!

e-mail

http://sobretudodelona.wordpress.com

online

19/03/2007


Essa noite mal dormida me chamou especialmente a atenção. eu dormia e logo acordava, preso em pesadelos de uma mulher que que xingava, humilhava, ria da minha infantilidade que, segundo ela beirava a idiotia. Numa determinada hora despertei tão molhado em suor que tive de tomar um banho em meio a madrugada. cheguei ao extremo, numa busca desesperada de um sono mais reparador, de repetir a dose de medicamentos para dormir, totalmente contra-indicada pelos médicos que receitam o tratamento.

Quando despertei finalmente, antes do nascer do sol, vim para a sala e, na falta de chegada do jornal matutino, agarrei-me com o Paidéia para dar descanso ao meu espírito. afinal, pensei entre uma página e outra, pesadêlos são corriqueiros, todos os têm, são reações do nosso cérebro que, em estado de repouso, revisitam situações banais, travestindo-as de um certo pavor onírico.

ter pesadêlos não é mais do que experimentar o contato com o mau, com o aterrosizante, com o pavor que o bom senso do ego em equilíbrio joga lá num canto, permitindo um pensar e viver longe do medo. enfim, todo mundo, eventualmente, tem um pesadelo. não é digno de nota.
o meu foi por um motivo especial: meu pesadelo era a discussão onírica que eu travava com a minha terapeuta. aí, eu acho que entra uma certa diferença. não lembro de pesadelos vinculados à pessoa do terapeuta que, embora, desperte nossos demônios, ao mesmo tempo, coloca-os em seus devidos lugares, criando material para pensar e não para temer.

no sonho de hoje, a terapeuta estava irreconhecível, com uma expressão de ódio, olhar flamejante e a língua solta, desfeita das amarras psicaníliticas, empenhada, com expressões de baixíssimo calão a me gritar e jogar na cara o quanto eu era idiota, imbecil, inexperiente, tolo e patético por reproduzir fora do ambiente onde se dá a sessão psicanalítica, análises que, como ela reitera sempre, PODEM ser um possibilidade de verdade, mas não reproduzem a verdade ebsoluta porque ela, a psicanalista, como ser humano normal, está vulnerável a conclusões erradas que apenas divide comigo para pensarmos juntos.

na terapia, o psicanalista procura em seu distanciamento, traduzir determinadas ações do analisando que, envolvido em suas tramas e sem especialização na arte de de entender o não dito, tenta buscar possíveis respostas ao material apresentado naquela sessão. na verdade, como é sabido até pelos mais inexperientes, não é uma resposta pronta e redentora, mas, ao contrário, uma outra opinião de um mesmo fato para que, juntos, explorem outros caminhos que não os óbvios na busca do que poderá ser uma verdade, aliviando assim o espírito do analisando.

nada mais do que isso. nada mais! para tanto, o dito psicanalista, faz, ele mesmo, análise com outro profissional orientador que busca despertar no primeiro uma certa liberdade psicológica para o trato com os espíritos menos experientes em tais investidas. ainda na maioria das vezes, esses mesmos psicanalistas levam a seus orientadores questões trazidas por seus analisandos para que, juntos, procurem desvendar possibilidades do não dito, numa constante tentativa de não traduzir esse ou aquele sentimento ou pensamento de forma ordinária. assim se dá o processo e por isso ele é longo e sem garantias de resultado proveitoso.

pois no pesadelo, com palavras duras e despreocupada do rigor acadêmico da tentativa de dissertação acima, a terapeuta esbravejava por eu ter contado a terceiros o que vai de mais íntimo no meu espírito e a interpretação 'provável', não própriamente pelo ato de revelar sentimentos não ditos, mas, antes, por expor conclusões que são matéria de constante revisão e jamais de certeza absoluta, podendo estar longe do que realmente é, ou parece ser ao terapeuta.

porque revelar fora das quatro paredes do ambiente onde se dá a sessão, o que ali foi dito é leviano exatamente porque nada é dito ali em definitivo, porque o terapeuta faz uma leitura sua, própria, do material traduzido e devolve ao analisando buscando nele, a possibilidade de concluir como verdadeira um tese levantada e sustentada apenas em suposições (algumas suposições) pois nada do que dizemos se encerra na oração proferida e sim, num conjunto de situações internas e externas que envolvem tempo, espacialidade e predisposição.

então, repetindo, trazer para fora daquele momento onde ambos estão procurando entender um comportamento (como todos os outros, sem excessão), dar voz a uma explicação que não é explicação e sim o convite a pensar sobre um possibilidade, coisifica no ouvinte que não participa do processo a experiência filosófica e psicológica, permite que, de fora do processo, a terceira pessoa reconheça como verdade o que o especialista sugeriu. de posse dessa aparante informação privilegiada, a terceira pessoa dá como encerrada aquela parte da experiência e rotula o outro com o que não é, com uma possibilidade levantada.

por isso, as terapias em geral, têm tempo certo de duração, assiduidade estabelecida antes do início do processo e, mais do que tudo, é tácito para ambos os lados, que o material sensível por ser de origem estritamente psicológica, será não exatamente secreto, nem mesmo um segredo, mas guardado entre as partes para que as conclusões sejam maturadas pelos dois, diminuindo assim, a possibilidade de uma análise errada por precipitada.

Nenhum comentário:

Marcadores

Atenção

Nada encontrado. Seria ousadia demais definir o indefinível, dizer quem sou ou se sou. Deve ser uma miscelânia de idéias entrecortadas, salpicadas de perguntas sem respostas e indecisões doloridas. O que mais poderia ser?

Em suma...

"Em suma, namorei o diabo sem ter coragem para ir até o fim"
Sartre

Arquivo do blog