a náusea do lado de baixo do equador

a náusea se traduz hoje numa angústia enorme. como a partida, a despedida. uma dor que vem de dentro, que toma por inteiro, ocupa cada espaço do corpo. desde ontem assim, tentando deixar pra lá, mas não adianta. me debruço no caderno de capa dura e vou contando tudo, repetindo para mim mesmo cada sensação, cada prazer e cada tristeza. os medos. finalmente eu cheguei na grande encruzilhada da minha vida. tão grande, tão oposta e tão poderosa que eu travei, fico parado olhando e olhando.

mathieu de sartre tinha 34 anos quando lhe chegou a idade da razão. a minha chega agora, às vésperas dos 52, uma idade que eu imaginava que não reservaria mais nenhuma surpresa. se fosse ruim, normal, estaria aqui reclamando, mas é a melhor de todas as surpresas, coisa que jamais imaginaria. com o tempo, com o caminho que trilhei esqueci que a vida, além de não dar garantias, cobra pedágios.

queria uma possibilidade utópica de um mundo mágico, com controle de tempo, saúde e umas outras coisas. acho que experimentaram isso no realismo fantástico, que não foi das pernas, morreu ali na esquina. não, não é nada disso. palimpsesto. apaga tudo. nada é verdade, minto descaradamente. precisa estravazar tudo o que se acumula aqui e não tem por onde. não sei. chega. tchau.