. ao despir-se, ele gera a confiança do mais desconfiado porque não há mentiras sobre o seu eu.

essa, entretanto, é a mais diabólica forma de iludir e enganar porque mostra que existe, que está ali, é palpável. o outro participa desse encontro e possivelmente se entrega diante de tanta realidade. mas não é. esse objeto que tem nome e forma pode ser a exaltação de uma alegoria, de um esplendor e não o destaque propriamente dito, o humano.

o baile de máscaras é gratificante pela brincadeira, pela máscara que esconde o verdadeiro rosto, pelo mistério e a excitação, pela fantasia natural de saber que, por trás do elemento máscara, existe uma pessoa, que ela está brincando consensualmente, mas o baile em si é um recorte de espaço e tempo, fixadas claramente as horas do início e do fim. por isso é bom.

descobrir-se, findo o tempo e espaço estipulado, que o outro apresentava sua própria face sob a forma de máscara é a contradição absoluta da própria essência da máscara, é a constatação do engano mais pueril, da farsa mais bem engendrada, da mentira abissal daquele que usou toda a sua verdade como forma de viabilizar toda a sua mentira. é despertar de um pesadelo que sonhou ser um baile de máscaras.

fato consumado, exposta a dor de quem foi iludido, observo o outro lado, esse travesti que não é, que cirurgicamente tornou-se mulher, mas se manteve homem, a face/máscara que tem em si. esse que foi o objeto aparece com enormes garras, prontas ao prazer de tentar ser o que é e que, na verdade não é.
será realmente um enredo tão cuidadosamente engendrado com a exclusividade única de sentir prazer ao ferir alguém com o seu cenário/verdade?

é exatamente isso o que parece, é a única explicação cabível quando o outro está numa cidade cenográfica que se percorre acreditando que ela e seus ocupantes de fato existem. e aí vem o desfecho inusitado, a tragédia do artista que dormiu com a roupa e a maquiagem do personagem que achava estar vivendo, mas que não, que é ele mesmo, sendo o artista verdadeiro um fantoche manipulado pelo personagem que ele não era.

para completar, mais um olhar sobre esse híbrido. ele, em qualquer situação, sob qualquer conclusão crítica, não deixa de existir, não morre, como talvez devesse acontecer aos personagens. não, ele vive e, diante do inusitado em que se enredou, acredite-se ou não, sofre... sofre um sofrimento agudo e crônico simultaneamente porque, sob qualquer análise que lhe façam, ele perde. perde para si mesmo, é verdade, mas perde. como não morre, continuará vagando por seu ilusório castelo abandonado, abraçado à sua culpa e, ao mesmo tempo, submergindo mais na tentativa de evitar outra história como essa que não tem início nem fim.
sofre por fim, pela essência da hipótese, pela inconcretude de ser e não ser. pelo amor que parte ferido, pela dúvida levantada sobre a sua essência daninha e pelo amor que sente pelo outro, do outro lado do espelho.

talvez não seja nada disso.

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Nada encontrado. Seria ousadia demais definir o indefinível, dizer quem sou ou se sou. Deve ser uma miscelânia de idéias entrecortadas, salpicadas de perguntas sem respostas e indecisões doloridas. O que mais poderia ser?

Em suma...

"Em suma, namorei o diabo sem ter coragem para ir até o fim"
Sartre

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