o desencontro
vez por outra (ou quase sempre) eu cometo gafes ou, por outra, faço cagadas imperdoáveis. hoje fiz ao ligar para B. de madrugada, por uma confusão demente: como ela iria sair, achei que talvez não tivesse chegado ou estivesse chegando. na verdade, ela estava dormindo e eu acho repgunante a idéia de despertar uma pessoa em meio ao seu descanso. e pra isso, não há mesmo explicação nem possibilidade de auto-perdão. verdade, sem drama.
mas B. certamente não vai me demonizar, vai dizer que entende e todas aquelas coisas que me deixarão mais culpado. então, é pra ela que eu escrevo.
a verdade é que não consigo passar muito tempo sem ouvir sua voz, sem estar 'perto', nesse meu jeito obtuso de ser. e com certeza, por ela estar domindo, não dormirei eu do lado de cá.
procuro então ver, em retrospecto, o que aconteceu... os meninos que trabalham comigo (assistente e estagiária) dão tudo de si, mas dão pra mim, não caminham por suas próprias pernas. melhor: me assistem perfeitamente e com cuidado e carinho, mas ainda não me substituem. ou seja: cuidam de todos os detalhes que enumerei didaticamente, mas refugam quando é a hora de criar e assumir a responsabilidade pelo todo. normal. resta-me o timão consciente de que terei que repassá-lo o quanto antes. mas enquanto não acontece, me sobra enfrentar as ondas....
trato a equipe e as atrizes, tranqüilo como o cirurgião prestes a se aposentar, como quem opera um períneo pela milésima vez. percebo ao meu redor uma certa admiração pelo que faço e pergunto a mim mesmo qual seria a postura a tomar se eu fosse realmente aquele e não esse, que repete e reproduz o que se fantasia de arte, mas é, na verdade, o eterno repetir de operações que, sabidamente, resultam no sucesso momentâneo, não por si, mas antes, pela certeza de que, como o mágico suburbano, cria a falsa sensação de um sucesso verdadeiramente imerecido.
findo o pretenso espetáculo, L. e L., parceiras em profissão e inimidas renhidas nas suas verdades, me arrastam para um uísque sabiamente arquitetado dentro da geografia da minha limitação. e como não tenho nada, sucumbo ao frescor das suas peles e ao olhar pretensamente cobiçoso em mim, inverdade absoluta, desde a raiz, porque me não percebem jamais, nunca, em hipótese alguma c0mo eu sou, mas, antes, como um criador de criaturas que elas pretendem ser. No final é uma decepção generalizada: nem têm o frescor, nem são criaturas nem sou criador. é um nada de nada, afogado em cachaça. cansado e desiludido, encontro em casa o aconhego sincero do artur, esse gato que percebe em mim, antes de um possível, um ser desprovido de nada, como sou na verdade, percebe em mim a possibilidade de me abraçar e dormir, sem um rótulo sequer. e há mais a dizer, mas a embriguês me derrota....
Um comentário:
Guardadas as devidas proporções, já experimentei sensações bem parecidas.
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