Visionário do improvável com artérias danificadas
O que eu não conto é essa coisa de ser amador. Quer dizer, conto, claro, mas não conto inteiramente porque não sei explicar direito, faço uma confusão danada e acaba parecendo uma coisa que não é. E é muito. Ser amador é delicioso e ao mesmo tempo muito sofrido. Não sou por opção: sou porque sou, nasci assim. Mas não me renego por isso. Achei que tinha encerrado essa minha face, esse lado, agora nessa provecta idade. Descubro, surpreso, que não, que ela ainda se dá igualmente quando eu tinha trinta e dois anos mais ou menos. Fica então essa coisa estranha: como um homem velho deve reagir dignamente diante disso? Sinceramente, não sei muito, mas algo me diz (e alguns indícios palpáveis) que logo saberei. Me resta aguardar um pouco (e aguardar é função da vida, desde o nascimento e que deve ser encarada com naturalidade). Mas veja só as esquisitices de um velho: fico aqui, fazendo hora, esperando alguém que eu sei que não vai chegar. Veja bem, nobre cavalheiro: não fui enganado nem houve alguma dúvida instalada. Não! Eu sei claramente tudo. Mas ainda assim, senil, planto-me aqui com uma cerveja e observo o monitor inerte imaginando uma mágica, uma contração astral, uma impossibilidade possibilitada. Atribuo, em parte, a um endurecimento das artérias que irrigam o cérebro provocando essa espécie de delírio consentido. Mas como sempre pode ser uma coisa pior, desisto de fazer avaliações diagnósticas e me entretenho em rir de mim mesmo; mais saudável.
Um comentário:
Penso que, quando mais jovens, estamos sempre em busca de fugir da verdade absoluta que é a espera em nossas vidas. Talvez haja mais caminhos a ser explorados, talvez haja mais a se fazer, talvez não é enfim o fim. Fugimos disso.
É díficil não fugir?
beijos
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