é assim:
Durante a noite, fiquei rabiscando umas folhas avulsas na cama. Tenho esse hábito também. quando vejo que não vou mesmo dormir começo a pensar nas coisas e a anotar para que fiquem bem claras em mim. Ela, discretamente, não telefonou mais, certamente cansada por um dia de tentivas em que eu não estava dando conta nem mesmo de mim. mais uma pane, um desiquilíbrio da bipolaridade, essa coisa chata que deve levar muita agonia e decepção ao outro.
fiquei pensando naquilo tudo quando, na verdade, não existe um porquê bem definido. em momentos assim, quando se tem grana, o ideal é viajar, sumir da área para não levar incômodo aos outros, mas nem essa capacidade analítica fica clara. não tem jeito. as pessoas que sentem essas coisas sabem do que estou falando, as que não sentem, não sabem, podem no máximo, tentar imaginar: ficam de espectadoras de uma atitude irascível e destruidora, que deve levar enorme desconforto a elas. sei ainda que, por mais que uma pessoa tenha afeto pela outra, chega num ponto que não dá pra segurar, vem uma irritação danada e a pessoa sai fora. normal. e, pra ser bem sincero, eu quero mesmo é que as pessoas saiam fora porque assim estarão se livrando dessa história sem pé nem cabeça.
mas não custa nada escrever: estou atravessando uma fase muito difícil. não quero nada, não vou fazer nada. apenas sinto-me mal em relação ao mundo, às pessoas.
dá vontade de morrer (não de me suicidar!), de não estar ali ou de não ser eu mesmo, de que tudo pudesse ser diferente. como as coisas são o que são, não ficam diferentes sem uma atitude, acaba não acontecendo nada ou, por outra, acontecendo tudo.
acho que essas coisas devem ter alguma relação com a súbta retirada da medicação adequada (e a retirada da medicação também não é à toa, é a tentativa de livrar-se dos aleijantes efeitos colaterais da mesma): um beco sem saída.
para quem assiste de fora é chato, desagradável e irritante. eu sei. e não tem jeito, o que é pior.
se olhar do ponto de vista mais analítico, o que eu percebo é que a um determinado estado depressivo pode provocar uma sensação de inferioridade forte, incapacitante. essa sensação é nociva, entre outras coisas, porque incomoda e agride quem está em volta e não tem culpa de ser assim ou assado, de ter isso ou fazer aquilo ou sei lá o quê. grave ainda é porque o outro naturalmente tenta clarear essas coisas, na maioria das vezes, tentando te incluir na vida e fracassa. não é o outro que fracassa. é porque o que você sente é definitivo, não dá pra virar um botão e mudar tudo. tem mais: o fato de escrever essas coisas para 'olhar de fora' não representa, de maneira alguma, uma remissão da coisa, não altera o modo. é apenas a descrição do mal e não a sua solução ou empenho para mudar nada. trata-se de descrever o que acontece. nem mais nem menos.
essa idiossincrasia está ali plantada e, por enquanto, é imutável. apenas não é inconsciente: eu sei muito bem que ela existe e o que causa em mim e em volta. talvez se fosse inconsciente me seria mais cômoda porque eu perceberia o afastamento das pessoas, mas trataria o fato como um movimento delas, 'injusto', do qual eu seria uma vítima. não é verdade. participo ativa e conscientemente de tudo. ordinário seria o raciocínio simplista muito tentador de que 'se eu sei de tudo, posso perfeitamente fazer um esforço e reverter'. não é verdade também.
o que resta é só isso mesmo: falar da história, mostrar como ela se dá e assumir a consciência dela. daí a fraqueza da psicanálise. a prova cabal dessa tibieza profissional é o artigo publicado ontem na revista do globo pelo psicanalista alberto goldim: ele recebe uma carta de alguém que está sofrendo de coisa análoga e, analisada a questão, o psicanalista resolve dando um 'puxão de orelha' no analisando e manda ele se mexer ou ficar assim e pronto. nesse aspecto, imagino que o médico psiquiatra tenha mais capacidade de perceber o todo, sabendo que não se trata de uma atitude, de um gesto de caráter, de um equívoco no trato de quem está agindo dessa maneira, mas sim um desequilíbrio momentâneo (ou endógeno) promovido por um descompasso cerebral, químico e, para tanto, tratado quimicamente. não é à toa que, nos dias de hoje, esses casos devem ser tratados multidisciplinarmente: com química e psicanálise, conjuntamente.
é um pedido de desculpas sim, mas principalmente uma explicação lúcida. não para que o outro releve ou se adeqüe à relação doentia, mas apenas para que, se for do interesse, possa ter elementos um pouco mais sólidos para tentar entender de forma mais sustentada, pelo depoimento claro, do que ocorre de fato. é ainda, a oportunidade que se dá a que a pessoa perceba que não há como lidar com isso de maneira prazeirosa, buscando então outras possíveis companhias e que o faça sem guardar mágoa pela maneira de ser do outro.
fiquei pensando naquilo tudo quando, na verdade, não existe um porquê bem definido. em momentos assim, quando se tem grana, o ideal é viajar, sumir da área para não levar incômodo aos outros, mas nem essa capacidade analítica fica clara. não tem jeito. as pessoas que sentem essas coisas sabem do que estou falando, as que não sentem, não sabem, podem no máximo, tentar imaginar: ficam de espectadoras de uma atitude irascível e destruidora, que deve levar enorme desconforto a elas. sei ainda que, por mais que uma pessoa tenha afeto pela outra, chega num ponto que não dá pra segurar, vem uma irritação danada e a pessoa sai fora. normal. e, pra ser bem sincero, eu quero mesmo é que as pessoas saiam fora porque assim estarão se livrando dessa história sem pé nem cabeça.
mas não custa nada escrever: estou atravessando uma fase muito difícil. não quero nada, não vou fazer nada. apenas sinto-me mal em relação ao mundo, às pessoas.
dá vontade de morrer (não de me suicidar!), de não estar ali ou de não ser eu mesmo, de que tudo pudesse ser diferente. como as coisas são o que são, não ficam diferentes sem uma atitude, acaba não acontecendo nada ou, por outra, acontecendo tudo.
acho que essas coisas devem ter alguma relação com a súbta retirada da medicação adequada (e a retirada da medicação também não é à toa, é a tentativa de livrar-se dos aleijantes efeitos colaterais da mesma): um beco sem saída.
para quem assiste de fora é chato, desagradável e irritante. eu sei. e não tem jeito, o que é pior.
se olhar do ponto de vista mais analítico, o que eu percebo é que a um determinado estado depressivo pode provocar uma sensação de inferioridade forte, incapacitante. essa sensação é nociva, entre outras coisas, porque incomoda e agride quem está em volta e não tem culpa de ser assim ou assado, de ter isso ou fazer aquilo ou sei lá o quê. grave ainda é porque o outro naturalmente tenta clarear essas coisas, na maioria das vezes, tentando te incluir na vida e fracassa. não é o outro que fracassa. é porque o que você sente é definitivo, não dá pra virar um botão e mudar tudo. tem mais: o fato de escrever essas coisas para 'olhar de fora' não representa, de maneira alguma, uma remissão da coisa, não altera o modo. é apenas a descrição do mal e não a sua solução ou empenho para mudar nada. trata-se de descrever o que acontece. nem mais nem menos.
essa idiossincrasia está ali plantada e, por enquanto, é imutável. apenas não é inconsciente: eu sei muito bem que ela existe e o que causa em mim e em volta. talvez se fosse inconsciente me seria mais cômoda porque eu perceberia o afastamento das pessoas, mas trataria o fato como um movimento delas, 'injusto', do qual eu seria uma vítima. não é verdade. participo ativa e conscientemente de tudo. ordinário seria o raciocínio simplista muito tentador de que 'se eu sei de tudo, posso perfeitamente fazer um esforço e reverter'. não é verdade também.
o que resta é só isso mesmo: falar da história, mostrar como ela se dá e assumir a consciência dela. daí a fraqueza da psicanálise. a prova cabal dessa tibieza profissional é o artigo publicado ontem na revista do globo pelo psicanalista alberto goldim: ele recebe uma carta de alguém que está sofrendo de coisa análoga e, analisada a questão, o psicanalista resolve dando um 'puxão de orelha' no analisando e manda ele se mexer ou ficar assim e pronto. nesse aspecto, imagino que o médico psiquiatra tenha mais capacidade de perceber o todo, sabendo que não se trata de uma atitude, de um gesto de caráter, de um equívoco no trato de quem está agindo dessa maneira, mas sim um desequilíbrio momentâneo (ou endógeno) promovido por um descompasso cerebral, químico e, para tanto, tratado quimicamente. não é à toa que, nos dias de hoje, esses casos devem ser tratados multidisciplinarmente: com química e psicanálise, conjuntamente.
é um pedido de desculpas sim, mas principalmente uma explicação lúcida. não para que o outro releve ou se adeqüe à relação doentia, mas apenas para que, se for do interesse, possa ter elementos um pouco mais sólidos para tentar entender de forma mais sustentada, pelo depoimento claro, do que ocorre de fato. é ainda, a oportunidade que se dá a que a pessoa perceba que não há como lidar com isso de maneira prazeirosa, buscando então outras possíveis companhias e que o faça sem guardar mágoa pela maneira de ser do outro.

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