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04/04/2007

correspondência


Querida F.
Espero com isso, responder ao teu e.mail

o dia morno, de ar condicionado claudicante, de presenças dispersas, cores acinzentadas, pensamentos lentos, formas opacas, impressões difusas... Essa impressão me vem junto da surpresa pelo trabalho "Esboço de uma Teoria das Cores", de Goethe. Tão meu conhecido e humildemente estudado por seu Fausto e Werther, a leitura de Israel Pedrosa me alerta para a obra maior, que consumiu 30 anos da vida adulta de goethe.
o sucesso litarário de suas obras, aliado à má vontade, como sempre acadêmica, obscureceram 'a teoria das cores'. goethe não teve em vida o reconhecimento por seu estudo maior.

então, quando falo em 'cores acinzentadas' - como de pronto goethe perceberia - não trato da captação ocular da luz ou da matiz, da impressão de pigmento e sim de um estado de espírito, desses que, eventualmente, a luz do sol não imprime cor por um esmorecimento do cérebro. conheci uma doutora em física que, apesar do trato diário, não conseguia entender meu dilema na busca e na discussão defendendo a proximidade da física e da poesia. o dilema, que resultou num afastamento sofrido, refém de um distanciamento filosófico, poderia ser simplificado da seguinte maneira: quanto mais eu me afundava nos livros de física, mais descobria neles poesia e ela, quanto mais avançava na poesia, percebia neles, apenas poesia.

aprendi então que, se não vemos poesia na física nem física na poesia, a paixão se apaga. e por longos anos, continuei experimentando, vivenciando das mais variadas formas e terminando por reconhecer que esse exemplo tolo inviabiliza as relações humanas minimamente plenas. o mesmo acontece quando rola um casamento intelectual, mas buscando extrema liberdade, a mulher traz outras mulheres para a cama do amado, como se vê em téte à tête, no caso de simone que não enlouqueceu como ele, mas foi análogo, tamanho o seu sofrimento.
e continuo vivenciando e aprendendo até hoje... e começo a me convencer que vou morrer preso ao mesmo dilema, o que é, no mínimo, risível....

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Nada encontrado. Seria ousadia demais definir o indefinível, dizer quem sou ou se sou. Deve ser uma miscelânia de idéias entrecortadas, salpicadas de perguntas sem respostas e indecisões doloridas. O que mais poderia ser?

Em suma...

"Em suma, namorei o diabo sem ter coragem para ir até o fim"
Sartre

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