Geraldo Iglesias*

existe sempre a possibilidade de solicitar à profissional que me interne num espaço para os incapazes de onde terei a nomenclatura aceitável para tratar a vida tal como a percebo. não sei se teria acesso à internet. talvez sim.... gostaria de escrever de dentro de um hospício que legitimasse para as pessoas que não conseguem ver de outra maneira, a minha verdadeira essência.

parece que para ser simplesmente o que sou, é preciso um rótulo de louco e, ainda que esse me seja afixado no relacionamento ambulatorial, não basta. imagino que as pessoas necessitem de uma imagem mais forte (como eu numa camisa-de-força ou sob os espasmos promovidos das sessões de eletro-choques.

vivian p., judia praticante (ou fanática), trabalhava comigo em 74 no sítio do picapau amarelo... sua mãe era uma esquizofrênica em total estado de catatonia. ela tomava cachaça comigo no bar da esquina e me ensinou a desenhar sóis de uma maneira toda especial que reproduzo até hoje. um dia, em seu apartemento, ficamos horas deitados no chão ouvindo o último LP do chico. ela encostou a ponta do seu polegar no meu.

era um sinal. tiramos a roupa e fomos para a cama. deitamos e ela se abriu para mim. entrei como de resto, qualquer um faria. tive ejaculação precoce. ela me abraçou. ficamos em silêncio ouvindo o chico. nada importava. ela era homossexual e só contribuí para a sua opção.

ela me colocou nos braços do robinson, colo que não saí por vinte anos. ele é um psiquiatra deses plenos, que amarram você numa camisa de foça, te dopam de haldol e aplicam eletro-choques em profuão. não acho que ele esteja errado. usa as ferramentas que possui.