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11/06/2007

Do entendimento

A questão do tempo que eu sempre falo (e estou estudando à sério agora) é fundamental, primordial para mim. Eu tenho um descontrole absoluto sobre o tempo, sobre a maneira de utilizá-lo corretamente e termino criando reviravoltas em mim mesmo e no meu entorno e fico devendo obrigações (nunca totalmente cumpridas!) para todo lado. Já escrevi aqui que passei quatro dias em casa e não produzi absolutamente nada do que tinha que produzir e agora chega a cobrança. É muita coisa para escrever e muitos livros para ler e a correspondência e não sei mais o quê.

A internet é um complicador necessário porque parte do trabalho que faço é em função dela, mas ela mesma, por outro lado, me distrai, me afasta de outras coisas que são igualmente prioritárias. Acho isso desesperador, essa minha falta de controle. O que me falta é esquizofrenia. Imagino que seja fundamental ter uma atitude esquizofrênica diante da vida onde possamos ir fazendo e falando coisas diferentes para cada um dos lados que nos dirigimos, tudo ao mesmo tempo e partindo desse mesmo eu.Dizer à cada pessoa aquilo que ela deve escutar, fazer as críticas necessárias aos roteiros de gravações, as correções óbvias nos verbetes da wikipédia que não param de chegar, escrever o texto destinado a mim mesmo e um outro (outro? outros!) para os espaços com que me comprometo.

Porque viver é mais do que ir à boate ou ao cinema, é, antes de tudo, comprometer-se seriamente consigo mesmo e depois cumprir aquilo que se propôs. Não fazer isso, que é básico, é não fazer nada, estar morto em vida, circular como um zumbi por vários lugares mas estar vazio. Porque é o seguinte: somos mais ou menos como baterias e nos descarregamos facilmente. Se o espírito não é recarregado, se a alma não percorre novos caminhos o corpo não acende a lâmpada existencial. Sem essa lâmpada, torno-me o nada, o renegado de mim mesmo que não fui capaz de buscar em mim, nesse eu que se acredita soberano, a matéria de renovação pródiga. Falta poesia e sem poesia o homem morre. É engano achar que a poesia é matéria apenas de poetas. O homem comum, medianinho, deve carregar em si uma explosão poética que torne relâmpago o encontro fortuito que se esconde em cada esquina.

E se estou estudando agora e aprendendo que o tempo é composto, “é uma realidade encerrada no instante e suspensa entre dois nadas” (Roupnel) e que os instantes são únicos, não se emendam uns aos outros para fazer “um todo”, enfim, se entendo esse raciocínio primário, busco em mim a solução que vem a ser o desafio do paradoxo. Se não perceber esse momento, não alimentá-lo e, se possível, acrescentar coisas a ele, estou involuindo a um fundo de poço meu, fantasmagórico por excelência e frágil o bastante para não me permitir dirigir um programa educativo ao mesmo tempo em que dialogo comigo mesmo sobre a metáfora proposta por Calvino que li na madrugada anterior.

E quando a menina resolve ler ao mesmo tempo os livros de Sartre e Camus que emprestei o que ela está provocando é uma incapacidade de compreensão em si mesma que desemboca afirmando a mim estar adorando, prova de que não está apreendendo e precisa de orientação mais severa. Então, se não sou um homem que se dilacera, serei incapaz de explicar a diferença entre os dois, normatizar o estudo dela, filmar as cenas para a televisão e reavaliar o paradoxo (será mesmo um paradoxo?) de Calvino.

Finalmente, dessa forma não estou me desconstruindo, matéria fundamental para qualquer passo adiante, estou mantendo-me numa linha que segue em frente, mas por inércia, jamais com a ilusão poética (e verdadeira!) necessária para que eu seja muitos em um só, não por capricho, mas porque quando não se é “muitos” dificilmente se chega a ser um.

(retirado do Pós Sobretudo de Lona)

Um comentário:

Anônimo disse...

Quando voc~e fala de administrar o tempo, ou n�o..rs de querer fazer tudo e , e n�o conseguir fazer nada. Lembrei do Pessoa (como �lvares de Campo) : " Multipliquei-me para sentir,/para sentir,precisei sentir tudo/transbrodei-me,n�o fiz sen�o extravasar-me/despi-me,entreguei-me" e senti saudade do tempo em que eu te atrapalhava..te roubava o tempo rs

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Nada encontrado. Seria ousadia demais definir o indefinível, dizer quem sou ou se sou. Deve ser uma miscelânia de idéias entrecortadas, salpicadas de perguntas sem respostas e indecisões doloridas. O que mais poderia ser?

Em suma...

"Em suma, namorei o diabo sem ter coragem para ir até o fim"
Sartre

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