rascunho
vou ceder a tentação de, às 3 da manhã, embriagado, deixar apontamentos para (tentar desenvolver) quando eu despertar:
- persistente dor no pulmão: câncer?
- o despreparo psíquico/intelectual das lobas e mesmo das balzaquianas para a discussão crítica/comparada.
- o desgaste físico da gravação de dois programas numa sexta feira, com uma equipe extenuada e uma atriz doente.
- minha frustração intelectual
- o jogo inconsciente e, portanto, inconcluso, de sedução da minha estagiária.
- a percepção da garra profissional e da feminilidade pulsante da minha produtora.
- sob a embriaguês, a racionalidade da minha produtora (e enormemente amiga!) em me falar do ocaso feminino, apontando as jovens com todo o seu frescor próprio da idade e a busca (delas) do amparo do homem de mais idade.
- entender a profundidade genuína e arguta de nelson rodrigues ao proclamar, como máxima, de que toda mulher devia ter 14 anos.
- o debate interno (em mim) entre o frescor da ninfeta e a realidade da mulher completa.
- a minha observação mais atenta das meninas com seus imbatíveis vinte anos.
- o desbunde que um bar despretencioso da lapa pode gerar com o seu samba genuíno.
- a beleza das letras dos sambas-enredo (já vivenciados na direções de transmissões de carnaval)
- a energia do samba
- a possível sociabilidade (ainda que calcada nos excessos do álcool).
Isto posto, vamos tentar desenvolver (sem responsabilidade acadêmica) da forma confusa e desregrada comum ao meu pensamento:
- dos 73 e.mails que recebi contestando meu artigo sobre a inferioridade do pensamento da mulher, consultando-as uma a uma, 90% informaram ter mais de trinta e cinco anos. pesquisa que assusta se relacionar revolta com a idade avançada (na mulher, à partir dos 21 anos).
a mulher, à medida em que envelhece, acadêmica ou não, se apega ao tal inconsciente coletivo feminino na negação, de antemão, da discussão sobre sua própria identidade. ela reputa qualquer pensamento isolado ou em discussão, a um certo machismo, uma certa obscuridade masculina ou, em última análise, condena qualquer raciocínio contrário como raso, medíocre e ordinário (sem contrapor uma discussão de idéias!).
- a gravação de programas de televisão já foi motivo de alguns textos publicados por aqui dando conta da inviabilidade de unir a produção em massa a um projeto mais artístico.... impossível! qualquer pensamento nesse sentido será recolocar as opiniões e sentimentos expressos em outras ocasiões. acrescento apenas que, por inexperiência com o veículo e pulsão em acertar, fixação em me agradar, minha atriz está submersa num estresse profundo que se traduz em debilidade física, febre allta e consequente falência de sua possibilidade artística. talvez meu temperamento ou inabilidade no trato profissional, contra a minha vontade, esteja acelerando sua falência (preciso rever minha atitude que é, no fundo de boa vontade, aceitação e estímulo ao seu crescimento).
- minha frustração intelectual (concomitantemente à venda da minha biblioteca) se traduz pela incapacidade cognitiva (resultante de um possível surto psicológico) aliada a uma (muito conveniente) dispersão de utilização de tempo travestida de um certo excesso de trabalho, raciocínio tão frágil, hipócrita e mentiroso que é risível no próprio nascedouro.
- a estagiária é um fetiche embutido em si mesma. a menina do interior (não assumido) que faz a faculdade com a deprimente falsa idéia de que será uma jornalista, uma comunicadora, um elo da proposta teórica de uma sociedade midiática, última alternativa da verdade social com um mundo árido e carente desse elemento/pessoa(s), tropeça em si mesma, na sua ignorância social, escolar, na sua fracassada orientação de ensino básico/ fundamental e conseqüente desmoronamento emocional e psicológico que, erroneamente, se traduz numa equivocada paixão pelo seu orientador profissional.
- a minha produtora é, antes de qualquer análise, uma pessoa a que devoto uma profunda amizade, com certeza compartilhada. É uma mulher que, além da admiração por seu profissionalismo levado a extremos, me demonstra continuadamente, dia a dia, hora após hora, uma percepção rara do que contextualizo como PRODUÇÃO, aquela pessoa de profunda confiança a quem confidencio minhas propostas, anseios e necessidades. Faço tudo, como de resto sou, de forma atabalhoada, que ela, diligentemente traduz para a empresa e me retorna com o realmente viável, possível.
mas a lilian é mais: é antes de tudo uma mulher adorável, detentora no plano macro da sua condição feminina, de ser verdadeiramente mulher, amplamente mulher (talvez nem sempre plena, com certeza, por uma certa obtusidade do macho).
essa mesma amiga/mulher, me chama a atenção sobre o frescor das jovens que sambam sensualmente no entorno da minha mesa.
- Não me furto a olhar ardorosamente para as meninas que se oferecem, como cordeiros de deus, ou 'aos pés da santa cruz', meninas que trazem sem culpa o frescor da sua juventude (que todos tivemos e perdemos, assim como elas perderão). e aí tenho que parar para falar de uma certa fraqueza existencial que habita em mim.... o conflito em ter a certeza de que desejo a mulher adulta (por tudo o que ela traz em si) versus uma necessidade ambígua e certamente amparada em uma fantasia juvenil, idéia absolutamente racionalisada como frágil e tola de possuir o frescor da menina, projeto prematuro do que realmente pretendo e desejo, a mulher total.
- eu tenho um desprezo (e certo asco) por tudo o que é alcunhado de popular e, daí não escapa o samba. quando eu achei que me formei, tinha joão gilberto, tom e vinícius como referências, pouco antes de me apaixonar perdidamente pelo caetano. vivi um paradoxo do tamanho do mundo com a fusão do vinícius poeta e diplomata de encontro ao poetinha que compunha os afro-sambas com badem. o vinícius ateu que se casou com jéssica no candomblé banhado de pipoca. não consegui entender, resignando-me, como mortal, a aceitar.
hoje, no barzinho da lapa, extenuado pelo trabalho ingrato, cantei com a roda de samba, os sambas-enredo que me emocionaram desde os carnavais da manchete à partir de 84.
- como já discuti com a terapeuta (que arregala os olhos, se espanta e entusiasma com meus relatos), ocorre, muito eventualmente, sedado pelo consumo de álcool, uma certa distensão, um certo relaxamento dessa minha dita fobia social.... olhando agora o dia nascendo, não sei dizer exatamente se isso é um ganho ou um passo a mais para um certo fracasso anunciado...
(mais tarde, à tempo, vou reescrever tudo isso, negando veementemente o que agora me parece óbvio....rs)
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