Geraldo Iglesias*

o que eu sei é escrever projetos, desenvolver roteiros, esquematizar, sonhar e gravar aquilo que será um programa de série ou documentário. só sei isso. nada mais. olhando do ponto de vista de um gari, talvez eu saiba coisas demais. do ponto de vista de um intelectual ou acadêmico, coisas de menos. mas é isso: nem mais nem menos. sou dessas pessoas que você cruza atravessando um sinal na av. rio branco, dessas pessoas que você encontrantra folheando livros em livrarias, tomando café em charutarias ou, na enorme maior parte do tempo, você localiza telefonando para a casa dela. só.

pessoas que se realizam assistindo a um dvd de godard ou torcendo por esse ou aquele no Big Brother, que se assusta com as diabruras de Stephan King ou se deleita com Walt Whitmam, que se diverte com Tio Patinhas ou com Werber, que chora escutando emoções do roberto carlos ou a obra completa de beethoven. que não gosta de sol e odeia a chuva. que faz suas, as palavras de tom e vinícius. que gostava de ver erasmo calos nas areias do lido, em copacabana. que sonhou em ser o personagem joe guideon.

o resto é nada. é fumaça. é pretensão barata. é ouvir cazuza pensando em joão gilberto, é trabalhar em televisão estatal sonhando com o MoMa, é andar na lapa pensando no SoHo, é falar em Joyce sem concluir o Ulisses, é citar o Inferno sem ter lido completamente a divina comédia.