hoje eu experimentei uma tranqüilidade que não tinha há muito tempo. não porque me tenha acontecido alguma coisa de especial. não. nada. realmente nada diferente. o mesmo jornal, a mesma troca de e.mails, as mesmas coisinhas rascunhadas, leituras de fragmentos, a mesma cerveja misturada com barbitúricos.
se fiz uma coisinha diferente (e nem tanto), foi me agarrar com meu livro de obra completa (poesia) de pessoa e ler e reler álvaro de campos, um dos meus heterônimos prediletos. toda a minha juventude e mesmo a idade mais adulta foi de contemplação a fernando pessoa. ainda que apresentado a tantos outros (e tão fecundos!) poetas, não consegui me afastar de pessoa um só momento. procurei entender sua vida (e não consegui), depois entender sua poesia e, ainda que adorando verdadeiramente, talvez ainda tenha muito que a estudar para dizer plenamente que entendi.
mas o que ele não diz em poesia (se é que deixou de dizer alguma coisa), diz na prosa que é muito maior do que a maioria das pessoas conhecem. a prosa completa de pessoa é caudalosa, plena, firme, imponente... ainda que quieta e triste como sua poesia de homem sozinho. a solidão de pessoa quase não é comentada porque tratar da solidão é mexer em espaços e reflexões mais complicadas do que estamos na maioria das vezes dispostos a enfrentar.
as vezes páro de escrever um pouco aqui porque continuo seguro que nem tudo deve ser publicado e retorno então aos meus cadernos que me acolhem como se de lá nunca tivesse saído. aí escrevo e escrevo, conto minhas coisas, minhas particularidades todas, minhas reais avaliações sobre mim e sobre uns pouquíssimos que me circundam. vou falando do que sinto, desse mundão, desse céu que me cobre, dessas pessoas que, definitivamente, não me percebem... tudo. é muito engraçado porque tenho que repetir aqui que que escrevo meus cadernos desde a infância e teria uma coleção invejável se não tivesse o hábito de, freqüentemente, queimá-los. assim, quando a morte me bater à porta, não terei deixado nada de relevante escrito.
mas nada disso vem ao caso. o que eu dizia é a admiração que tenho por pessoa e mais ainda quando, no ginásio tive um professor que usava um remendo em forma de coração vermelho na bunda da calça jeans... ele, depois da aula, me passava descomposturas por eu ler pessoa como quem lê 'qualquer coisa' e procurou me orientar um pouco. acho que adiantou alguma coisa.
depois veio uma certa moda de pessoa, quando bethânia declamou um dos seus poemas (uma parte) num dos shows e gravou em disco... aí era engraçado porque era uma febre, todo mundo andava com um livrinho do poeta embaixo do braço. creio que essa época já passou.
'tudo passa, tudo sempre passará, a vida vem ondas como um mar....' grande verdade, menino.
gosto verdadeiramente dos dias plenos (mesmo consciente que eles, de fato, não existem), são antes uma idéia do que poderiam ser, mas, enfim... isso fica para outra hora.

Nenhum comentário:
Postar um comentário