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09/03/2007

eu tava falando ontem uma coisa que é meio óbvia, mas enfim... o trabalho na televisão é braçal e não artístico. porque é claro que, com a necessidade da produção contínua, não sobra espaço para investidas mais ousadas, para a experiência de propostas que tragam um cunho de criação artística. e aí eu sempre volto nessa angústia que me persegue há anos sobre o que é exatamente arte na televisão. só pra lembrar, acho ainda que o cinema não foge muito a esse paradgma, ainda que seja um solo bem mais arado.

as emissoras abertas e fechadas têm uma grade de programação fixa, procurando cada uma delas alcançar o maior número possível de aspectos cotidianos que, discutidos pelos canais, mantenham uma certa assiduidade no telespectador bem como que dêm suporte comercial que propicia sua auto-gestão.

uma tv estatal talvez tivesse uma possibilidade um pouco maior de experimentar, por captar recursos do próprio governo, desobrigando-se de uma necessidade comercial para o seu gerenciamento. mas não acontece assim, de maneira nenhuma, talvez em nenhum país do mundo porque os governos usam esses espaços na mídia exclusivamente para a divulgação das suas próprias realizações, para dar ao expectador eleitor a prestação de contas necessária (que estará siamescamente ligada à próxima eleição).

a terceira via, adotada com sucesso por televisões inglesas e alemãs entre outras, é a televisão pública, aquele que se sustenta da contribuição expontânea do próprio telespectador. dessa maneira pode o canal, superada a dependência do estado e da propaganda comercial, experimentar mais e ousar além de criar sua programação exatamente baseada no anseio do público que, afinal, paga a conta.

parece que a mais bem sucedida experiência é a da BBC de londres que conjuga produção de qualidade, atendimento ao público (patrão) e algum experimento propriamente artístico porque ele faz parte da sua obrigação para com o telespectador que não vive só de comida e amor e sim, também de arte. alguns programas da BBC (normalmente os mais acessíveis e paláveis) são vendidos para emissoras do mundo inteiro, principalmente emissoras públicas que, por não terem o retorno financeiro do seu público nativo, terminam por não ter suporte financeiro para determinadas produções.

no caso do brasil a situação é muito atrasada, muito complicada porque o conceito de televisão pública é muito novo e, mesmo assim, os canais que se propõe à empreitada, não deixam de ter uma subordinação óbvia ao governo que investe dinheiro em troca de patrocínios de empresas estatais (banco do brasil, petrobras, etc) e do próprio setor comercial que acaba sendo buscado para o fluxo caixa de caixa (que o governo não completa). os comerciais, por sua conta, pagam valores muito abaixo do mercado da veiculação de propaganda pelo baixo íncide de audiência da tv pública.

é um círculo vicioso. há alguns anos atrás, trabalhei com o presidente de uma tv pública com uma visão muito clara e otimista do panorama. tivemos várias reuniões e criamos documentos que tratavam da questão. pensamos em, por outras vias, bucar o pagamento do telespectador que teria direito a outras coisas além de pagar a tv... alguma coisa que lembrava o cartão de assinantes do globo por exemplo. ensaiamos alguns movimentos ativos nessa área, mas a mudança de governo afastou esse presidente (e aí voltamos na questão da independência que não acontece porque, no fundo, são os políticos que nomeiam os presidentes de televisões estatais ou públicas!

outras gestões de diretores de televisões públicas podem se interessar em fazer apenas uma série com público dirigido, como o menino maluquinho da TVE, mas que resultam em nada... como levar anos para produzir uma pequena série? e o resto da grade de programação? ainda que se faça uma ou outra tentativa, como programas para deficientes físicos e etc., ainda é muito tímida a proposta quando colocada em campo. o público, ao reconhecer uma programação de baixa qualidade e/ou enfadonha, retorna aos canais comerciais ou às TVs por assinatura.

e, se nem isso a tv pública brasileira consegue fazer, se busca em emissoras européias enlatados politicamente corretos para completar sua grade de programação, quiçá permitir-se, ousar pensar até no investimento de cunho artístico dos seus funcionários artistas. isso implica em outras discussões sobre a verdadeira função da mídia televisiva que é claudicante no seu todo, com alguns picos de qualidade (como a Tv Globo) pontuados em horários ditos nobres, pela geração de renda encontrada nos comerciais que, aí sim, pagam a preço de ouro, a veiculação dos seus produtos.

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