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05/08/2007

Alguns autores

O dia amanhece extamente no momento em que chego ao ponto final do livro. Existem livros que nos fazem optar entre ler ou dormir. Faço minha escolha. Meus olhos pesam, parece que tem areia dentro deles. Levanto e tomo o bule de café como se fosse o último. Pode ser o último. Me vem à cabeça que homens matam e morrem por mulheres. Ela me pergunta se não sinto falta de dormir abraçado. Sim, devo sentir falta, mas quase não lembro mais como é. Ela instiga como quem precisa se reconhecer em mim. Não me agrada que as pessoas procurem se reconhecerem em mim, não me agrada nenhuma atitude em que eu sirva de parâmetro. Tornei-me uma pessoa completamente sem parâmetros, completamente marginal, distante dos modelos habituais. Sinto-me um estranho no mundo, como se estivesse fazendo uma visita, de passagem. Esse não é o meu mundo, sou alienígena nessas ruas povoadas, entre essas pessoas que tratam de insignificâncias que não me interessam em nada. Ao contrário da maioria, não busco fontes de prazer e, muito provavelmente não as desejo. Repito que tenho um enorme tédio do mundo. Não, não sou suicida! Não darei cabo da vida. Acho que Camus errou totalmente ao dizer no primeiro parágrafo de O Mito de Sísifo que "o grande dilema da filosofia é o suicídio". Não vejo assim, não percebo dilema no suicídio, percebo-o como uma atitude qualquer como tomar banho ou fazer uma refeição breve. Como ela fala em "dilema" se a morte, de qualquer forma, é certa? Abreviá-la não pode ser dilema. É como pagar uma fatura antes da data do vencimento, simplesmente. Se pudéssemos ser eternos e existisse o suicídio como opção à vida eterna, aí sim seria um dilema. Não é. Camus errou. As pessoas repetem essa frase dele (embora não conheçam o livro que a originou) por ignorância, por preguiça mental, por se negarem a pensar um pouco mais na história. Em outros momentos, Kafka também errou e as pessoas não se dão conta. Tanto Camus quanto Kafka são grandes pensadores modernos que deveriam ser lidos por todos e estudados. Mas o fato da importância cultural deles não os torna infalíveis e podemos sim, criticá-los.

Igualmente Sartre é criticável e mesmo Clarice Lispector que é bárbara, mas repetitiva revisitando sempre algumas angústias que a assolavam. Ela não conseguiu escrever algo diferente. Clarice, a meu ver, é genial, mas carrega a culpa de não conseguir diversificar de forma que todos os seus livros são iguais, como páginas de um diário contínuo. Compare Dostoiévski à Clarice ou Fernando Pessoa ou Borges à Clarice e a fragilidade literária dela salta aos olhos. Isso não quer dizer que ela não essa maravilhosa. É. São dela os meus livros de cabeceira, mas isso não pode me impedir de ter um distanciamento crítico. Não criticar um autor é menosprezá-lo. É mesma coisa que cultuar Rubem Fonseca, torná-lo um ícone da nossa literatura. Não é! Tem contos excelentes e outros tantos deploráveis.
Existe essa história da gente ler um cara muito bom e dizer que ele é gênio. Gênios não existem e, como humanos, escritores fazem coisas excelentes e coisas péssimas. Não perceber isso equivale exatamente a não perceber o autor, o artista, o ser humano. É como negar que Joyce, Guimarães Rosa e Euclides da Cunha são chatos. São chatos! Claro que são importantes e têm uma obra considerável que, sem dúvida, deve ser lida porque é muito importante. Mas que são chatos, são. Ver todos os filmes, assistir todas as peças e ler todos os livros sem um pingo de espírito crítico revela apenas ignorância e falta de agilidade mental e intelectual. Eu acho a poesia de Fernando Pessoa genial (e a prosa também), mas reconheço que ele tem poemas chatíssimos, cansativos, repetitivos e com falhas de métrica. Imaginar que um artista (humano) só cria coisas geniais, mostra a boçalidade de quem aprecia a arte.

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Nada encontrado. Seria ousadia demais definir o indefinível, dizer quem sou ou se sou. Deve ser uma miscelânia de idéias entrecortadas, salpicadas de perguntas sem respostas e indecisões doloridas. O que mais poderia ser?

Em suma...

"Em suma, namorei o diabo sem ter coragem para ir até o fim"
Sartre

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