Geraldo Iglesias*

quando começo a me dividir, a deixar espaços aqui e ali, vou materializando o que de fato sou, como um espelho despedaçado. sinto prazer em escrever em espaços distintos ainda que estejam interligados porque assim dou vazão ao meu eu como ele é de fato, multifacetado, partido em sua origem, escapista não do outro, mas, antes, de si mesmo.

talvez daí venha o hábito de ler três livros ao mesmo tempo, não por uma certa erudição barata, mas porque é a forma mais simples de acompanhar várias histórias, entender que as histórias como a vida são assim, múltiplas, concomitantes, inconclusas como o fim de cada romance.

a vida é má com tudo e todos. o que acontece de fato nesse período vida é um jogo de gato e rato, onde as pessoas correm de um lado para outro, das mais variadas formas, para sobreviver e ter o rótulo escapista de 'felizes'. não o são. a felicidade seria uma proposta irreal, apenas para que lutemos e busquemos sempre nos outros, a possibilidade de nos encontrarmos, o que de fato nunca acontece. o que rola é que fingimos que vencemos num jogo que finge que aconteceu.

o que eu fiz foi assim, tratei de criar minha vida na internet através de contatos eventuais e blogs. nada mais. acordo e venho logo para o computador como o recém nascido berra para abrir os pulmões. imagino que deva existir uma análise que diga que isso é um vício, provavelmente um escapismo e sei lá mais o quê, que não me interessa em nada porque aboli do meu espírito a possibilidade de conviver com análises.