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23/03/2007

da necessidade do pensamento contínuo


as coisas se atropelam na vida da gente de uma maneira tão impressionante, tão apressada, as coisas vêm e vão num ritmo tão acelerado que eu inúmeras vezes sinto-me obrigado a reescrever o que acabei de rascunhar. e quando eu digo reescrever, não digo negar o que foi escrito, nem mudar de idéia nem de sentimentos sobre aquilo. não: eu falo literalmente de reescrever, ou melhor, escrever um pouco mais. acho que, como grande parte da humanidade, devo ser suscetível a humores. também sou presa fácil de pensamentos que não traduzem exatamente o que eu ouvi, mas o que aquilo me fez sentir. claro que isso induz muito ao erro, como também a um acerto aparentemente incompreensível, mas faz parte de mim.
então, num piscar de olhos, diante de frases inocentes e desprovidas de quaisquer motivos outros que não aquele singelamente expresso, minha cabeça neurótica dá reviravoltas. e, numa observação desprovida de 'ver com meus olhos', tudo pode parecer realmente estarrecedor, intransigente, ilógico, etc. Mas eu sou ilógico mesmo. não é bem isso: é a constatação pura e simples de que o mundo (mais específicamente a vida) não é feito dos sentimentos e pensamentos que temos dela, mas de si própria, que segue um caminho todo próprio, grandemente diverso do sentido. um exemplo tolinho é o de que a princesa ao casar-se com o plebeu pode realmente amá-lo, desejá-lo e ser feliz para sempre o que não altera a ordem das coisas de que ela é princesa e ele é plebeu (ainda que ela perca um título, por exemplo). de uma certa forma, talvez isso explique uma certa admiração quase inconsciente que eu nutro em relação ao sistema de castas, como na índia, por exemplo. por sua própria constituição e pelo peso que o sistema tem não apenas no inconsciente coletivo daquelas pessoas, mas como uma ação mais palpável do super-ego sobre cada uma, a vida, se por um lado não propicia mudanças individuais repentinas, por outro proporciona um alívio mental atávico nas massas, resultado do livre (sim livre!) pensar de cada um. imagino que não seja a falta de dinheiro e sim a consciência de casta que deve fazer com que pouquíssimos integrantes das castas mais baixas necessitem de componentes químicos anti-depressivos. é preciso pensar um pouco nisso, para que a resposta instintiva não obscureça o nosso raciocínio (certo ou errado) ocidental.
a literatura se utiliza muito da figura do faroleiro que vive só uma ilha, que escolheu aquele caminho e que tem como objetivo único ser um sinalizador para que as embarcações desviem dali, ocupando-se o velho apenas em reler seus livros ou se adormecer na embriaguês. por isso é preciso conhecer um pouco de literatura para entender o que acontece na vida à nossa volta. sem uma, não há o entendimento da outra... isso é para não deixar transparecer ou ainda, a não induzir ao engano o que um determinado pensamento representa. não. ao lado de um pensamento ou um sentimento, há um outro pensamento e sentimento que, na maioria dos casos, afastam o primeiro do segundo muito embora isso possa não aparecer na prática (como o plebeu viver casado com a princesa eternamente ou o faroleiro levar para a ilha semi-deserta uma mulher companheira). ou seja, podemos concretizar coisas da vida prática, mas ao pensador, cabe explicar a si mesmo que as coisas sentidas, racionalizadas e ditas não são necessariamente possíveis de serem vividas sem um descompasso intelectual. bom ainda lembrar que o termo 'intelectual' não pretende comparar ao acadêmico e sim ao simples fato do livre pensar, ainda que numa pessoa analfabeta, por exemplo. eu acho muito saudável escrever o que aparente se contradiz, primeiro porque não é, e segundo porque é legal deixar claro que um pensamento aparentemente alegre e leve não vem de um certo vazio de uma mente de pouca visão, mas sim que todas as coisas caminham juntas. evidente que em determinados momentos (instantes), pensamos uma coisa dando mais ênfase ao sentimento bruto e à fantasia, mas em seguida, quando pára de girar, a moeda cai e mostra sua outra face. não fosse assim, aquele primeiro pensamento não teria o peso e a importância que, de fato, possui. o que interessa pra mim é perceber a vida não só como a morada de paredes caiadas de branco que não sustentam nenhuma morada, mas ainda, como é terreno para que engenheiros loucos projetem linhas férreas onde os trilhos (e cada trem) seguem sempre juntos, porém paralelamente, ainda que na loucura da planta incial, esses trilhos ocasionalmente se aproximem muito fazendo com que as locomotivas se esbarrem como num folguedo para, logo em seguida, retornarem ao trilho reto, paralelo, mas com a devida distância resguardada.

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Nada encontrado. Seria ousadia demais definir o indefinível, dizer quem sou ou se sou. Deve ser uma miscelânia de idéias entrecortadas, salpicadas de perguntas sem respostas e indecisões doloridas. O que mais poderia ser?

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