!

e-mail

http://sobretudodelona.wordpress.com

online

20/03/2007

Caju


ontem foi um dia como os outros no trabalho. no final do expediente fiquei ali embaixo tomando um chope, desses em pé, no balcão. eu tava muito chateado principalmente por coisas que vêm acontecendo na minha vidinha particular (que se concluíram no final da noite), mas não é disso que eu ia falar. eu queria repetir a história do cazuza que morreu em 7 de julho de 1990. assim:

eu tenho um daqueles defeitos vulgares, mas irritantes de não gostar de coisas antes mesmo de as provar. e não gostava do cazuza, não sei, porque ele gritava demais ou isso ou aquilo, mas eu dizia que não gostava e ponto final. só comecei a dar atenção ao trabalho dele bem no finalzinho, quando ele já estava muito doente, morrendo. e aí, um belo dia me disseram: o cazuza tá morrendo... tá morrendo... MORREU!

eu tava trabalhando quando chegou a notícia e comecei a chorar. fiquei meio perdido, entrei no carro e me mandei pra casa. lá fiquei ouvindo os discos do cazuza e chorando. no dia seguinte voltei para a tv, procurei o diretor da época e disse que queria fazer um documentário sobre o cazuza. 12 horas depois eu tinha o aval pra fazer. (naqueles tempos que a presidência e a direção da TV, como sempre, eram cargos comissionados do governo, mas não era a a ditadura lula/chavez. e me ouviam.

daí, em sentei num canto e comecei a rabiscar o que seria o roteiro do documentário. escrevi à beça. juntei o máximo de letras das músicas dele e comecei a procurar nos arquivos de vídeo o que tinha dele cantando. não tinha nada ou quase nada. montei uma equipe de pessoas pequena, os mais próximos de mim e comecei a trabalhar. eu queria fazer o documentário rapidinho, pra exibir para as pessoas quem realmente era o cazuza que não existia mais.

a produtora que não me lembro quem era ligou para a gravadora dele e conseguiu uns dez ou doze clipes dele no barão. não era um material de qualidade, mas eu adorei. depois listei pessoas que eu acreditava serem próximas a ele e pedi que marcassem gravação com essas pessoas. todas toparam. o zé roberto, cenógrafo moderno e já com a aids avançada, fez um cenário lindo pra mim, com desenhos singelos, como linhas que formavam o rosto do cazuza.

tem um ator maravilhoso que me escapa o nome que veio e declamou poesias do cazuza. foi lindo. vieram nesse cenário o ney matogrosso e a bebel gilberto que deram depoimentos e cantarolaram músicas dele. seu empresário e escudeiro ezequiel neves veio, embriagado às dez da manhã, e leu uma carta que acabara de escrever para o amigio morto. e muitas outras pessoas bacanas que não lembro.

a marina lima não pôde ir ao estúdio, mas se encontrou à noite, numa mesinha externa de um bar em ipanema e, mesmo debaixo de bastante chuva, gravou pra mim o depoimento. o caetano também não pôde ir ao estúdio, mas me recebeu na casa dele no dia seguinte. e outras pessoas. ligamos pra lucinha araújo e ela topou uma coisa que eu não acreditei ser possível: reuniu na casa dela todos os amigos próximos do cazuza, sua secretária, sua enfermeira, todos. pedi que o joão araújo participasse e ele topou.

juntei uma equipe e fui pra casa da lucinha. estavam todos lá. todos, emocionados falavam e lembravam do caju. o joão araújo não largava um copo de uísque e gravou assim mesmo, bebendo. falei das minhas dificuldades com material de arquivo e a lucinha me surpreendeu com uma caixa cheia de papéis rabiscados: letras que eram sucessos, outras desconhecidas, outras inacabadas. mais: me emprestou um filme preto e branco, em super 8, que ela guardava com imagens do filho.

a gravação demorou, tava todo mundo muito emocionado e lá pelas tantas a lucinha pediu pra eu me apressar que eles tinham que sair: era o dia da missa de sétimo dia do cazuza! pedi milhões de desculpas, juntei as fitas gravadas, equipamentos, tudo e saí correndo.
pra resumir a história: me tranquei numa ilha de edição com um rapaz, o cebolinha, que trabalhava comigo, e começamos a editar. quando acabamos... o material estava com mais de três horas de duração. tentei de toda a maneira convencer a direção da TV de que devia ir assim, mas não teve jeito: tive que colocar dentro dos 56 minutos/padrão.

depois, não sei em que escala de tempo, o zé (cenógrafo) morreu de aids e o cebolinha ficou paralítico, numa cama, por causa de um acidente de moto (morreu recentemente).

o programa foi ao ar poucos dias após a missa de sétimo dia. parece que as pessoas gostaram, escreveram muito, telefonaram, pediram cópias e tal. a TV resolveu repetir o programa na semana seguinte e continuavam a chegar correspondências dos fãs órfãos do caju. e reprisaram ainda mais uma vez. meu filho joão, com onze anos na época, fez uma cópia para ele. muita gente fez cópia em vhs, inclusive eu.

final da história:
há uns meses atrás eu quis usar uma música do cazuza no encerramento de um dos programas comentário geral e mandei desenterrarem o tal especial. demorou, ninguém achava, mexe daqui e dali... conclusão: em algum momento apagaram o documentário para reutilizar a fita na gravação de um jogo de futebol no maracanã. assim.





Nenhum comentário:

Marcadores

Atenção

Nada encontrado. Seria ousadia demais definir o indefinível, dizer quem sou ou se sou. Deve ser uma miscelânia de idéias entrecortadas, salpicadas de perguntas sem respostas e indecisões doloridas. O que mais poderia ser?

Em suma...

"Em suma, namorei o diabo sem ter coragem para ir até o fim"
Sartre

Arquivo do blog