Todos somos Camus
5:45 h.
os sonhos... são feito de matéria do inconsciente segundo nosso doutor freud.. e quem sou eu para desdizer? essa tarefa caberia a um intelectual com formação psicanalítica, alguém como o bom mineiro Hélio Pelegrino, que morreu (em 1988) sem fazê-lo. era era mesmo avesso à esse tipo de debate. preferia conversar com paulo mendes campos, otto lara rezende e fernando sabino. falavam de coisas sérias, da mineirice que é uma atitude política e não um local de nascença.
os sonhos... são feito de matéria do inconsciente segundo nosso doutor freud.. e quem sou eu para desdizer? essa tarefa caberia a um intelectual com formação psicanalítica, alguém como o bom mineiro Hélio Pelegrino, que morreu (em 1988) sem fazê-lo. era era mesmo avesso à esse tipo de debate. preferia conversar com paulo mendes campos, otto lara rezende e fernando sabino. falavam de coisas sérias, da mineirice que é uma atitude política e não um local de nascença.
locais de nascença, eu acho que são esses em que a gente se revela. tem gente que nasce na internet, outros com a pena deslizando numa folha de papel, outros num gozo arrebatos com o ente querido, outros dentro de um cinema, outros ainda ao receberem o canudo da universidade e finalmente, nascem os que finalmente ocupam um caixão. de onde pode-se concluir sem muita dificuldade que nascer é um morrer enterno. mas não era isso o que eu queria dizer. veja:
eu tava ali quietinho tomando café e folheando Camus. Um de seus livros ele abre com uma questão "Só existe um dilema filosófico realmente sério: é o suicídio". Sem dúvida. Mas podem ser outras coisas. Acho que a questão do suicídio é mais fácil de resolver porque ou bem você quer se matar e se mata ou bem quer viver e vai vivendo. com a humildade de um autodidata eu diria que o dilema da filosofia é, em contraponto ao suicídio, viver em constante angústia por medo da morte que pode estar exatamente no próximo milésimo de segundo. porque, como eu já disse aqui, é assim: sem a menor dúvida, sem nenhum caso na história que prove o contrário, todos, em algum momento, estamos a um milésimo de segundo da morte. em seguida morremos. essa fração de segundo que antecede a morte pode acontecer agora, daqui a uma hora, um mês, um ano, 20 anos, mas ele existe, está lá, quietinho esperando. em algum determinado momento, o que fazemos será a coisa derradeira, talvez nem a completemos porque a morte está ali, na fração de segundo posterior.
nesse aspecto, se entendo o que camus quis dizer quanto ao suicídio, acho também que ele é tão menos angustiante.... pois se ao suicida cabe o direito de dar cabo à vida! e essa população enorme de não suicidas, desses que querem viver só mais um tantinho, querem postergar a qualquer custo a hora final, como se fosse possível...? que infindável dilema estar fazendo as coisas sem tem a certeza absoluta de que não teremos tempo de concluí-las! será que camus pensou nisso? creio que não e sim. entendo o dilema do suicídio, esse dilema filosófico que se instala em algum momento em nós: porque não dar cabo de uma vida que é efêmera, que terminará de qualquer maneira? por que não sermos nós mesmos os agentes desse fim? Floberla espanca, virginia woolf, ana cristina césar e tantos e tantos outros preferiram eles mesmos serem os agentes dos seus fins. nesse aspecto, imagino que o suicida tenha mais tranquilidade, serenidade, controle sobre a vida e a morte. e sendo assim, ainda pensando alto, seria exatamente o suicida que não teria o dilema do suicídio, ou melhor, teria do suicídio, do ato, mas não teria da morte, certeza de todos.
como sou materialista não temo a morte porque não acredito que haja esse inferno religioso (cristão e outros). se for, esse inferno é aqui, como se diz popularmente. também não acredito que seja aqui. não vislumbro a possibilidade desse inferno como é pensado porque então seria tudo simples demais: céu, purgatório e inferno. Como seria reconfortante apenas três opções de futuro! Seria, ao fim da vida, apresentar-se uma encruzilhada com três caminhos possíveis de serem trilhados! O dilema é esse, o fim da vida não é um encruzilhada. não deixa opções nem créditos por merecimento. ele banal, é simplório, comum a todos, desconsidera nossas ações mundanas, nosso passado, nossa casta, fortuna ou miséria, nossa obra, nosse prole, nossa educação, nossos saberes, nossas expectativas. o fim, simplesmente, não é...
diante disso, ainda com o sol ameaçando nascer faço uma busca frenética nos livrinhos de camus que me restaram. busco que ele tenha falado sobre isso, que ele tenha usado o suicídio metafóricamente, ou como um dos dilemas e não o grande dilema. não encontro nada. mas o rigor intelectual de camus não pode ter desconsiderado o que eu, um mundano, penso. só não encontro uma justificatica. assim, o que me resta além de ler sua obra é escrever coisas que, tenho certeza, ele escreveu. claro que minhas questões não são bem colocadas como as dele, o camus era ele e não eu!, mas escrevo certo de que ele escreveu também. e assim, ao concluir a leitura da obra do argelino, concluo que li apenas um fragmento, e que, portanto, qualquer coisa que eu escreva não será originariamente uma questão minha, mas dele, apenas transcrita sem arte. imaginando que seja assim, posso dizer sem errar que todo pensador reescreve a obra de camus, que deve ser infinita e eterna. quando entro numa grande livraria ou biblioteca e vejo milhares de livros ordenadamente dispostos ou empilhados de qualquer jeito, no colorido vário das capas que os editores lhes deram, vejo em todos, grafada em negrito apenas um nome de autor: albert camus.

3 comentários:
"todo pensador reescreve a obra de camus", você diz.
do mesmo modo como Pierre Menard escreve o Quixote?
beijo, Geraldo.
ah... e por coincidência, ontem eu tirei da estante um livro dele e deixei aqui do lado, marquei uma página que eu gosto e queria digitar para publicar no blog.
esses são dias difíceis para minha escrita, eu acabo precisando me socorrer com minhas leituras e vai ser assim por mais um tempo.
beijo, meu amigo.
É... são essas confusões da minha escrita claudicante.... beijos Ane
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