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02/09/2007

Perseguindo coisas demais

Tem essa coisa da gente ficar se virando para cá e para lá, buscando aqui e ali conforto para o espírito. Esse "espírito" é nosso maior cobrador, quem exige de nós o tempo inteiro uma atenção desmezurada, dessas que não dispensamos a ninguém nem vice e versa. O que resulta é a inquietude e um certo sofrimento ou impressão de não realizar o que era para ser. Mas o que era para ser? Pois se, à cada momento, eu digo a mim mesmo que era para ser assim ou assado e momentos depois eu desdenho dessa opinião e busco uma outra, inversa... Porque essa coisa de viver plenamente é exatamente a opção pela busca, pelo distante, pelo que deve ser alcançado. Digo a mim mesmo o que deveria ser dito a um e a outro, o que digo em reuniões porque, na verdade, sou instrutor de mim, oriento meus passos para adiante e percebo em mim um atraso, uma distância entre o que é e o que deve ser. Não me concretizo porque esse "estado concreto" engessaria minha alma, daria fim a todos os meus desejos, à minha curiosidade pela vida, pela Terra e pelas pessoas. Não tenho nada em mim a não ser essa curiosidade inquietante que me repete sempre a necessidade do passo adiante, do contato com essa ou aquela pessoa, o entendimentos dessa ou daquela filosofia (embora elas me desapontem quando percebo uma outra). Vou assim, ao pulos com sofreguidão, entregando minha vida ao tempo na certeza de que ele, impassível, ri de mim (como deve rir de todos) conhecedor da alma humana em sua certeza absoluta que nada vai se concretizar.


Não sei quantas vidas precisaríamos para que pudéssemos finalmente relaxar e considerar que conquistamos tudo o que era para ser conquistável. Quantas vidas? Três, Dez? Trezentas? Imagino que nem a eternidade é suficiente para o homem já que ele não percebe que, dentro da sua finitude, é eterno na medida em que ocupa todos os espaços da sua vida. A teoria então é que a vida é a eternidade, que é indiferente viver quarenta ou duzentos anos porque nesse espaço de tempo fazemos sempre as mesmas coisas, tratamos igualmente de todos os assuntos, trabalhamos, estudamos, constituímos família, etc. Um homem, aos oitenta anos, se lhe fossem dados mais cem anos de existência faria a mesma coisa: estudaria mais, iria ler mais livros e constituir mais famílias, tudo sempre rigorosamente igual, tudo caminhando para uma mesma direção que é o fim. O desejo do imortal é a morte. O imortal trabalha assiduamente, tenazmente para concluir toda a sua missão e morrer. Se não morre, começa novamente as mesmas atividades, esperando que dessa vez, ao final, deixe de existir.



Os livros da minha estante que se escondem de mim estão fazendo exatamente isso: colocando-me ansioso em sua busca para ler o que já foi lido, para refazer o que foi feito, talvez mudando algumas anotações de pé de página que, do ponto de vista do universo, são irrelevantes. Como irrelevante é o conhecimento demasiado porque se acaba não tendo onde aplicá-lo e faz com que nos tornemos pessoas insuportáveis. Como uma pessoa que é simplesmente insuportável e boa parte desse gênio infeliz vem de um certo número de títulos universitários que conquistou. Quando ela vai tomar banho e se vê nua no banheiro, sente o mesmo (ou talvez bem mais) sofrimento de quem não tem tanto, mas é bacana e blá. Ou o milionário que sabe ser totalmente sozinho, que suas companhias existem apenas por interesse, o famoso que se beneficia exclusivamente pela fama, o doente que recebe algum afago exclusivamente por ser doente, a prostituta condenada a não gozar...Continuo depois.

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Nada encontrado. Seria ousadia demais definir o indefinível, dizer quem sou ou se sou. Deve ser uma miscelânia de idéias entrecortadas, salpicadas de perguntas sem respostas e indecisões doloridas. O que mais poderia ser?

Em suma...

"Em suma, namorei o diabo sem ter coragem para ir até o fim"
Sartre

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