"deixa eu te ver?" me diz B. quando estamos conversando no MSN. é ela aceitando o que para ela é um reducionismo do ser. eu sei que é e me pergunto como será no dia em que ela não quiser me ver nessa forma estranha e frágil de pixels que se acotovelam. um dia, eu vou entrar e ela vai estar ali na minha lista, mas não me aparecerá como on line. num primeiro momento acreditarei mesmo que é coincidência, que ela está off line.
com o passar dos dias, vou me convencer de que não era bem isso, mas que ela deletou meu contato da sua lista. e por que? porque não cumpri a série de preceitos que as pessoas entendem como sendo os básicos para os relacionamentos humanos. em meu lugar, outra pessoa terá aparecido e, além de estar em sua lista on line, essa pessoa estará também presente em sua vida de uma maneira normal, presencial, digamos assim. eu serei então uma fotografia borrada, deixada no tempo.
essa possibilidade que não é uma possibilidade e sim a previsão lógica de um um futuro não distante me dá uma certa angústia. não sei explicar porquê. afinal, são coisas que vão acontecer, assim como as doenças degenerativas causadas pelo fumo. se eu fumo, morrerei delas, padecendo antes de todas as etapas que se traduzem em extertores e sofrimentos inimagináveis.
daí eu fico pensando que é a mesma coisa de ter medo de morrer, mas não é, é completamente diferente. porque o barato da morte é que ela é redentora, ela ameniza todas as dores do mundo na medida em que não estamos nele, em que nos tornamos um não-ser. o caso do afastamento de b. não é redentor porque continuo como criatura, per-si, apenas com o afastamento dela agregado.
fico me perguntando agora quantas pessoas passaram e se afastaram. de quantas pessoas eu me afastei. de quantas pessoas nos afastamos no mundo assim, dia a dia, hora a hora. . . muitas. não temos essa noção clara de seres que se acasalam. isso fica mais na esfera da família assumida por certidão, estampilha, mas foge à nossa percepção como pessoas, como seres que carecem de outros e para quem, os abandonos, as faltas, as perdas, deixam cicatrizes invisíveis e profundas, dessas que se refletem não num olhar sobre o corpo, mas num olhar interno sobre o todo do que poderíamos ter sido.
18/03/2007
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Atenção
- G
- Nada encontrado. Seria ousadia demais definir o indefinível, dizer quem sou ou se sou. Deve ser uma miscelânia de idéias entrecortadas, salpicadas de perguntas sem respostas e indecisões doloridas. O que mais poderia ser?
Em suma...
"Em suma, namorei o diabo sem ter coragem para ir até o fim"
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